sábado, 17 de março de 2012

A vida não começa aos 40 (?)

Acabei de ler um artigo da jornalista Eliane Brum, onde ela fala da frase  'a vida começa aos 40'  que não é nova, mas que  parece ter deixado o marketing publicitário para virar filosofia da vida cotidiana. Eu mesma já devo tê-la pronunciado algumas dezenas de vezes, porém, brincando para demonstrar que não me preocupo com essa coisa de idade cronológica, uma vez  que já passei de meio século e estou na melhor fase a vida.

Eliane Brum diz que tem ouvido a frase de bocas que costumam dizer coisas que valem a pena. "De uns tempos para cá, atrizes e escritoras interessantes têm repetido esse slogan, depois de passar dos 40. Nesse verão, li várias vezes essa frase em revistas femininas diferentes, ditas por mulheres diferentes, mas incluídas no pacote do “bonita-e-bem-sucedida”... e com mais de 40. Parece uma epidemia. Não paro de ouvir e de ler que 'a vida começa aos 40'", diz ela. 

Como ela, também acho a frase simpática e bem intencionada, e até revolucionária no passado recente, pois até boa parte do século passado era tido como certo que a vida acabava aos 40, especialmente para as mulheres. Era concebido que o mais emocionante que uma mulher poderia esperar a partir dos 40 seriam os netos que, sem sombra de dúvidas é emocionante tanto quanto ou mais do que ser mãe. 

A jornalista diz temer que estejamos enfiando o nosso pé em uma nova armadilha. E eu concordo que, em vez de uma frase meio marqueteira que se diz aqui e ali quando falta assunto, ao ser levada a sério torne-se uma sentença. E ela vai buscar o significado da frase “a vida começa aos 40”? Pesquisando ela conclui que a vida começaria aos 40 porque as mulheres ainda estariam bonitas, já seriam donas de uma carreira consolidada e financeiramente estáveis, teriam passado por percalços suficientes para se sentirem mais confiantes e sem as pressões e inseguranças dos 20 e até dos 30, estariam mais livres para inventar novos rumos para suas vidas – e novos rumos que estariam mais próximos de seus desejos. Aos 40, as mulheres já estariam com os filhos crescidos e, portanto, teriam superado certo peso da maternidade. Isso já está ultrapasso, vez que hoje muitas mulheres estão justamente tentando engravidar ou com filhos pequenos ao completar 40 anos. 

"Se levada ao pé da letra que a vida começa aos 40 seria desesperador. Se, ao alcançar os 40 uma mulher chegasse à conclusão de que o que se passou antes foi apenas um preâmbulo para uma vida – e não a vida em si, com toda a sua quantidade de drama e de nadas – haveria um motivo bastante legítimo para se matar aos 40. Afinal, o que foi que você fez antes se não era vida o que estava acontecendo?" Sentencia a jornalista.

Ela continua seu texto informando que a expectativa de vida da mulher brasileira é de 77 anos, e que ao defender que “a vida começa aos 40”, estamos nos lançando em um paradoxo lógico: “a vida começaria no mesmo momento em que chega à metade”. E não a qualquer metade, mas a uma metade que envolve declínio físico, perdas inescapáveis e termina em morte. Parece deprimente? Seria, se fosse só isso, mas há também muitas possibilidades interessantes em curso, se tivermos aprendido algo em algum momento anterior. Triste? Algumas vezes muito triste, com certeza, mas também engraçada, se já conseguirmos rir de nós mesmas, e com um monte de coisas para inventar e para experimentar – e outras que só nos resta aceitar. É a vida, com sua mistura de tragédia e de comédia e um bocado de espaços vazios e de repetições.

Despida de seu conteúdo revolucionário, que fazia sentido em décadas passadas, mas hoje não me parece que faça mais, a máxima pode se tornar uma autossabotagem. Temos medo, quando chegamos aos 40, porque uma metade da vida já passou – e justamente a metade em que éramos jovens. Para as mulheres é de certo modo mais difícil porque a exigência de que pareçamos jovens é maior. E por causa dela muitas se lançam aos bisturis para adiar o inevitável, nem sempre com resultados satisfatórios. 

É preciso que a vida antes dos 40 tenha sido bem ruim para que o que venha depois seja tão melhor assim a ponto de se tornar a vida inteira. Se não foi tão ruim antes dos 40, também não é preciso temer que seja tão pior depois, a ponto de se tornar necessário gritar em público que os 40 estão sendo uma libertação ou uma epifania ou a abertura de “2001, uma odisseia no espaço”.

O texto da jornalista é longo e não vou transcrevê-lo inteiro. Mas, este trecho  resume tudo. "A vida é o que temos e o que fazemos dela, com um pouco de tudo, em qualquer idade. Aos 40, percebemos que começamos a envelhecer. Não acho que devemos negar isso, mesmo porque não adianta. O que vamos dizer aos 50 ou aos 60? Que a vida começa de novo? Ué, mas ela não tinha começado aos 40? E aos 70, 80 ou 90, vamos “descobrir” que a vida começa no fim?"
 
De minha parte, posso afirmar que aos 53 anos estou vivendo a melhor fase da vida. Aos 20 anos eu estava cursando Letras Vernáculas e trabalhando como auxiliar de escritório para me manter, já que sai aos 18 de uma cidadezinha de interior para estudar na cidade grande, com a cara e a coragem. Logo virei jornalista pela força das circunstâncias, abandonei a universidade e hoje estou aqui ainda jornalista, me adaptando as modernidades da profissão para sobreviver, mas, querendo mudar. 

Contudo, posso afirmar que a vida neste plano começa quando nascemos e só acaba quando desencarnamos. Cabe a nós fazermos cada dia melhor para ao final da operação termos somado conhecimentos e bons momentos para a próxima vida. 

O melhor momento para se realizar alguma coisa é hoje, porque ontem não volta mais e amanhã será hoje. A vida (re)começa a cada amanhecer.

Um comentário:

Fê Iasi disse...

Oi Maura, sou amiga da tua filha. Tenho 50 e "me vi" no teu texto, achei bárbaro, pleno. Bjo!