Dois homens de visão, capacidade administrativa e espírito público
Em 1954 a União Democrática Nacional (UDN) conseguiu derrotar o PSD na cidade elegendo para o executivo João Marinho Falcão, um grande empresário local, que tinha negócios principalmente na área comercial. Era um momento de reorganização da política local, não mais sob tutela dos intendentes, prefeitos interventores, comuns na Primeira Republica e na Ditadura Vargas. Foi eleito vereador, no mesmo pleito, João Durval, com 369 votos. Estes dois homens tiveram fundamental importância para o desenvolvimento econômico de Feira de Santana.
João Marinho Falcão foi convidado por
uma comissão de próceres da política local para ser um candidato de consenso,
de um movimento que pretendia unificar as forças políticas locais para eleger
um prefeito inteligente, capaz e honesto, que levantasse o município, combalido
por administrações desastrosas. Aos 60 anos, ele, que não era político
sentiu-se no dever de fazer algo pela sua cidade e aceitou o desafio.
Em seu governo a cidade equilibrou as
finanças e recuperou a credibilidade perdida. Entre outras obras realizadas
detacam-se a inauguração do serviço de água, a instalação da estação de
regulagem da energia da Companhia de Energia Elétrica da Bahia, início da
construção do Matadouro e Frigorífico Municipal e 31 escolas. Entre as ações
destacam-se a instituição do Salário Família para os servidores municipais e da
“Semana Inglesa”, que tornou dia de sábado útil apenas no turno da manhã.
Logo no primeiro ano da sua
administração abdicou do seu salário de prefeito e convidou os vereadores a
fazerem o mesmo, até que as finanças se equilibrasse, mas apenas os vereadores
Joselito Falcão de Amorim (primo) e Wilson da Costa Falcão (filhos) aceitaram o
convite. Para que se faça uma idéia melhor sobre a honestidade de João Marinho
Falcão, há um episódio emblemático: Quando recebeu o presidente Juscelino em
sua casa para um banquete com correligionário, logo após, o tesoureiro da Prefeitura
o procurou para saber como seria lançada a despesa, e ouviu dele: “A Prefeitura
não tem nada a pagar. Quando recebo em minha casa, quem paga sou eu”.
Um outro episódio revela a firmeza do
seu caráter. O governador Antônio Balbino já tivera com ele diversas audiências
para tratar de uma obra de esgotos, sem que nada se resolvesse. Na última
delas, João Marinho foi direto ao assunto: Governador. Não engano e nem gosto
de ser enganado. Feira de Santana necessita dessa obra. Quero que o senhor diga
se pode ou não fazê-la. Meu tempo é precioso demais para ficar recebendo
promessas que não serão cumpridas!
Desenvolvimento
No campo social ele foi fundador da
Associação Comercial de Feira de Santana, primeiro presidente do Rotary
Internacional e presidente da Sociedade Filarmônica 25 de março. Pode parecer
pouco, mas a cidade era pouco mais que uma vila, com menos de 50 mil
habitantes, na sede, e economia embasada no comércio e agropecuária, e a
pequena infraestrutura por ele montada seria o início da construção da base
para o que a cidade viria a ser no futuro.
Mas foi no campo empresarial que ele
mais se destacou e contribuiu diretamente para o crescimento da economia e
desenvolvimento do município. Além do seu grande armazém, que era o centro de
distribuição de todo o tipo de mercadorias para as cidades da região, ele era
correspondentes de bancos da Bahia e Sergipe, vindo inclusive a fundar o Banco
da Administração. Como grande comprador de açúcar, veio a comprar a usina
Itapetingui, que embora desativada ainda pertence à família.
João Marinho Falcão nasceu em Feira de
Santana no dia 13 de maio de 1893, filho de Viriato Vasco Marinho e Alexandrina
Ribeiro Falcão. Fez apenas o curso primário. Perdeu o pai aos 4 anos e a mãe
aos 18 e sempre teve que trabalhar para ajudar a sustentar os irmãos. Entrou
para o comercio como empregado e depois virou sócio, tendo construído um grande
império financeiro na cidade. Faleceu no dia 29 de novembro de 1971, aos 78
anos.
Um salto para o
futuro
O governo de João Durval Carneiro,
iniciado em 1967, pode ser considerado um divisor de águas para a economia de
Feira de Santana, assim como o foi o de João Marinho Falcão, cerca de 12 anos
antes. Em que pese o fato do prefeito ter como aliado o governador Luiz Viana
Filho, que muito fez por Feira de Santana, Durval fez um bom governo. Entre
outras grandes obras e ações suas, destaca-se a criação do Centro Industrial do
Subaé, que viria a transformar a economia do município, até então somente
baseada no comercio e na agropecuária.
João Durval foi eleito em 1966, pela
Arena, e tomou posse em abril de 1967. Esse pleito inaugurou a era do
bipartidarismo, implantado pela ditadura militar. A Aliança Renovadora Nacional
(Arena) dava sustentação ao Governo Militar e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) abrigava os políticos de oposição, inclusive os comunistas que
haviam caído na clandestinidade.
Em 1968 João Durval ampliou a estrutura
administrativa implantada por Francisco Pinto. Foi assim que surgiram o Escritório
de Planejamento Integrado (EPI), o Serviço Jurídico e Departamento de Relações
Públicas, (hoje Secom). Também foram criadas duas autarquias, a
Superintendência de Desenvolvimento de Feira de Santana (Surfeira) e, a mais
importante delas, o Centro Industrial do Subaé (CIS) para coordenar a
implantação e expansão do Distrito Industrial criado por ele com recursos da
venda de ações da Petrobrás que a Prefeitura havia adquirido na gestão de
Almachio Boaventura.
A visão futurista de João Durval foi
vista com desconfiança até mesmo por correligionários seus. Quando ele começou
a doar terrenos às margens da BR-324, para que industrias do Sul do País
pudessem vir se instalar em Feira de Santana, houve até quem dissesse que ele
estaria maluco. Além dos terrenos, Durval brindava ainda cm 10 anos de isenção
de impostos, qualquer indústria que aqui viesse se estabelecer.
Foi assim que chegaram para Feira de
Santana filiais de grandes indústrias como a Phebo do Nordeste, Válvulas
Schrader, Química Gerald o Nordeste, Pneus Tropical (Hoje Pirelli), e Peterco
do Nordeste, entre outras. É verdade que, vencido o prazo de isenção de
impostos, a maioria dessas indústrias fechou as suas portas. Mas, foi a partir
daí que pequenos industriais locais se animaram a investir mais, saindo dos
seus barracos e fundos de quintais e se estabelecer em galpões do CIS que hoje
está consolidado, dividido em dois núcleos. Além do da BR-324, surgiu o do
bairro do Tomba.
O apoio do
Governo do Estado
A autarquia criada por Durval, o CIS,
saiu da esfera Municipal e passou a ser administrada pelo Estado. O fechamento
das grandes industrias causou um impacto inicial entre os remanescentes que
ficaram temerosos pelo futuro do Distrito Industrial. Superada esta fase, o CIS
passou a crescer, novas industrias foram implantadas, e hoje a indústria junto
com o comercio, são os dois grandes pilares da economia de Feira de Santana.
Conforme já foi dito, o governador Luiz
Viana Filho, de quem Durval era aliado, muito fez por Feira de Santana. Foi no
seu governo que o município recebeu água do rio Paraguaçu, energia elétrica da
Usina de Paulo Afonso, e o conjunto habitacional do trabalhador (Cidade Nova),
com 1.600 unidades. Na área da Educação, o governador Luiz Viana Filho construí
o Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand, implantou a Faculdade
Estadual de Educação (onde hoje funciona o Cuca) e assinou a lei que criou a
Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Foi ele também quem implantou
a Delegacia Escolar do Município.
Durante o governo de Durval a cidade
viu surgir a Telefeira, companhia telefônica fundada por empresários locais,
foi inaugurada a rádio Carioca (hoje Rádio Povo) e foram implantados ainda o
Serviço Nacional da Industria (Senai) e o 35º Batalhão de Infantaria.
Vida pública
João Durval
Carneiro nasceu em Feira de Santana, em 8 de maio de 1929. Formado em Odontologia pela UFBa em 1953, exerceu a profissão até ingressar na carreira
política. Casado com Yeda Barradas Carneiro, o casal teve sete filhos. Vereador
em sua cidade natal, em 1954 e 1958, assumiu a presidência da Câmara de
Vereadores, sendo então prefeito interino, já que não havia o cargo de
vice-prefeito na época. Derrotado na disputa pela prefeitura em 1962, tentou
novamente em 1966, com êxito.
Eleito seguidamente deputado federal em 1974 e 1978, em seu segundo mandato foi Secretário de
Saneamento e Recursos Hídricos no segundo governo de Antônio Carlos Magalhães, cargo que exerceu de 15 de março de 1979 a 4 de abril de
1982. Seria candidato ao terceiro mandato de
deputado federal em 1982, porém substituiu Clériston Andrade, que havia
falecido, como candidato do PDS a suceder
Antônio Carlos no governo. É eleito com 60% do votos. Nas eleições de 1986 apóia Josaphat Marinho para sucedê-lo, mas é derrotado por Waldir Pires por larga margem. Inicia-se o desentendimento com Antônio
Carlos.
Já no PMN, é novamente eleito prefeito de Feira de Santana em 1992,
e renuncia no início de 1994 para disputar o governo do Estado, sendo derrotado
no 2º turno para Paulo
Souto. Pelo PDT nova tentativa ao governo baiano e nova derrota em 1998.
Mesmo resultado em 2002 quando concorreu ao Senado. Em 2006 é eleito ao Senado.
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