Você é daqueles que sempre preferem um
suco de fruta a uma latinha de refrigerante? Não adianta fazer a troca
se você tiver a mão pesada na hora de adoçar – ou o costume de exagerar
na quantidade. Afinal, o consumo diário de bebidas açucaradas, quer
sejam elas refrigerantes ou refrescos naturais, pode elevar seu risco de
desenvolver vários tipos de câncer.
Foi
o que concluiu um estudo extenso, feito por pesquisadores franceses,
que acompanhou 101.257 pessoas (78,7% eram mulheres) entre 2009 e 2018. A
pesquisa foi publicada na revista científica BMJ
na última quarta-feira (10), e é uma das primeiras a traçar uma relação
direta entre consumo de bebidas doces e surgimento de câncer.
Todos
os participantes do estudo eram maiores de idade, e tinham, em média,
42 anos. No começo do levantamento, eles responderam questionários sobre
seus hábitos alimentares a fim de mapear as fontes de calorias diárias
do grupo. A cada seis meses, eles respondiam novamente as mesmas
perguntas.
A
lista de itens considerados no estudo incluía 109 bebidas açucaradas ou
adoçadas artificialmente – sucos de fruta diversos, refrigerantes,
xaropes, refrescos, bebidas adoçadas quentes, chás, cafés, bebidas à
base de leite, isotônicos e energéticos. Foram consideradas “adoçadas”
bebidas que continham mais de 5% de açúcar em sua composição, além de
sucos 100% naturais – sem nenhum açúcar extra e, portanto, só com o doce
natural da fruta. Várias versões de suco de fruta in natura superam essa margem. Um copo de suco de uva, por exemplo, tem 14 g de açúcar. No de maçã são 10 g e no de laranja, 8 g.
Ao longo dos nove anos de análise, os
pesquisadores detectaram o surgimento de 2.193 novos casos de cânceres –
sendo 693 de câncer de mama, 291 de câncer de próstata e 166 de câncer
colorretal. Na maioria dos casos, os tumores se manifestaram por volta
dos 58,5 anos.
Em média, homens consumiam 90,3 mL de bebidas adoçadas todos os dias,
contra 74,6 mL das mulheres. A partir desses valores, estimou-se o
quanto o consumo poderia influenciar no surgimento de algum tumor.
A
pesquisa concluiu que, a cada 100 mL de aumento no consumo diário de
bebidas açucaradas, a chance de que uma pessoa sofra de câncer aumenta
em 18%. Ou seja: quem tomava 190 mL (quase um copo americano) de refri
ou suco adoçado todo dia teve 18% mais chances de desenvolver um tumor
do que quem estava na média (até 90 mL). Esse risco é ainda maior no
caso do câncer de mama e, para os pacientes considerados no estudo,
chegou aos 22%.
Não
se sabe ao certo qual o mecanismo fisiológico que explique o fato de as
bebidas açucaradas terem relação com o surgimento de cânceres. É fato
que uma dieta repleta de açúcar pode contribuir para a obesidade – o
que, por tabela, amplia o risco de que alguém desenvolva até 13 tipos de câncer. Mas essa relação, de acordo com a pesquisa, não conta a história inteira.
Segundo os autores, a explicação pode
estar na formação de depósitos de gordura visceral – localizada junto
aos órgãos internos – e que pode facilitar a formação de tumores. Não é
preciso, necessariamente, estar drasticamente acima do peso para que
alguém apresente índices de gordura visceral maiores que o recomendado.
Outro
fator considerado pelos cientistas é que níveis altos de açúcar no
sangue podem provocar reações inflamatórias no organismo, resposta que
facilita o desenvolvimento de tumores.
Ainda
que o açúcar seja o fator mais determinante na conta, os cientistas
pontuam que outros componentes químicos podem ter sua parcela de culpa.
Um exemplo, segundo consta na pesquisa, é o 4-Metilimidazol, um dos
produtos da degradação do do corante Caramelo IV – usado em
refrigerantes a base de cola e energéticos.
“Estes dados mostram a importância das recomendações nutricionais em relação ao consumo de bebidas açucaradas, incluindo os sucos 100% à base de fruta, assim como outras ações, como impostos e restrições de propaganda para essas bebidas”, escrevem os pesquisadores.
Antes que você, leitor, risque qualquer líquido com o menor traço de
açúcar da dieta, vale lembrar que o surgimento de cânceres pode estar
ligado a diversos fatores que não a alimentação. Entram na conta
poluição, prática de atividade física, tabagismo e predisposição
genética, por exemplo. Você pode ler o estudo completo neste link.
Fonte: Super Interessante
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