sexta-feira, 13 de abril de 2012

UM TOQUE DE VIDA

Por Madalena de Jesus
 
Tudo na vida dela foi intenso. Da alegria à dor. Da ingenuidade diante da maldade humana à generosidade que a levava a dar até o que não possuía. E quando a questão era amar... Ah! Ela levava tudo na frente, porque o seu amor também não tinha medida: pelos filhos, pelos parentes, pelos amigos, pelo próximo, pela vida.

Cida era, sobretudo, vida. E demonstrava isso no falar, no dançar, no vestir. Se fosse flor, certamente seria um girassol, espalhando brilho e cor para todos os lados. Talvez um girassol roxo ou lilás, rosa choque ou verde limão. Impossível? Não para ela, que tornava reais as coisas mais inverossímeis e fazia realizar os mais estapafúrdios projetos.

Mas de todas as características da jornalista que tinha pena até de família de bandido morto a mais forte em minha lembrança é a segurança. Sabe aquela pessoa que parece ter certeza absoluta de tudo, mesmo quando o medo era iminente e todas as probabilidades de algo dar errado eram bem visíveis? Ela fazia de conta que não estava vendo e seguia em frente. Sempre.

Foi assim, por exemplo, quando sua irmã Zefa partiu para outra dimensão e no meio da dor de perder alguém tão querido, ela decidiu adotar seus dois filhos. Assim, na hora, sem maiores questionamentos. Não houve um momento sequer de dúvida, porque para Cida nunca existiu dúvidas quando a questão era fazer o bem, ajudar, compartilhar, dar.

Mais do que colega de profissão – e com muito orgulho – amiga e comadre, Cida foi minha parceira de vida. E suas últimas palavras, na assustadora lucidez de nosso último encontro, foram “se cuide”, uma prova inequívoca de que ali, no leito do Hospital Dom Pedro de Alcântara, estava viva – como permanecerá para sempre – a sua essência.

Aceitava todos, sem restrições. No meu caso, mesmo quando algum palavrão escapulia da minha boca, por mais que eu evitasse falar diante dela. “Minha comadre fala essas coisas com tanta naturalidade...” Apenas um comentário, sem nenhuma reprovação. Também não era dada a cobranças, a não ser que nós, os amigos, estivéssemos sempre por perto.

Eu poderia contar casos e mais casos de nossas viagens quando trabalhávamos na Gazeta de Notícias e na Revista Panorama; de nossa convivência diária no Jornal Folha do Estado e na Secretaria de Comunicação Social (Secom); ou mesmo no dia a dia de nossa convivência. Éramos comadres no mais profundo sentido da palavra.

Cida não teve filha. Somente meninos, um dos quais dividiu comigo a maternidade, permitindo que eu fosse responsável por dar a Victor o primeiro sacramento, o Batismo. Talvez isso justifique o imenso amor que desenvolveu por Bárbara, a quem chamava de princesa e tinha orgulho e carinho de uma verdadeira mãe.

Aliás, ela era mesmo meio “mãezona” dos sobrinhos, das crianças que moravam por perto e dos filhos dos colegas jornalistas. Tanto que criou o bloco “Zerinho”, que este ano completaria 21 anos de avenida, para a alegria da garotada. Não foi à toa que a última edição do bloco que ela produziu o tema foi “Mulher Maravilha”.

Enfim... Mais uma vez ela surpreendeu e nos deixou meio que abobalhados diante do fim de uma luta que acreditávamos que seria vitoriosa, pela fé que emanava dela. Resignada, não reclamava jamais. Determinada, não desistia nunca. E até o fim manteve acesa a chama do que a movia e fez dela uma rainha entre nós: o amor pelas pessoas.

Cida foi a melhor pessoa que já conheci nesses 54 anos de vida. E digo isso sem medo de ser piegas, porque é a mais pura verdade. Senti isso bem de perto muitas e muitas vezes, principalmente durante o período que mantive no ar seu programa – ou melhor, seu projeto de vida – “Um Toque de Mulher”, que para mim representou “Um Toque de Vida”. Eterno, como ela.

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