sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Quem me mandará flores


César Oliveira
A realidade é que, se pensarmos bem, não vamos longe. Talvez, nem além da memória dos netos. Apenas, por algum fato ocasional, uma ação que se imortalize, um talento ao acaso, um registro imperecível, iremos além disso.
A perenidade de nossa passagem nesse mundo frágil, e incerto, é um sopro. Não temos tempo de nos tornarmos eternos na memória de quem não alcançamos. Seremos, sempre, só memória, e, um dia, nem memória. Finitos como uma tempestade a qual não se é indiferente, mas que terminam como terminam as mais bravias tempestades: diluídas no tempo e esquecidas, apesar de seu tamanho.
O tempo é uma lição inexorável e progressiva, de humildade, e um chamado ao exercício pleno do tempo em que duramos. A toda nossa soberba e arrogância de estarmos no topo da cadeia evolutiva, a longevidade responde com a finitude e a morte; e à certeza da morte, e incerteza da longevidade, precisamos responder com uma vida extraordinária, sem desperdícios. Afinal, se não podemos confiar na duração, devemos, ao menos, otimizar a execução.

Por outro lado, sabemos que a persistência na memória não depende do material que acumulamos. O tempo que permanecemos depende do invisível que plantamos no lado iluminado dos corações, do que cultivamos como especiaria nos encontros, e da delicadeza com que tocamos a alma do outro.
Assim, precisamos viver de olho na eternidade, com a dedicação de um luthier, e a artesania de um carpinteiro, afinal, todo tempo, pagamos um custo elevadíssimo pela concessão de existirmos: um dia a menos.
Portanto, viva de maneira que seus amigos e família, diante de sua página sem texto, do seu vinho preferido, ou de você, em uma visita a sua última morada, pergunte sempre: e agora, quem me mandará flores como as tuas?

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