quarta-feira, 25 de março de 2020

Capa, galocha e guarda-chuva


      
O pronunciamento do presidente Bolsonaro na terça-feira passada, causou o maior alvoroço na imprensa e nas redes sociais. No meio do disse não disse geral, eu corri para o meu cantinho e fui analisar a fala presidencial. E confesso que não vi nada demais. O presidente disse: “Tínhamos que, ao mesmo tempo conter o pânico e a histeria e traçar a estratégia para salvar vidas e evitar o desemprego em massa”. Disse também: “Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a sensação de pavor”. Até aqui, tudo verdade.
         O vírus chegou e está sendo combatido muito bem pelo governo federal, pela maioria dos governadores e prefeitos, mas alguns teimam em fazer uso da situação grave para fazer política demagógica. Mas, disse o presidente: “A nossa vida tem que continuar. O sustento das famílias deve ser mantido. Os empregos devem ser preservados. Devemos sim, (ele disse, devemos, esperamos, e não, vamos) voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades devem abandonar o conceito de terra arrasada. A proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa”. O fato é que, cada região tem sua peculiaridade, e o que pode ser bom para algumas, pode não ser para outras. Daí que decisões precisam ser tomadas com cautela e inteligência, para que o remédio não mate o paciente. Mas, como disse, alguns prefeitos e governadores, no afã de mostrar serviço e fazer demagogia, tomaram medidas equivocadas e extrapolaram nas suas autoridades assumindo decisões que cabem apenas ao governo federal, embora as discussões sobre essas tomadas de decisões devam acontecer em grupo com todas (eu disse todas) as autoridades diretamente interessadas.
          “Então, (questionou o presidente) por que fechar escolas? (Note-se que é um questionamento e não uma afirmação) Raros são os casos fatais. 90 por cento de nós não teremos quaisquer manifestações (sintomas) caso se contamine. Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros”. Certíssimo, o presidente. Quem pode permanecer em casa, como os aposentados, que permaneça, e quem precisa sair para estudar ou trabalhar (alguns podem estudar e trabalhar em casa, pois a tecnologia permite isso), que saiam. Mas, tomando os devidos cuidados como tem sido explicado e ensinado exaustivamente pelas autoridades sanitárias através da imprensa e das redes sociais e nos hospitais e postos de saúde.
         O presidente disse: Pelo meu histórico de atleta, se eu for contaminado, não terei mais que uma gripezinha ou um resfriado”. Ele não disse que o vírus só causa uma gripe ou resfriado, como declarou o ex-presidente Lula em 2009, frente à crise da gripe H1N1, que matou milhares de pessoas em todo o mundo. Bolsonaro ainda anunciou que o Brasil e os Estados Unidos estão pesquisando a eficácia do medicamento cloroquina (é assim que se diz?), usado no Brasil no combate à malária, que poderá ser uma possível solução para a cura dos infectados com o corona vírus.
Finalizando, ele disse que “venceremos o vírus e nos orgulharemos de estar vivendo neste novo Brasil, que tem tudo para ser uma grande nação. Agora meu amigo(a) se o presidente disser que acha que vai chover e você sair correndo para comprar capa, galocha e guarda-chuva. Tenho pena de você. Ou talvez raiva, porque não suporto imbecilidade e covardia.

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