quarta-feira, 18 de março de 2020

Brasileiros testam método inédito para desenvolver vacina contra o coronavírus

Cientistas brasileiros trabalham para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus com um método diferente do usado até agora pela indústria farmacêutica e por grupos de pesquisadores de outros países. Eles esperam poder testá-la em animais nos próximos meses.
Até agora, a maioria dos experimentos realizados em países como Alemanha e Estados Unidos se concentrou em vacinas criadas a partir do material genético do patógeno, mais especificamente a inserção na vacina de moléculas sintéticas do RNA mensageiro.
Porém, segundo o diretor do laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil, que está em quarentena após um parente próximo testar positivo para coronavírus, esse caminho não produzirá os resultados esperados.

“Acreditamos que esta maneira, apesar de ser segura, não induz uma resposta imune muito forte e, geralmente, quando testamos a vacina de RNA em humanos, ela fornece uma resposta fraca”, explicou.
A premissa no caso brasileiro é não usar material genético, devido à pouca informação existente sobre o coronavírus, e desenvolver estruturas semelhantes a ele, diz o responsável pelo projeto, Gustavo Cabral.
“Também não conhecemos o vírus, e as informações que temos são insuficientes para projetar uma vacina que utilize material genético”, declarou.
Essas estruturas multiproteicas são as chamadas VLPs, criadas em laboratório por meio de técnicas de biologia molecular, e são facilmente reconhecidas pelas células do sistema imunológico.
“A vacina que estamos propondo se parece com o córtex de um vírus, tem a parte externa de um vírus, mas não possui ácido nucleico, o que permite sua multiplicação”, detalhou Kalil.
“Podemos fazer pedaços da proteína coronavírus na superfície dessa partícula para que o sistema imunológico a perceba como se fosse o vírus, dê uma resposta forte e seja capaz de produzir anticorpos contra essa parte do coronavírus que queremos atacar”, completou.

Denominador comum

Um denominador comum que é repetido em várias pesquisas contra o novo vírus é a maneira de desativá-lo, algo que vinha funcionando desde os surtos de SARS-CoV, em 2002, e MERS-CoV em 2012.
A chave parece estar nas pontas características dos coronavírus, que têm uma forma esférica em que se sobressaem uma espécie de “florzinhas”, que na verdade são proteínas.
“A ideia é desenvolver uma resposta imune contra essa parte específica, já que é a que facilita o coronavírus a entrar na célula, afirmou Cabral, que estudou durante os últimos cinco anos na Europa para desenvolver vacinas contra o Zika vírus e chikungunya e retornou ao Brasil em fevereiro para criar um estreptococo, mas o surgimento do SARS-CoV-2 o forçou a mudar o foco.
A missão agora é gerar algum tipo de anticorpo contra essas “florzinhas” do coronavírus que o impeçam de entrar e infectar as células do corpo.
Além do Brasil, vários países do mundo estão pesquisando o desenvolvimento de possíveis vacinas contra o coronavírus, embora os passos mais importantes até agora tenham sido dados pelos Estados Unidos e pela China, que esperam começar a testá-las em humanos nos próximos meses.

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