segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Comigo não, violão!

      Soube que velhos companheiros da resistência contra a ditadura militar estão apoiando os lacaios, inocentes úteis, iludidos e desocupados, que acampam no canteiro de obras do BRT na avenida Getúlio Vargas. Dizem que vai ter até manifestações culturais e show musical como nos velhos tempos. Certamente não faltarão velhos líderes comunistas fracassados, que viveram apenas para ver a queda da União Soviética, o capitalismo travestido de comunismo da China e a capitulação de Cuba aos encantos dos States of América.
         Eu poderia até dizer que fiquei saudoso e comovido, prestes (epa!) a calçar minhas alpercatas de couro, vestir uma camiseta com os dizeres “Yankees go home”, colocar uma boina e sair por aí cantarolando “Pra não dizer que não falei das flores (ou seriam árvores?). Mas não. O único sentimento que me valeu foi o de pena. Fico mesmo com dó de saber que meus amigos, velhos companheiros de luta, não aprenderam nada com o passado e, o que é pior, não querem aceitar que envelheceram, apegando-se desesperadamente a qualquer coisa que lhes dê a ilusão de juventude.
         Sabem, companheiros? Eu amadureci. Estou com a idade avançada, mas não velho. Não guardo ilusões de juventude e vivo o meu tempo usando a sabedoria que o passado de lutas me deu. E uma das coisas que aprendi foi reconhecer os meus erros e não me permitir ser enganado novamente, incorrendo nos mesmos erros que hoje me assombram e me assustam. Desde o fim da ditadura militar ensarilhei as armas, guardei as bandeiras e me despi de colorações partidárias para votar democraticamente nas pessoas em que confiava.
         Muitos não entenderam e passaram a me chamar de traidor e vira casaca. Porém, firme nas minhas convicções, segui meu próprio caminho, sem ter ninguém para me dizer “faça isso”, “vote naquele”, “lute por nós”. Não. A partir dali a luta passou a ser minha, só minha. Não mais uma luta por uma causa, mas por várias causas, minhas e de pessoas que eu quis defender sem pedir nada em troca. Não sou de direita, nem de esquerda, como querem antigos companheiros, nem de extrema direita, como apregoam na corte petralha. Apenas sigo o caminho reto da minha consciência, sem dar satisfações a quem quer que seja, a menos que eu julgue necessário.
         Minha voz não canta mais as cantigas de protesto e nem brada palavras de ordem. Minhas palavras hoje são de paz e harmonia, e minhas canções falam de amor e liberdade. Por isso não vou compactuar com uma gente que quer nos escravizar, negando o nosso direito de ser quem e o que somos e não o que eles querem que sejamos. Não posso aceitar que me repudiem porque não penso como a maioria. Eu sou eu. Único, indivisível e inimitável. Quando gosto de alguém, aceito os seus defeitos e as suas qualidades, e não apenas uma parte. Se querem minha amizade, me aceitem como eu sou e não como gostariam que eu fosse. Afinal, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Esse é um direito natural de quem é verdadeiramente LIVRE.


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