Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira revela como a relação entre adolescentes americanos e a tecnologia, especialmente as redes sociais, evoluiu nos últimos anos e modificou a forma como os jovens se comunicam com amigos e familiares.
Em
2012, quando o estudo foi feito pela primeira vez, somente um terço dos
adolescentes entrevistados dizia usar redes sociais mais de uma vez por
dia. Agora, são 70%, sendo que 16% afirmam acessar "quase
constantemente".
"As redes sociais são hoje uma parte muito maior
da vida dos adolescentes do que eram em 2012", disse à BBC News Brasil
um dos autores do levantamento, Michael Robb, diretor de pesquisas da
Common Sense, organização sem fins lucrativos que promove tecnologia
segura para crianças.
Robb afirma que um dos motivos por trás desse aumento é o fato
de que o percentual de jovens americanos com smartphone saltou de 41%
para 89% no período.
O pesquisador ressalta que não apenas a frequência mudou, mas também as preferências dos jovens. Há seis anos, o Facebook era apontado como a principal rede social por 68% dos adolescentes. Hoje, apenas 15% dizem o mesmo.Uma
das entrevistadas na pesquisa, uma menina de 16 anos, resumiu o
sentimento, ao afirmar que só usa o Facebook para se comunicar "com seus
avós".
Atualmente, 41% dos adolescentes preferem o Snapchat, e
22% apontam o Instagram (comprado pelo Facebook em 2012) como rede
preferida.
"O Instagram é principalmente para os pontos altos da
minha vida, as coisas realmente importantes que acontecem. E o Snapchat é
para as coisas pequenas… como quando vou almoçar com amigos ou fazer
compras. E eu uso o Facebook para (me comunicar com) minha família",
detalhou outra entrevistada, de 15 anos.
Como se comunicam com amigos
A pesquisa, intitulada Social Media, Social Life: Teens Reveal Their Experiences ("Mídia Social, Vida Social: Adolescentes Revelam suas Experiências", em tradução livre), foi feita em março e abril deste ano com 1.141 adolescentes de 13 a 17 anos nos Estados Unidos.
Robb
diz ter ficado surpreso com o declínio na interação cara a cara entre
os jovens. Em 2012, metade dos entrevistados dizia que essa era sua
maneira preferida de se comunicar com amigos. Hoje, apenas 32% afirmam o
mesmo, e 35% preferem mensagens de texto.
O percentual de jovens
que preferem se comunicar via redes sociais saltou de 7% para 16%, e o
dos que preferem interagir por chat de vídeo passou de 2% para 10%.
Somente 5% afirmam que telefonemas são sua maneira favorita de se
comunicar com os amigos.
"Acho que o instinto é olhar para essa
estatística com preocupação, e pretendo continuar observando se essa
tendência se mantém no futuro. Se essa mudança for real, vale a pena
investigar o que ganhamos e o que perdemos ao mudar nossas preferências
na maneira como nos comunicamos", salienta Robb.Um terço dos jovens diz que as redes sociais são
"extremamente" ou "muito" importantes em suas vidas, enquanto 19%
afirmam não usar redes sociais.
E apesar de 47% dos entrevistados
que possuem smartphone dizerem ser "viciados" em seus telefones, apenas
24% se consideram "viciados" nas redes sociais.
Quase dois terços
dos entrevistados dizem encontrar mensagens de conteúdo racista,
sexista, homofóbico ou de intolerância religiosa, e 13% afirmam ter
sofrido cyberbullying nas redes sociais.
Mas Robb observa que os
jovens são mais propensos a dizer que as redes sociais têm efeito
positivo do que negativo em suas vidas: 25% afirmam sentir-se menos
sozinhos e 16%, menos deprimidos, enquanto 3% se sentem mais sozinhos ou
mais deprimidos ao usar as redes. No geral, 18% dizem sentir-se melhor
sobre si mesmos, e apenas 4% afirmam o contrário.
"Acho que esses
dados contradizem a percepção que a maioria das pessoas tem", salienta
Robb. "A maioria das pessoas se preocupa sobre como as redes sociais
podem prejudicar os jovens e aumentar a solidão ou a ansiedade, mas
talvez estejam subestimando vários impactos potencialmente positivos."
O
pesquisador destaca ainda que tanto efeitos positivos quanto negativos
são ampliados em adolescentes vulneráveis emocionalmente.
Manipulação e distração
Os
jovens parecem conscientes sobre os impactos das redes sociais em
outras atividades do dia a dia: 72% dizem acreditar que as empresas de
tecnologia manipulam os usuários para que fiquem mais tempo em seus
dispositivos, 57% concordam que o uso os distrai quando deveriam estar
fazendo a lição de casa e 54% se dizem distraídos quando deveriam estar
prestando atenção às pessoas que estão com eles.
O problema não
afeta somente os jovens: 33% dizem que gostariam que seus pais passassem
menos tempo com seus telefones celulares.Mais de metade dos adolescentes afirma que desligam
ou silenciam seus dispositivos para dormir, e 42% fazem o mesmo durante
refeições com outras pessoas. Mas 26% nunca abandonam o telefone para
dormir e 31% mantêm o dispositivo ligado durante as refeições.
Na
conclusão da pesquisa, os autores ressaltam que as redes sociais são
centrais em diferentes aspectos da vida dos adolescentes, o instrumento
por meio do qual "falam com seus amigos, fazem planos para depois da
escola, coordenam atividades extracurriculares, ficam por dentro das
notícias, mantêm contato com primos, tios e tias, se organizam
politicamente, aprendem sobre novos estilos e moda, se conectam com as
pessoas com quem têm interesses comuns, documentam e compartilham os
pontos altos de suas vidas, ganham inspiração e expressam sua
criatividade".
Para o CEO e fundador da Common Sense, James
Steyer, o estudo mostra que, assim como os próprios adolescentes, o
papel das redes sociais é complexo e desafia "julgamentos simplistas".
"Por
um lado, os adolescentes sentem que as redes sociais fortalecem seus
relacionamentos com amigos e familiares, oferecem um importante caminho
para autoexpressão e os fazem sentir-se menos sozinhos e mais
conectados. Ao mesmo tempo, reconhecem que às vezes os afastam de
interações cara a cara e os fazem sentir-se deixados de lado e 'menos'
que seus pares", destaca Steyer.
Segundo os autores, o estudo não
pode afirmar com certeza se as redes sociais causam mal ou melhoram o
bem-estar dos adolescentes. "Para muitos jovens, as redes sociais são
fonte de conexão e inspiração, uma oportunidade de compartilhar sua
criatividade e aliviar a solidão. No entanto, para alguns outros, às
vezes podem aumentar ansiedade e depressão."
"Enquanto a
quantidade de tempo que os jovens devotam às redes sociais é uma
importante medida, não é a única. Reduzir a relação entre redes sociais e
bem-estar dos jovens à noção de que menos tempo nas redes vai por si só
resolver depressão e ansiedade entre adolescentes é muito simplista - e
talvez até perigoso", afirmam os autores. (BBCBrasil)
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