quinta-feira, 14 de julho de 2016

Estamos fazendo as escolhas certas?


O começo de romance mais perfeito que conheço está em Anna Karenina, de Tolstoi. Ele diz: todas as famílias felizes são iguais; as infelizes, cada uma é ao seu modo.
As avaliações mostram que as doenças comportamentais crescem vertiginosamente. Os CAPS estão com fila, a geração tarja-preta é o simbolo desta pós-modernidade. E, de repente, vai tudo ficando frágil: os valores, as escolhas, a ética, as amizades, o profissionalismo. A família, por sua vez, tornou-se uma vítima sem trégua da militância dos costumes que pretende dizimar sua existência pela salutar força conservadora que exercem e por muitos que a partir da incapacidade de obtê-la tentam sonegá-la para todos.
Assim vamos construindo uma descartabilidade e indiferença que são destrutivas, pois nada mais somos que um atávico bando ancestral, com suas necessidades de referencias, confiança, agregação.
Ao fragilizarmos a interface com o outro tentamos construir em vícios, discursos desconstrutivos, posses temporárias, aditivos, uma porta de saída e de validação do processo. E este rompimento, esta desagregação continua, cotidiana, sistemática, está cobrando um preço caro e impondo uma permanente insatisfação.
Aliado a isto, estamos presos, cada vez mais, a uma certificação da existência por valores externos, universalmente socializados em rede, em uma busca insaciada, ilimitada, exibicionista, precária, em nome da qual pratica-se tudo para sua obtenção.
A verdade, é que a impermanência é violenta, a desconfiança permanente erosiva e a incerteza total um risco além dos suportável.
Não podemos permanecer nesta escalada de aniquilamento individual e de valores sob o risco de acabarmos em uma guerra real que resignifique o que deveriam ser nossas escolhas. Se sobrar alguém, é claro.

A tolerância e a tragédia da Sales Barbosa
A longevidade no poder, 16 anos no caso de Feira, do DEM, tem vantagens e desvantagens. Fica-se com o lucro dos acertos, mas não se tem culpados para terceirizar os erros. É assim na eterna discussão sobre a ocupação do centro da cidade, de forma desordenada, por barracas em que o governo municipal é o principal responsável pela situação a que chegamos.
Agora, um outro incêndio nas proximidades da Sales Barbosa trouxe novamente a discussão para o centro das atenções.  A tragédia, que poderia ter sido ainda maior, retrata o potencial destrutivo que a tolerância impôs àquela região. 
Eleição após eleição, mandato após mandato, o governo municipal promete uma solução definitiva para o caos comercial e lá se vão quatro mandatos. A última proposta era um Shopping Popular, pago, que atravessou os quatro anos sem sair do papel e, entre disputas jurídicas e adiamentos, segue sem sair do chão. Enquanto isto o comércio informal vai se expandindo e as soluções se defasando.
Em entrevista, o Secretário Borges Junior, disse a Glauco Wanderley, no seu programa na Jovem Pan, que a situação precisa de decisão e enfrentamento. O problema da longevidade é que qualquer comentário sobre algo que não aconteceu torna-se autocrítica, pois faltou ao governo foi exatamente decisão e enfrentamento.
Há a resistência dos camelôs embora lhes falte uma proposta atrativa, o populismo oportunista da Câmara, o “faz de conta que não viu”, do Ministério Público (diante do risco terrível de vida que representa um incêndio naquela rua e o desrespeito a vários Estatutos) e o “empurra com a barriga”, do governo municipal, que preferiu apostar na falta de cobrança incisiva. E para isso conta com certa passividade dos comerciantes e da própria sociedade.
O exemplo de ACM Neto, em Salvador, que melhorou substancialmente o caos que era a Avenida Sete de Setembro e o Largo de São Pedro, é um exemplo de que é possível encontrar soluções com decisão e negociação.
Esperemos que mais este sinal de alerta acelere as ações municipais na busca de resolver a ocupação desordenada, sem esvaziar o centro comercial - embora o período de eleições sugira que nada será feito. E que o pudor impeça nova onda de promessas no programa eleitoral.

