quarta-feira, 18 de setembro de 2013

João Marinho e João Durval:



Dois homens de visão, capacidade administrativa e espírito público


Em 1954 a União Democrática Nacional (UDN) conseguiu derrotar o PSD na cidade elegendo para o executivo João Marinho Falcão, um grande empresário local, que tinha negócios principalmente na área comercial. Era um momento de reorganização da política local, não mais sob tutela dos intendentes, prefeitos interventores, comuns na Primeira Republica e na Ditadura Vargas. Foi eleito vereador, no mesmo pleito, João Durval, com 369 votos. Estes dois homens tiveram fundamental importância para o desenvolvimento econômico de Feira de Santana.
João Marinho Falcão foi convidado por uma comissão de próceres da política local para ser um candidato de consenso, de um movimento que pretendia unificar as forças políticas locais para eleger um prefeito inteligente, capaz e honesto, que levantasse o município, combalido por administrações desastrosas. Aos 60 anos, ele, que não era político sentiu-se no dever de fazer algo pela sua cidade e aceitou o desafio.
Em seu governo a cidade equilibrou as finanças e recuperou a credibilidade perdida. Entre outras obras realizadas detacam-se a inauguração do serviço de água, a instalação da estação de regulagem da energia da Companhia de Energia Elétrica da Bahia, início da construção do Matadouro e Frigorífico Municipal e 31 escolas. Entre as ações destacam-se a instituição do Salário Família para os servidores municipais e da “Semana Inglesa”, que tornou dia de sábado útil apenas no turno da manhã.
Logo no primeiro ano da sua administração abdicou do seu salário de prefeito e convidou os vereadores a fazerem o mesmo, até que as finanças se equilibrasse, mas apenas os vereadores Joselito Falcão de Amorim (primo) e Wilson da Costa Falcão (filhos) aceitaram o convite. Para que se faça uma idéia melhor sobre a honestidade de João Marinho Falcão, há um episódio emblemático: Quando recebeu o presidente Juscelino em sua casa para um banquete com correligionário, logo após, o tesoureiro da Prefeitura o procurou para saber como seria lançada a despesa, e ouviu dele: “A Prefeitura não tem nada a pagar. Quando recebo em minha casa, quem paga sou eu”.
Um outro episódio revela a firmeza do seu caráter. O governador Antônio Balbino já tivera com ele diversas audiências para tratar de uma obra de esgotos, sem que nada se resolvesse. Na última delas, João Marinho foi direto ao assunto: Governador. Não engano e nem gosto de ser enganado. Feira de Santana necessita dessa obra. Quero que o senhor diga se pode ou não fazê-la. Meu tempo é precioso demais para ficar recebendo promessas que não serão cumpridas!

Desenvolvimento
No campo social ele foi fundador da Associação Comercial de Feira de Santana, primeiro presidente do Rotary Internacional e presidente da Sociedade Filarmônica 25 de março. Pode parecer pouco, mas a cidade era pouco mais que uma vila, com menos de 50 mil habitantes, na sede, e economia embasada no comércio e agropecuária, e a pequena infraestrutura por ele montada seria o início da construção da base para o que a cidade viria a ser no futuro.
Mas foi no campo empresarial que ele mais se destacou e contribuiu diretamente para o crescimento da economia e desenvolvimento do município. Além do seu grande armazém, que era o centro de distribuição de todo o tipo de mercadorias para as cidades da região, ele era correspondentes de bancos da Bahia e Sergipe, vindo inclusive a fundar o Banco da Administração. Como grande comprador de açúcar, veio a comprar a usina Itapetingui, que embora desativada ainda pertence à família.
João Marinho Falcão nasceu em Feira de Santana no dia 13 de maio de 1893, filho de Viriato Vasco Marinho e Alexandrina Ribeiro Falcão. Fez apenas o curso primário. Perdeu o pai aos 4 anos e a mãe aos 18 e sempre teve que trabalhar para ajudar a sustentar os irmãos. Entrou para o comercio como empregado e depois virou sócio, tendo construído um grande império financeiro na cidade. Faleceu no dia 29 de novembro de 1971, aos 78 anos.

