As razões são várias. Desânimo,
isolamento, falta de incentivos e motivações, depressão, e muitos outros sentimentos
causados pelo fato de não saber envelhecer ou não se conformar com a velhice.
Velhos são chatos. São cheios de manias, vivem a dizer que tudo que era bom era
no seu tempo, são repetitivos vivendo a contar histórias das suas aventuras,
façanhas e conquistas. E porque não falam a mesma língua dos jovens, são
solenemente ignorados pela maioria deles.
O que é preciso para ser feliz na
terceira idade? Respondo por mim. Ocupação, dentro das minhas capacidades, para
manter minha cabeça ativa e que me dê prazer. Companhia de amigos, da minha
idade ou mais jovens ou mais velhos do que eu, desde que nos sintamos bem na
companhia um dos outros. Celebrar a vida, seja em eventos para idosos, viagens,
ou em simples mesas de bar bebendo sucos ou refrigerantes diets, comendo
petiscos com pouco ou nenhum sal, doces sem açúcar e jogando conversa fora.
Contando piadas e, principalmente, mentindo muito, afinal, ri é sempre um
excelente remédio.
A minha parte eu tenho feito. Mas, é
com os amigos que eu ando preocupado. Eu digo sempre que os tenho encontrado
mais em velórios do que em festas. E até os pequenos eventos que programamos,
na maioria das vezes, são descartados com as mais estapafúrdias desculpas.
Recentemente quis fazer uma festa para casais acima de 50 anos, com o simples
objetivo de reencontrar velhos amigos para com eles celebrar a vida. Este
evento talvez não aconteça.
Certo dia comentei com alguns
familiares e amigos de uma pessoa da nossa cidade que estaria prestes a fazer
aniversário. Sugeri que fizéssemos uma festinha intima, familiar, para fazê-lo
sentir-se lembrado, querido e feliz. Liguei algumas vezes para reforçar a
sugestão, mas, não houve resposta afirmativa. Um amigo me disse que havia
programado uma festa surpresa para um amigo comum e eu estava convidado.
Contudo, ele desistiu da festa sem maiores explicações. E assim é. Pensa-se,
programa-se e desiste-se. Voltando para o isolamento solitário.
Amigos meus disseram-me certa vez que o
médico havia proibido o seu pai, de 60 anos, de beber. Eu, que conhecia e era
amigo do velho, disse-lhes que isso, ao contrário do que o médico previa, iria
encurtar a sua vida. E foi o que aconteceu. Privado do seu único prazer, o
velho entristeceu, isolou-se, foi para uma cadeira de rodas e morreu. Recentemente
convidei um velho amigo para almoçar. Durante o almoço ele bebeu algumas doses
de cachaça, o que o deixou “de fogo”, mas, não embriagado. Ele não deveria
beber, segundo recomendações medicas, mas, ele estava tão feliz que não tive
coragem de recrimina-lo. Sei que vou morrer, não sei de que forma, se doente ou
com saúde, mas, vou morrer, e quero
morrer feliz.
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