segunda-feira, 26 de abril de 2021

Crônica de segunda

Vaidade 

A vaidade também é conhecida como orgulho, soberba ou amor próprio. Não há nada demais em se ter vaidade, mas, novamente, é preciso apelar para o equilíbrio, o bom senso, para se obter o melhor resultado deste sentimento. Narciso era um jovem grego muito vaidoso, orgulhoso da sua própria beleza física, e por isso passava horas a fio a cuidar da aparência e a se mirar nas águas dos lagos e rios. Apaixonado pela própria beleza não viu o tempo passar e definhou até morrer. É apenas uma lenda, mas retrata bem a futilidade das pessoas vaidosas em excesso. A vaidade é o oposto do desleixo. Uma pessoa sem auto estima tende a se depreciar, não acreditar em si mesma, nos seus potenciais, sejam eles de beleza, inteligência, força, coragem, habilidades, o que for. Julga-se sempre repudiado, acreditando-se incapaz de obter sucesso em qualquer campo da existência. Por isso a auto estima, a vaidade, é necessária, mas, na medida certa, sem exageros. Somos quem somos, nem melhor nem pior do que qualquer semelhante. O segredo é encontrar o nosso lugar no mundo.

“Onde eu me encaixo? O que sei fazer? Em que campo de trabalho eu me sinto melhor e sou mais hábil? Procure andar com os seus iguais. Não queira ser quem você não é. Na minha adolescência eu vivia frustrado porque não tinha cabelos lisos como os dos Beatles e Roberto Carlos, que eram os modelos masculinos da minha época. Aí apareceu Caetano Veloso, com aquela aparência de refugiado da seca do Nordeste, os cabelos parecendo mais com um ninho de arapuá, estourou nas paradas de sucessos, e eu percebi que inteligência, sabedoria, capacidade e auto estima era tudo que eu precisava para ser bem-sucedido na vida. E, se eu não era nenhum modelo de beleza, valia entender que quem o feio ama bonito lhe parece. E querem saber? A verdadeira beleza não está na aparência física, mas dentro da mente e do coração das pessoas. Essa é a aparência que devemos buscar.

         Contudo a vaidade exacerbada não vislumbra apenas beleza, mas também luxo e poder. Como já disse, seja você mesmo, compenetrado de quem você é. Não inveje o poder ou a riqueza de ninguém. Apenas respeite e se faça respeitar, não pelo que você tem, mas por quem você é. Seja bom filho (a), bom marido/mulher, pai/mãe, amigo (a) dos amigos, pois todos somos irmãos, filhos do criador do universo. Seja descolado, sereno, leal, sincero, solícito. Faça com que seus semelhantes gostem de você e verá que ser feliz custa quase nada, enquanto vaidade, luxo, poder, custa muito dinheiro, sacrifício e responsabilidade, e nem sempre é sinônimo de felicidade.

         Acima de tudo, seja humilde, sem, contudo, se humilhar. O fato de que você reconhece o seu lugar, tem a coragem de assumir os seus erros, não lhe torna inferior a ninguém. Aliás, na pirâmide social, o que separa as pessoas é apenas a quantidade de dinheiro que elas possuem, mas isso não faz de ninguém um ser diferente de qualquer outro sob o aspecto humano. Lembre-se: Você pode ter um trabalho humilde, não possuir muitos bens, não ter parentes importantes ou morar no interior do Brasil ou da Cochinchina. Mas é igual ao presidente, a rainha da Inglaterra ou ao Papa, pois eles bufam pelo mesmo lugar que você bufa. Tudo isso vale tanto para os ricos e poderosos quanto para os pobres e fracos.

         Respeite e saiba se fazer respeitar através de uma vida digna e um comportamento irrepreensível. Se for atacado, física ou verbalmente, saiba se defender. Estude, cultive seu físico e sua mente. Maquiavel disse que quem quer a paz prepara a guerra. Mas isso não significa que você deve sair por aí agredindo os mais fracos, até porque haverá sempre alguém mais forte que você. Apenas faça com que os outros saibam que devem lhe respeitar.

 NE: Do livro Soltando as Amarras (2015)

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