Um salto para o futuro
O governo de João Durval Carneiro, iniciado em 1967, pode ser considerado um divisor de águas para a economia de Feira de Santana, assim como o foi o de João Marinho Falcão, cerca de 12 anos antes. Em que pese o fato do prefeito ter como aliado o governador Luiz Viana Filho, que muito fez por Feira de Santana, Durval fez um bom governo. Entre outras grandes obras e ações suas, destaca-se a criação do Centro Industrial do Subaé, que viria a transformar a economia do município, até então somente baseada no comercio e na agropecuária.
         João Durval foi eleito em 1966, pela Arena, e tomou posse em abril de 1967. Esse pleito inaugurou a era do bipartidarismo, implantado pela ditadura militar. A Aliança Renovadora Nacional (Arena) dava sustentação ao Governo Militar e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) abrigava os políticos de oposição, inclusive os comunistas que haviam caído na clandestinidade.
         Em 1968 João Durval ampliou a estrutura administrativa implantada por Francisco Pinto. Foi assim que surgiram o Escritório de Planejamento Integrado (EPI), o Serviço Jurídico e Departamento de Relações Públicas, (hoje Secom). Também foram criadas duas autarquias, a Superintendência de Desenvolvimento de Feira de Santana (Surfeira) e, a mais importante delas, o Centro Industrial do Subaé (CIS) para coordenar a implantação e expansão do Distrito Industrial criado por ele com recursos da venda de ações da Petrobrás que a Prefeitura havia adquirido na gestão de Almachio Boaventura.
         A visão futurista de João Durval foi vista com desconfiança até mesmo por correligionários seus. Quando ele começou a doar terrenos às margens da BR-324, para que industrias do Sul do País pudessem vir se instalar em Feira de Santana, houve até quem dissesse que ele estaria maluco. Além dos terrenos, Durval brindava ainda cm 10 anos de isenção de impostos, qualquer indústria que aqui viesse se estabelecer.
         Foi assim que chegaram para Feira de Santana filiais de grandes indústrias como a Phebo do Nordeste, Válvulas Schrader, Química Gerald o Nordeste, Pneus Tropical (Hoje Pirelli), e Peterco do Nordeste, entre outras. É verdade que, vencido o prazo de isenção de impostos, a maioria dessas indústrias fechou as suas portas. Mas, foi a partir daí que pequenos industriais locais se animaram a investir mais, saindo dos seus barracos e fundos de quintais e se estabelecer em galpões do CIS que hoje está consolidado, dividido em dois núcleos. Além do da BR-324, surgiu o do bairro do Tomba.

O apoio do Governo do Estado
         A autarquia criada por Durval, o CIS, saiu da esfera Municipal e passou a ser administrada pelo Estado. O fechamento das grandes industrias causou um impacto inicial entre os remanescentes que ficaram temerosos pelo futuro do Distrito Industrial. Superada esta fase, o CIS passou a crescer, novas industrias foram implantadas, e hoje a indústria junto com o comercio, são os dois grandes pilares da economia de Feira de Santana.
         Conforme já foi dito, o governador Luiz Viana Filho, de quem Durval era aliado, muito fez por Feira de Santana. Foi no seu governo que o município recebeu água do rio Paraguaçu, energia elétrica da Usina de Paulo Afonso, e o conjunto habitacional do trabalhador (Cidade Nova), com 1.600 unidades. Na área da Educação, o governador Luiz Viana Filho construí o Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand, implantou a Faculdade Estadual de Educação (onde hoje funciona o Cuca) e assinou a lei que criou a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Foi ele também quem implantou a Delegacia Escolar do Município.
         Durante o governo de Durval a cidade viu surgir a Telefeira, companhia telefônica fundada por empresários locais, foi inaugurada a rádio Carioca (hoje Rádio Povo) e foram implantados ainda o Serviço Nacional da Industria (Senai) e o 35º Batalhão de Infantaria.

Vida pública
 João Durval Carneiro nasceu em Feira de Santana, em 8 de maio de 1929. Formado em Odontologia pela UFBa em 1953, exerceu a profissão até ingressar na carreira política. Casado com Yeda Barradas Carneiro, o casal teve sete filhos. Vereador em sua cidade natal, em 1954 e 1958, assumiu a presidência da Câmara de Vereadores, sendo então prefeito interino, já que não havia o cargo de vice-prefeito na época. Derrotado na disputa pela prefeitura em 1962, tentou novamente em 1966, com êxito.
Eleito seguidamente deputado federal em 1974 e 1978, em seu segundo mandato foi Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos no segundo governo de Antônio Carlos Magalhães, cargo que exerceu de 15 de março de 1979 a 4 de abril de 1982. Seria candidato ao terceiro mandato de deputado federal em 1982, porém substituiu Clériston Andrade, que havia falecido, como candidato do PDS a suceder Antônio Carlos no governo. É eleito com 60% do votos. Nas eleições de 1986 apóia Josaphat Marinho para sucedê-lo, mas é derrotado por Waldir Pires por larga margem. Inicia-se o desentendimento com Antônio Carlos.
Já no PMN, é novamente eleito prefeito de Feira de Santana em 1992, e renuncia no início de 1994 para disputar o governo do Estado, sendo derrotado no 2º turno para Paulo Souto. Pelo PDT nova tentativa ao governo baiano e nova derrota em 1998. Mesmo resultado em 2002 quando concorreu ao Senado. Em 2006 é eleito ao Senado.



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