sábado, 15 de setembro de 2018

Setembro não é longe demais


Eu sei e vocês sentem na alma das estações que é Setembro. Há flores, no entanto, que desobedecem o calendário, florescem em Abril e lançam seu perfume por uma vida inteira.
As folhas do outono que forravam o chão, cedendo ao frio, são varridas. E nas manhãs de minha cidade e do meu coração a neblina não cobrirá mais o sono dos que se tardaram amando. Há, pressentimos todos, depois do longo outono, urgências de flores. Há extrema urgência de flores.
Precisamos semeá-las em cada despedida, para que não esqueças, que não é partir que te leva, mas não deixar prontos os espaços da volta. Precisamos de flores pois Setembro sempre foi longe demais.

Precisamos das leiras dos olhos pra semear os lírios, jasmins, girassóis amarelos, açucenas e delicadas acácias, que sempre guardei. E rosas. As rosas vermelhas, as rosas negras, as rosas dos que amam
Precisamos das mãos de jardineira, replantando os frutos das amendoeiras, pois novas chuvas virão. As ruas de minha rua, que inventa e andas, e a Getúlio Vargas de minha cidade, irão florir seus flamboyants e a vida parecerá o vermelho do sol e desse tom.
Agora, que em algum lugar do mundo as amadas dormem, exaustas, escrevo como se fosse minha primeira carta de signos e inocências, ainda que não saiba se serei lido por inteiro, para avisar que Setembro não é longe demais e que, mais do que em qualquer tempo, é primavera nos corações e é preciso os corações para semear as últimas flores do amor.

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