sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Desleixo histórico


A história de Feira de Santana só está registrada oficialmente até o ano de 1950. A única obra digna de atenção foi feita por um americano, Rollie E Poppino, que colocou em livro a história do Município desde a sua emancipação de Cachoeira, em 1833, até 1950. De lá para cá, o Cura da Catedral de Santana, Monsenhor Renato Galvão, fundador do já extinto Centro de Estudos Feirense, realizou um trabalho digno de nota, inclusive, corrigindo um erro histórico, pois a data de emancipação política da cidade era comemorada a 16 de junho, quando na verdade é 18 de setembro, e com uma diferença de décadas.
Muitos livros foram escritos depois disso, mas todos com enfoque do ponto de vista do autor, mas nenhuma com método científico. Há retalhos da história do Município, mas nada tão completo quanto o livro de Poppino. “Feira de Santana e o Vale do Jacuípe”, de Gastão Sampaio, enfoca a importância do Vale do Jacuípe para economia de Feira de Santana, e narra pedaços da história do município. Antônio Moreira (Antônio do Lajedinho), um ex-pracinha da FEB, narra aspectos da Feira de Santana antiga no livro “A Feira da Década de 30”. Também há vários registros históricos no livro “A Vida de João Marinho Falcão”, publicado pelo seu filho, o jornalista João Falcão, e também em livros biográficos publicados pela professora Lélia Vitor Fernandes. Há também alguns trabalhos isolados de registros fotográficos da Feira antiga. Não existe, porém, um livro didático sequer digno de ser utilizado pelas escolas do próprio município, sobre o assunto.
A cidade completa 180 anos de sua emancipação política, com uma defasagem de mais de 60 anos no registro da sua história. Além disso, nunca houve por parte das autoridades locais iniciativa séria em preservar a memória da cidade, seja em caráter material ou imaterial. Prédios antigos foram demolidos, outros estão em ruínas e personagens que deixaram marcas na história do município desapareceram e desaparecem sem que fique um registro sequer das suas existências ou dos seus feitos. Um verdadeiro desleixo para com a nossa história.
A feira-livre, por exemplo, não tem nenhuma obra marcante registrando a sua grandiosidade e o que ela representou para a economia do município até a sua extinção em meados da década de 70. Os festejos da Levagem da Lenha e Lavagem da Igreja, o Bando Anunciador, também foram extintos com a festa profana da padroeira, no anos 80. Justiça seja feita, o Bando Anunciador foi resgatado pela Universidade Estadual de Feira de Santana, através do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), há cerca de sete anos, e só tem aumentado a participação do público, que este ano chegou perto de 10 mil participantes.
                A Micareta, a maior festa popular do município, nunca foi reconhecida oficialmente como patrimônio imaterial de Feira de Santana, embora sua história encerre memoráveis momentos de cultura e arte populares, e muitos cidadãos deram grande contribuição para o brilho da festa, como Maneca Ferreira, Oscar Marques, e José Olympio Mascarenhas, o criador do glamoroso baile Caju de Ouro.
         A cidade cresceu, virou metrópole, mas dos seus 600 mil habitantes, poucos conhecem a sua história.

Um comentário:

Unknown disse...

Saudações Cristóvam,

Sua percepção da falta de trabalhos sobre a história feirense pós Poppino, por assim dizer, é compreensível, mas ela é apenas parcialmente correta. Isso porque há sim inúmeros trabalhos produzidos por historiadores, ligados à UEFS ou não, sobre praticamente qualquer tema e temporalidade que você imaginar. Feira livre? Há dissertação de mestrado sobre isso. Bando Anunciador? Tem monografia de especialização... teatro, política, doenças, escravidão... pense no tema e, com alguma consulta, qualquer um terá um estudo produzido por um estudante em final de curso de graduação ou de especialização, um mestrando ou um doutorando. Mas se há tantos trabalhos (e são várias centenas deles) por que uma pessoa informada como você tem a percepção de que eles não existem? Porque, e aí você está correto, essa produção não tem sido 'convertida' em obras de divulgação, em particular falta uma obra do tipo síntese (como a produzida por Poppino) acessível ao grande público.