Casarão dos Olhos D’água
Esta Tribuna sempre foi permanente defensora do patrimônio cultural e meio ambiente de Feira e a preservação do Casarão foi pauta permanente no suplemento cultural - Tribuna Cultural - que publicávamos.
Apesar das dúvidas históricas a seu respeito, é, sem dúvida, a marca de um estilo e esteve ligado aos fundadores da cidade. Assim, a notícia de que a prefeitura vai montar ali um Museu do Vaqueiro, após acordo com a família Pedra, é extremamente positiva, pelo seu potencial educativo e de manutenção de uma origem e história que não deve ser renegada. Ponto para José Ronaldo.

Projeto de lei para a Saúde
Por um projeto de lei que obrigue toda Unidade de Emergência ou Hospital Público, municipal ou estadual, a ser equipado com suporte mínimo de atendimento que inclua: ambu, laringoscópio, aspirador, desfibrilador e respirador básico. Sim, acreditem, não há. Às vezes, nem laringoscópio.

Justiça em maus lençóis
O dilaceramento judicial é evidente.  Sentenças controversas, processos engavetados, comprometimento de Aroldo Cedraz,  presidente do Tribunal de Contas da União; de Francisco Falcão,  presidente do STJ, e, mesmo no STF, ligações e afinidades partidárias que parecem maiores do que as adequadas a uma Corte Suprema.
Ao lado disto, advogados que passam a ser investigados como réus, desembargadores produzindo sentenças que contrariam tribunais, com velocidade surpreendente ao mesmo tempo em que é investigado por peculato e formação de quadrilha.
No Paraná, de onde saem os maiores avanços do Judiciário no combate à impunidade, com Moro e equipe, eis que um grupo de juízes e procuradores processa de forma orquestrada um jornal que revelou seus rendimentos, o que é garantido pela Lei da Transparência. O melhor e o pior da Justiça se manifestam no mesmo estado. 
Enfim, no caldo geral, esperamos que o lado bom da lei, justo, e não persecutório, domine o Judiciário brasileiro, pois ele tem uma missão gigantesca a cumprir. 

Temer, o rodapé e a história
Assim como sabemos que escândalos como o petrolão e o mensalão em sua extensão, duração e devassidão, jamais poderiam ocorrer sem o conhecimento de Lula e Dilma, do mesmo modo, é evidente que a corrupção do PMDB não poderia ocorrer em sua extensão, duração e devassidão - que inclui Sarney, o honorável bandido e mais longevo suspeito de corrupção nacional - sem o conhecimento de Temer.  Se não sabia, mostra que é um inepto e não pode ocupar a Presidência.
A verdade é que Temer é apenas o mal necessário, a ponte, para o afastamento do PT e sua contabilidade destrutiva e saque geral da nação. Entretanto, está longe do estadista que esperamos e que ele imagina ser. Verdade que, pelo nível intelectual, tem melhor compreensão da liturgia do cargo, mas sua tentativa de salvar o gângster Eduardo Cunha, a nomeação de amigos-bandidos, alguns derrubados pela Lava-Jato, outros na lista de espera, e sua irresponsabilidade ao aumentar as despesas públicas em um momento de recessão e déficit do orçamento, estão se tornando um preço muito caro a ser pago.
Ou Temer dá uma guinada, após o fim da interinidade, aproveita o imenso potencial da equipe econômica, as boas ações de Serra nas Relações Exteriores, a corretíssima aprovação da Lei de Responsabilidade das Estatais, a liberação dos aviões da FAB para transporte de órgãos, os lentos sinais de recuperação da economia, ou, entre a ambição de entrar para a História e o confinamento ao rodapé da página, acabará neste.


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