quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A banda que toca heavy metal em tupi-guarani




Notas suaves de viola e um chocalho tocados por homens com corpos pintados fazem fundo para uma canção em tupi-guarani. O som se propaga pela floresta enquanto os integrantes da banda Arandu Arakuaa parecem em transe em um de seus videoclipes.
Mas o clima de paz dura pouco. Instantes depois, a cantora de voz angelical solta um longo vocal gutural (de tom grave e rouco) e chacoalha sua cabeça enquanto seus cabelos acompanham o movimento no ar. Guiado pelas batidas de tambores indígenas, viradas frenéticas de uma bateria de dois pedais e uma sequência de riffs de guitarra compõem um som pesado. 

A Arandu Arakuaa (Saber do Cosmos, em tradução livre do tupi antigo) é a primeira banda heavy metal a cantar na principal língua indígena brasileira. Mas a vida não é nada fácil para os integrantes da banda dentro da cena do metal.

Preconceitos
O fundador, Zândhio Aquino, disse que chegou a fazer parte de algumas bandas em Brasília após deixar sua cidade natal no Tocantins, mas saiu de todas porque não conseguiu incluir a temática indígena em nenhuma delas. "Eu cheguei em 2005 depois de me formar em pedagogia na federal do Tocantins, mas só três anos depois eu decidi fundar minha própria banda. Foi um processo muito longo e só em 2011 a gente chegou à formação que mantemos até hoje", conta.
Mesmo com um público fiel e certo espaço no mercado, Zândhio conta que a banda ainda é questionada com frequência por outros metaleiros. "Encontrei resistência desde o início por causa da minha origem e meu compromisso de falar da cultura indígena. Muita gente não entende isso e acha que fugimos demais da essência do estilo", afirma. Ele conta que até mesmo seus fãs sofrem essa resistência.

Negro, mulher e nordestinos
Mas a banda Arandu não foge dos padrões dos metaleiros apenas musicalmente. Ela também é considerada exótica por usar cores claras, em referência à floresta, e terem integrantes "fora do padrão".
"O forte da nossa vocalista é o gutural, uma técnica agressiva incomum para mulheres. Eu canto como um pajé, com voz mais rouca, e ainda temos um baterista negro. Além de mim, que nasci no Norte e sou descendente de índios, temos integrantes filhos de nordestinos. Tudo isso gera uma série de questionamentos por fugir do padrão do branquelo cabeludo", conta Zândhio.
Por outro lado, ele afirma que gosta dos questionamentos e debates gerados por essa singularidade da banda. "Mas é uma via de mão dupla porque ao mesmo tempo em que as pessoas vão achar original, por outro há pessoas muito conservadoras ou que não têm ouvido musical para isso", afirma.

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