Exercitar-se regularmente proporciona uma série de benefícios
ao nosso organismo, e disso todo mundo sabe. O que uma nova pesquisa
publicada nesta segunda-feira (7) na revista Nature Medicine
acaba de revelar é uma associação menos intuitiva. Praticar exercícios
físicos mostrou-se um promissor aliado para evitar o agravamento da
doença de Alzheimer. E também melhora o desempenho da memória.
São as duas principais conclusões do estudo liderado
pelo bioquímico Sergio Ferreira e pela neurocientista Fernanda de
Felice, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em uma
investigação minuciosa, que se estendeu pelos últimos sete anos e
envolveu pesquisadores de diversos países, os cientistas coletaram
evidências convincentes dos efeitos benéficos ao cérebro desencadeados
pelo hormônio irisina.
Essa substância é secretada pelo tecido muscular enquanto nos
exercitamos fisicamente. Descoberta em 2012 por Bruce Spiegelman,
biólogo da Universidade de Harvard, a irisina funciona como uma espécie
de transmissora das mensagens químicas da atividade física pelo corpo.
Seu nome é uma homenagem à Íris, a deusa mensageira da mitologia grega.
Especialistas nas alterações celulares e bioquímicas causadas
pelo Alzheimer, De Felice e Ferreira resolveram investigar se a irisina
desempenha algum papel no sistema nervoso central. A primeira etapa da
pesquisa foi comparar o nível de irisina no sangue e no fluido
cerebrospinal de quatro grupos: pessoas sadias, com perda moderada de
memória, com Alzheimer e com outro tipo de demência.
A concentração no sangue manteve-se semelhante entre todos, mas
no fluido ela caía pela metade nos pacientes com Alzheimer e demência,
mostrando que a alteração ocorria só no sistema nervoso central, e não
no restante do organismo. Foi a deixa que sugeriu que o hormônio do
exercício teria algum tipo de influência no funcionamento dos neurônios.
Para entender melhor essa relação, a equipe conduziu uma série
de experimentos em camundongos. Quando os roedores eram induzidos a
produzir menos irisina (o que era feito injetando no cérebro deles um
vírus que prejudica a fabricação desse hormônio), as sinapses, regiões
que transmitem os impulsos nervosos entre um neurônio e outro, ficavam
comprometidas. E é justamente a sinapse que está diretamente ligada à
formação e ao desempenho da memória. O efeito oposto também foi
verificado: os animais que produziam mais hormônio do exercício
apresentavam ganho no armazenamento de recordações.
A proteção contra doenças neurodegenerativas como o Alzheimer
está relacionada a um fortalecimento dos neurônios, impedindo que
neurotoxinas se conectem às células nervosas e destruam as sinapses. O
próximo passo para os pesquisadores é entender mais a fundo os
mecanismos através dos quais a irisina atua nos neurônios. Se novos
estudos comprovarem sua eficácia, o hormônio poderá ser incluído no
tratamento do Alzheimer e da demência. Mais um motivo para fazer dos
exercícios físicos uma rotina. (Super Interessante)
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