Diógenes, com a luz de sua lanterna, vagava por Atenas, procurando um
homem honesto. Hoje, o grau de dificuldade tornou-se tão acentuado que
apesar de toda energia elétrica e cósmica consumida em Brasília, ainda
não conseguimos completar sua busca. Goethe, autor de Fausto, antes de
morrer, murmurou: “Luz!
Mais luz! Não sabemos se já enxergava a volta à
escuridão do lado de lá ou queria apenas deixar um grand finale, coisa
que sabemos tão importante quanto a biografia. Como nunca se sabe quando
vai ser nossa hora é bom estarmos prevenidos e pensando em algo, que
uma frase pode ser tudo.
A primeira luz artificial, antropologicamente falando, foi o fogo, até
que Edson inventou a lâmpada e as concessionárias de energia inventaram a
selvageria da conta. Na evolução fomos iluminados de várias formas. Do
tição ao óleo de tartaruga, passando aqui nas bandas sertanejas, pelos
candeeiros e fifós.
Tenho terna lembrança dessa forma de iluminação, porque na fazenda onde
cresci não tinha luz elétrica. Usávamos candeeiros, feitos com lata de
óleo e um ou outro mais sofisticado, que ficava na sala de visitas. À
noite, lia o jornal para meu pai, com o candeeiro correndo sobre as
letras, e, sei lá porque, vou escrevendo isso e sendo tomado por uma
súbita emoção e uma saudade que não sei bem do que é, que cronista,
embora não pareça, também é humano e tem lá suas fraquezas. Tinha prazer
quando me pediam para trocar o pavio de algodão, que havia apreendido a
trançar, e que executava como um Da Vinci a pintar a Mona Lisa, embora
eu nem goste muito dela.
A luz das lamparinas artesanais era muito acolhedora. Depois apareceu
um, metido a besta, chamado Aladim, que passou a ocupar a sala, e, só na
adolescência, chegou a luz elétrica e a televisão. Mas foi sob a luz do
pavio, que mal disfarçava a escuridão, que descobri os segredos do
corpo de uma moça escura, entre a desconfiança de minha mãe e a
cumplicidade de meu pai.
A eletricidade produziu muitas mudanças. Não preciso mais bater leite
na garrafa para fazer manteiga, nem raspar das panelas, as sobras do
requeijão, ou rachar lenha para o fogão. Às vezes, durmo lá, com os
filhos. A casa, atualmente forrada, infelizmente já não deixa passar
sereno pelas telhas nas noites de chuva, - quem já morou em casa assim
sabe o que estou dizendo e quem nunca experimentou não sabe a delícia
que perdeu.
Uma noite, estávamos a beira do curral, onde ficávamos conversando. A
menor cismou de perguntar porque tinha todas aquelas luzes no céu. Na
Via Láctea - corrigiu meu filho maior, chamando a irmã de burra. Na
falta do que inventar disse a eles que o céu era muito grande, infinito,
mais do que nossos olhos juntos, ao mesmo tempo, podiam ver. E todos
que tinham a alma pura, os honestos, todos que viveram seus amores
finitos e infinitos, todas as famílias, iriam lá, se reunir. Mas, como
era muito vasto e escuro, Deus, que amava a todos, precisava iluminar os
caminhos e para isso usava candeeiros. E que eu os amava tanto, que um
dia andaríamos por lá, juntos. Iluminados pelo candeeiro de estrelas
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