domingo, 18 de abril de 2021

Proibido capengar!

 

Não era capenga, tampouco tinha uma perna mais curta que a outra. Era inteirão, um vaqueiro forte, que montava como um índio dos filmes de cowboy,  sabia laçar muito bem, tratar os animais e era bom, também, com uma enxada ou um facão na mão, mas agora estava ali, chegando à casa de “seu “Maurílio”, com aquele andar de sobe e desce ou “aqui tá raso, aqui tá fundo” como se dizia na região.

Era a danada da bota nova. Não tinha sido acidentado, recebido um coice de um animal brabo, nem apanhara de Gildete, sua quase noiva, que era  capaz de fazer estragos, com o seu temperamento briguento.  Já havia provado a impetuosidade da morena por mais de uma vez e na última, durante um rodeio, quase se afastou da filha de seu “Maurilio”, mas ponderou depois de analisar tudo. Em parte, ela tinha razão, porque ele cumprimentara uma lourinha com largo sorriso e ela não gostava de louras. Na verdade, de nenhuma garota pela qual ele demonstrasse o menor interesse, independente de cor. Não era discriminação racial, era discriminação a qualquer mulher que trocasse olhares com o vaqueirão.

Enquanto “subia e descia”’ foi logo na cozinha onde dona Dina preparava o café da tarde.  Gildete? Ela saíra, fora até a vila “resolver um negócio do calçado”. Desfrutou do café da sogra e depois de conversa rápida decidiu ir embora, pois a bota lhe incomodava. Logo avistou a namorada que, como ele, capengava. Aproximou-se para beija-la e recebeu um tapão. “Agora resolveu me imitar? Quero que me respeite!”. Na verdade, o sapato de Gildete quebrara um salto e a tenda do sapateiro estava fechada, o que a fez voltar para casa cansada e irritada e, ao ver o namorado capengando do  mesmo jeito, entendeu que ele estava a  imitá-la “uma provocação, um deboche”. E como dizem que “dois bicudos não se beijam” foi o que aconteceu!

 

 

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