sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Ser jovem é saber envelhecer?



     
Falando por mim, eu responderia que sim. Porém, para envelhecer feliz precisamos da solidariedade, compreensão e ajuda dos familiares e amigos. É verdade que afora o problema com a visão, de resto eu gozo de boa saúde, enquanto que muitas pessoas sofrem de diversas moléstias ou se quer chegaram aos sessenta anos. Eu vejo, porém, que muitos dos que chegaram a terceira idade não estão vivendo felizes.
         As razões são várias. Desânimo, isolamento, falta de incentivos e motivações, depressão, e muitos outros sentimentos causados pelo fato de não saber envelhecer ou não se conformar com a velhice. Velhos são chatos. São cheios de manias, vivem a dizer que tudo que era bom era no seu tempo, são repetitivos vivendo a contar histórias das suas aventuras, façanhas e conquistas. E porque não falam a mesma língua dos jovens, são solenemente ignorados pela maioria deles.
         O que é preciso para ser feliz na terceira idade? Respondo por mim. Ocupação, dentro das minhas capacidades, para manter minha cabeça ativa e que me dê prazer. Companhia de amigos, da minha idade ou mais jovens ou mais velhos do que eu, desde que nos sintamos bem na companhia um dos outros. Celebrar a vida, seja em eventos para idosos, viagens, ou em simples mesas de bar bebendo sucos ou refrigerantes diets, comendo petiscos com pouco ou nenhum sal, doces sem açúcar e jogando conversa fora. Contando piadas e, principalmente, mentindo muito, afinal, ri é sempre um excelente remédio.  
         A minha parte eu tenho feito. Mas, é com os amigos que eu ando preocupado. Eu digo sempre que os tenho encontrado mais em velórios do que em festas. E até os pequenos eventos que programamos, na maioria das vezes, são descartados com as mais estapafúrdias desculpas. Recentemente quis fazer uma festa para casais acima de 50 anos, com o simples objetivo de reencontrar velhos amigos para com eles celebrar a vida. Este evento talvez não aconteça.
         Certo dia comentei com alguns familiares e amigos de uma pessoa da nossa cidade que estaria prestes a fazer aniversário. Sugeri que fizéssemos uma festinha intima, familiar, para fazê-lo sentir-se lembrado, querido e feliz. Liguei algumas vezes para reforçar a sugestão, mas, não houve resposta afirmativa. Um amigo me disse que havia programado uma festa surpresa para um amigo comum e eu estava convidado. Contudo, ele desistiu da festa sem maiores explicações. E assim é. Pensa-se, programa-se e desiste-se. Voltando para o isolamento solitário.
         Amigos meus disseram-me certa vez que o médico havia proibido o seu pai, de 60 anos, de beber. Eu, que conhecia e era amigo do velho, disse-lhes que isso, ao contrário do que o médico previa, iria encurtar a sua vida. E foi o que aconteceu. Privado do seu único prazer, o velho entristeceu, isolou-se, foi para uma cadeira de rodas e morreu. Recentemente convidei um velho amigo para almoçar. Durante o almoço ele bebeu algumas doses de cachaça, o que o deixou “de fogo”, mas, não embriagado. Ele não deveria beber, segundo recomendações medicas, mas, ele estava tão feliz que não tive coragem de recrimina-lo. Sei que vou morrer, não sei de que forma, se doente ou com saúde, mas, vou morrer, e quero morrer feliz.

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