quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ninguém está a salvo

     Engana-se quem pensa que está a salvo dos perigos de viver. “Para morrer basta estar vivo”, reza o dito popular. Tristeza, preocupação e medo não vão resolver nada, não vão salvar ninguém dos perigos que a jornada da vida oferece. Entre os vikings havia a firme crença de que nada que fizesse para se proteger um homem não viveria um segundo a mais do que estava escrito no livro de Odin, o Deus supremo deles.
    Aqui no Brasil à medida que a violência foi aumentando e a bandidagem foi tomando conta das ruas, as muralhas foram crescendo em volta das residências de pessoas abastadas. Hoje, com a total insegurança pública, estas pessoas vivem encasteladas em suas prisões de luxo, cercadas de muros, cercas elétrica, grades, alarmes e câmeras de segurança. De nada adianta, se os bandidos não conseguirem expugnar a fortaleza, apanharão os seus donos nas ruas.
      O povão, por sua vez, vive em favelas, refém do crime organizado, obedecendo ao poder paralelo porque dos poderes constituídos não podem esperar socorro algum. Quando muito, aproveitam-se de uma bravata como aquela ocorrida no Morro do Alemão, no Rio de janeiro, para fugir, quando podem, para paragens mais tranquilas. Mas, mesmo estes, um dia serão alcançados, porque os bandidos já descobriram a total insegurança das cidades pequenas e é lá que estão fazendo seu pezinho de meia.
    O filósofo inglês, Thomas Hobbes, disse que “o homem é o lobo do homem”. Grande verdade! Quando não somos vítimas de estranhos, somos vitimas de quem pagamos para nos proteger. A toda hora chegam notícias de gente agredida ou morta por policiais. Recentemente, em Salvador, durante uma festa do Olodum, no Pelourinho, uma mulher que assistia ao show foi atingida por um cassetete de um policial e perdeu um olho.
    Pagamos a políticos para que resolvam por nós problemas que não temos tempo para resolver, quais sejam: criar infraestrutura necessária para que possamos trabalhar e produzir. E o que eles fazem. Roubam o dinheiro dos nossos impostos e nos deixam ao Deus dará. Empregamos e pagamos a pessoas para zelarem pelo nosso patrimônio, auxiliar no nosso trabalho, cuidar dos nossos filhos na nossa ausência, cozinhar, limpar a casa, e somos roubados, sequestrados, agredidos, por elas.
    Até mesmo entre nossos familiares encontramos inimigos. Estes os mais perigosos, porque confiamos neles e estão dentro da nossa casa. Como foi que chegamos a esse estado de coisas? E não adianta dizer que tais coisas só acontecem com os outros, pois sabemos que acontece conosco também. Acontece com todo mundo, independente de raça, credo ou condição social. E Deus só vai nos ajudar se fizermos a nossa parte.
    Ninguém está a salvo. Nem mesmo aquele cidadão que tinha medo de viajar de avião. Um dia, um avião caiu em cima da casa dele e ele morreu.

NE: Texto publicado neste blog ha 4 anos e no livro Mas eu lhe disse...
     

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