“Teve
pena da rolinha que o menino matou/mas depois que torrou a bichinha e comeu com
farinha, gostou”. Os fãs de Gonzagão conhecem bem esta canção onde retrata a
hipocrisia humana usando elementos sertanejos. A “Rolinha” é uma ave
columbiforme, de carne muito saborosa que abunda no sertão nordestino. As
rolinhas são caçadas, principalmente por crianças, usando badogue (bodoque) ou
através de armadilhas como alçapões e arapucas. Por ser uma ave silvestre,
matar ou aprisionar uma rolinha é crime ambiental inafiançável. Eu
pessoalmente, sou contra aprisionar ou matar aves silvestres para
comercialização, mas, matar para comer está nos genes do ser humano desde
tempos imemoriais.
Os humanos primitivos caçavam e
matavam animais para se alimentarem. Era uma questão de sobrevivência, e os
humanos estão no topo da cadeia alimentar. É uma lei natural. Com o passar do
tempo aprendemos a criar animais para o nosso consumo, sem termos que sair em
caçadas sempre incertas, correndo o risco de passar fome. Hoje criamos gado,
aves, peixes, e garantimos o alimento de cada dia sem muito esforço ou risco, e
ganhamos tempo para outros afazeres. Mas a caçada está na nossa natureza, no
nosso instinto ainda primitivo. Daí que, existem a caça e a pesca esportivas. O
peixe se pode devolver à água, os outros animais não podem ser devolvidos à
natureza, porque são abatidos no campo ou no ar. Daí que os países
desenvolvidos, instituíram regras para a caça esportiva. O Caçador tem que ser
cadastrado no departamento público adequado, ter licença e porte de arma
registrada, e só pode abater animais na época adequada e em quantidades
permitidas. Quem infringe essas regras paga pesadas multas e podem perder a
licença. Mas, isso é coisa para país civilizado, e não semisselvagens como o
nosso.
Eu mesmo já fui um caçador, mas,
quando percebi a matança indiscriminada e a devastação que se promovia no
sistema ecológico, parei e nunca mais cacei. Mas a matança continua, sem lei e
sem regras, dizimando espécies, desequilibrando os sistemas ecológicos. Um
fazendeiro amigo meu alertava ao seu colega caçador e também fazendeiro: “Não
mate nem deixe que matem perdizes em sua fazenda”. Ele explicava as razões, mas
o colega fazia pouco caso das suas ponderações. Um dia ele acordou na fazenda e
quando chegou na varanda seus pastos pareciam ter recebido ventos de fogo. O
capim estava todo amarelado, como se fora queimado. Uma praga de Cigarrinhas,
um inseto que se instala na raiz do capim e suga toda sua seiva, estava
acabando com as pastagens. A Perdiz, que tem um bico alongado, é uma das poucas
aves que conseguem perfurar o solo e pegar a Cigarrinha na raiz do capim.
Como tudo na vida, é só uma questão
de equilíbrio. Na África, proibiram matar elefantes por conta do tráfico de
marfim que estava dizimando os animais. Mas, não demorou muito e em alguns locais
eles se reproduziram tanto que as manadas estavam devastando plantações e até
invadindo aldeias e cidades. Foram obrigados a regulamentar a caça para
controlar a densidade populacional de elefantes. Aqui no Brasil, o então
governador do Amazonas, Amazonino Mendes, procurou o ministro da pasta
responsável pelo Meio Ambiente e se queixou: “Excelência, o caboclo já aprendeu
que não deve comer os jacarés. Mas agora vocês precisam dizer aos jacarés que
eles não podem comer os caboclos”. A sua ironia se referia ao fato de que a
população de jacarés havia aumentado de tal maneira que agora eles ameaçavam as
populações ribeirinhas. Equilíbrio e bom senso são ótimas ferramentas para se
tomar decisões.
Foi o que parece ter faltado ao juiz
que proibiu as vaquejadas no Brasil. Vaquejada é um esporte enraizado na
Cultura Nordestina que gera milhares de emprego e movimenta milhões de Reais.
Há toda uma estrutura montada na indústria, no comércio e no setor de prestação
de serviços só para atender a este esporte. Além dos animais, há construção de
pista, arreios, rações, medicamentos, veículos específicos, comercio de roupas
e brindes, bares, restaurantes, uma infinidade de negócios que investem milhões
na mídia especializada. Aí, aparece algum afrescalhado (a), que se reúne com
outros cabeças bufadas como eles, e denunciam os maus tratos para com os garrotes
e novilhas utilizados nas Vaquejadas. E o insensato, demonstrando não ter
conhecimento algum sobre o assunto, simplesmente resolve proibir o esporte em
todo o território nacional.
Vamos raciocinar: Farra do Boi é
violência contra o animal? É. Assim como briga de galo, de canários, de cães, e
tantos outros esportes violentos. Box, Luta livre, e afins, também são esportes
violentos, envolvendo humanos, e nem por isso são proibidos. Vaquejadas, esse
esporte tão nacional, tão querido pelos sertanejos, só causa sofrimento ao
animal (há risco tanto para o boi, quanto para o cavalo e os cavaleiros) em
caso de acidente, e disso ninguém está livre nem dentro de casa. É só correr
com o cavalo atrás do boi, e derruba-lo puxando o seu rabo dentro de uma faixa de
areia fofa, da onde ele se levanta andando sem sofrer dano algum. E caso haja
um acidente, há toda uma estrutura médica montada para atender àquele que se
machucar, seja boi, cavalo ou cavaleiro. Onde estão a violência e os maus tratos.
Saindo dali os animais vão para suas baias ou cocheiras onde são tratados a
pão-de-ló, descansando até a próxima vaquejada.
O meu colega, jornalista Levi
Vasconcelos, disse em sua coluna, que talvez chegue o dia em que os humanos não
mais comerão carne, e aí não será necessário caçar ou criar animais para o
abate, e devorá-los em finos pratos nas suas mesas. Estes defensores dos
“direitos” dos animais, poderiam deixar de comer carne, só por coerência. Mas,
vai ver, só conhecem galinha de supermercado e carne de boi resfriada e
despostada. Deveriam ir a algum desses abatedouros para ter a idéia exata sobre
a comida que chega às suas mesas.
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