terça-feira, 11 de abril de 2017

Ética em jornalismo (a propósito do caso Sherazade/Gentilli)



        
Modéstia às favas, para falar sobre esse assunto muita gente deveria falar primeiro comigo. Senão, vejamos: Assim que comecei a trabalhar em jornal li uma frase atribuída a Roberto Marinho: “Não temos amigos a ajudar, nem inimigos a prejudicar. Temos fatos para noticiar”. Não importa quem disse isso, mas estava cheio de sabedoria. E eu resolvi que pautaria minha carreira pela ética. Claro que errei algumas vezes, mas o tempo foi me ensinando e eu fui apurando o meu comportamento profissional. Vejam algumas das atitudes que tomei (e tomaria outra vez):

         1 - Por não concordar com a absurda demissão de uma colega, pedi demissão também, que foi aceita. Arrependimento? Nenhum.


         2 – Ao saber que uma colega seria demitida por minha causa, pedi que me demitissem no lugar dela, pois me sentia culpado por tê-la induzido a erro. O patrão não demitiu nem a mim nem a ela, e passou a me respeitar mais e ficamos grandes amigos.

         3 - Estava desempregado e me foi dada uma nova chance no jornal em que trabalhei. O irmão do dono do jornal agrediu um colega que cobria um baile de Micareta. Todos na Redação exigiam que a diretoria nos desse explicações e garantias para continuar trabalhando, mas o editor foi intransigente e disse que não haveria explicações. A minha primeira voz foi para que fincássemos pé na redação e de lá só arredássemos após a diretoria nos dar ouvidos. Meus colegas não aceitaram e decidiram por uma greve, que, mais tarde vim a saber, já estava planejada. Alguns já estavam com empregos garantidos em outros veículos, e outros furaram a greve, inclusive o safado que apanhou. Eu, que peguei o bonde andando, fui o único demitido sem ter pra onde ir, embora tivesse passado toda a Micareta negociando um “armistício”, enquanto os demais caiam na farra. Algum arrependimento? Nenhum. Faria tudo outra vez, até porque passei a conhecer melhor meus colegas.

          4 - Um radialista havia “tomado de assalto” a chefia das Relações Públicas da Prefeitura, onde Maura trabalhava, e começou a sacanear os colegas, inclusive ela. Quando o prefeito soube que Maura era minha mulher, me ligou para me dizer que estava tudo bem, porque eu estava “no esquema dele”. Minha resposta: Prefeito eu não estou nem no seu esquema nem no esquema de ninguém. Se quiser pode demitir ela. Trabalho não nos falta.

         5 – Os taxistas fizeram manifestação em frente à Prefeitura. O editor do jornal chegou à redação “botando fogo pelas ventas”, porque os manifestantes o tiraram de dentro do taxi em que estava, pois queriam paralisar o serviço. Ele me mandou cobrir o movimento recomendando que eu desse “um pau” nos taxistas. Quando apurei os fatos, os taxistas queriam que o prefeito recebesse uma comissão para que eles expusessem suas reivindicações. Intransigente, o prefeito sequer deu ouvidos às ponderações do comandante da guarnição policial, o então Sargento Adelmário Xavier. Noticiei o que vi e o Editor não gostou, reclamando que eu não fiz o que ele mandou. Minha resposta: mande outro repórter porque eu não sei mentir. O outro foi e escreveu tudo que ele mandou. Inclusive, afirmando que os taxistas estavam “mascarados” para não serem reconhecidos”, isso porque, ao ver uma bomba de gás na mão do sargento, um taxista amarrou um minúsculo lenço na cara que mal cobria o seu nariz. Há muito mais estórias como essa que eu poderia contar, mas não vale a pena revolver esta lama. Cada um vive sua vida de acordo com suas escolhas e arcam com as consequências. Eu fiz as minhas escolhas e não me arrependo de nenhuma.


         Resumindo a ópera, eu sempre fiz o que me mandaram fazer, afora quando me pediram para contrariar os meus princípios e prejudicar alguém, seja quem fosse. Sherazade e Gentilli usaram do cargo para atacar desafetos e manifestar suas preferências políticas. Isso é antiético. Deus me deu o raro dom de reconhecer os defeitos das pessoas que amo e as qualidades de quem me odeia. Me importa apenas a coerência entre o que penso, digo e faço. Mas não posso exigir isso de ninguém. Apenas dar o exemplo. Siga-o quem quiser.

Nenhum comentário: