quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Auto de Fé em Barcelona



Maurice Lachâtre livreiro, estabelecido em Barcelona, solicitou a Kardec seus livros para divulgá-los na Espanha e este prontamente atendeu ao seu pedido.

(...remeti-lhe grande número de exemplares do O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, coleções da Revista Espírita e diversas obras e brochuras espíritas, formando um total de 300 volumes.)

A expedição foi feita regularmente pelo seu correspondente de Paris, em uma caixa, que continha outras mercadorias, e sem a menor infração dos regulamentos alfandegários.
Antes da liberação dos produtos para o livreiro Maurice Lachâtre seria necessário o despacho do bispo, autoridade eclesiástica que, na Espanha, era responsável pela fiscalização dos livros.
Por ordem dessa autoridade religiosa, as obras foram apreendidas e ordenado a sua queima numa grande fogueira em praça pública. 9 de outubro de 1861, foi o grande dia estabelecido e esse episódio ficou conhecido como o “Auto-de-fé de Barcelona”.
A queima de livros não pára por aí. O próprio Paracelso alquimista e médico suíço, considerado o pai da medicina hermética, também queimou livros em praça pública. Uma certa feita ele foi convidado a lecionar medicina na universidade de Basiléia. A notícia se espalhou e com ela a corrida dos estudantes de todas as partes da Europa em busca de seus ensinamentos.
Numa de suas “Aulas Magnas” ele convidou não apenas os estudantes, mas o povo em geral e assim, cercado por uma multidão, queimou em praça pública livros dos maiores mestres da medicina como o grego Galeno, o árabe Avicena e o romano Celso. Isso quase lhe custou um destino semelhante ao de Joana d`Arc.
Paracelso colheu o que plantou. Mais tarde, foram queimadas mais de 200 de suas obras. Hoje, em decorrência desse episódio, só nos restaram alguns exemplares.
Parece que a humanidade aprende lentamente com seus próprios erros e até hoje as pessoas continuam queimando livros e idéias só que de uma maneira diferente.
Hoje não se usa fogo para queimar livros. Usa-se a rejeição obrigatória que é uma técnica moderna para se aniquilar uma informação literária ou coibir um pensamento social ou científico na sociedade.
É comum vermos líderes profissionais arquitetando planos para neutralizar uma política benéfica entre seus comandados porque isso não lhes trazem lucros.
É comum vermos profissionais da informação e mídia, verdadeiros formadores de opiniões, induzirem as pessoas a odiarem alguém ou uma certa idéia simplesmente porque alguém lhe paga por esse trabalho sujo.
Alguns líderes religiosos induzem nos fiéis idéias preconceituosas para serem usadas como lanças flamejantes a queimar qualquer opção religiosa de um irmão seu. Essa é a moderna queima de livros onde as tochas foram substituídas pelas palavras ígneas.
Sendo assim ficamos divididos em três grupos; os incendiários que criticam e incendeiam coisas que nem as conhecem, os agitadores que mudam constantemente de posição e os bombeiros da vida que nos fazem lembrar a célebre fábula do beija-flor tentando apagar o incêndio da floresta transportando gotas de água nas penas de suas asas.
Vida longa aos Beija-flores!

Conrado Dantas

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