A crise
política deverá ser seguida por um longo período de domínio da direita, diz
Idelber Avelar, professor na Universidade Tulane (EUA), à BBC Brasil.
Nesse cenário, ele afirma que a esquerda e os
movimentos sociais podem levar anos para se reagrupar.
Brasileiro,
Avelar leciona literatura latino-americana e estudos culturais nos Estados
Unidos desde 1999, mas se tornou conhecido entre muitos compatriotas por seus
posicionamentos políticos nas mídias sociais.
Crítico do
PT, ele não vê razões para se associar aos grupos que defendem a permanência de
Dilma Rousseff na Presidência e rejeita a descrição do cenário político
brasileiro como uma "briga de duas torcidas ante a qual você tem de se
posicionar ao lado de uma delas".
A seguir, os
principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Com a crise houve alguma mudança na
forma como o Brasil é encarado nos EUA?
Idelber
Avelar - Cinco anos atrás o Brasil era o modelo de como
crescer com instituições democráticas fortes e reduzindo a desigualdade. Neste
momento perdemos as três coisas: não estamos crescendo, não estamos reduzindo
desigualdade e as instituições democráticas estão em perigo, pelo menos.
Chama atenção a rapidez com que se desmoronou esse
modelo. Há um cenário político marcado por tremenda instabilidade, com uma
classe política na situação e oposição completamente desmoralizada, e não há
perspectiva de transformação desse quadro em longo prazo. Vivemos uma grave
crise econômica, institucional, política e ambiental.
BBC Brasil -
Por que ambiental?
Avelar
- Uma das características essenciais dos governos
petistas tem sido o desenvolvimentismo arrasa quarteirão. Ambientalistas,
lideranças indígenas e ribeirinhas na Amazônia dizem que o PT foi pior para a
região que o PSDB. O PSDB implantou aquele modelo de estado mínimo, deixando que
a iniciativa privada resolvesse.
O governo
petista apostou num modelo através do qual o Estado gera mecanismos para que as
grandes construtoras realizem negócios e (em troca) financiem campanhas
eleitorais.
Sou a favor
de que se estabeleça algum tipo de requisito dentro do nosso aparato
educacional para que pessoas do Sul e Sudeste possam visitar a Amazônia e ver o
que aconteceu no Xingu com a construção da usina de Belo Monte, o que aconteceu
no rio Madeira, para ver o que é a expansão da soja.
Isso lhes daria
uma leitura diferente da realidade e desmontaria uma noção de crescimento que
muita gente da esquerda fetichiza.
BBC Brasil - Não é inviável se opor ao crescimento num
momento em que o Brasil enfrenta uma grave crise econômica, com crescente
desemprego?
Avelar - Não existe
possibilidade lógica de crescimento infinito num planeta com recursos finitos.
Poderíamos estar numa sociedade em que optássemos por um crescimento zero, há
até marxistas falando nisso.
É um debate
difícil, porque há uma mentalidade que associa a redução da desigualdade ao
crescimento do PIB. Mas não há relação automática entre as duas coisas: pode
haver crescimento extremo sem redução de desigualdade e pode haver redução de
desigualdade sem ritmo frenético de crescimento.
Claro que
para isso teríamos mexer em políticas redistributivas, na dívida pública, no
sistema bancário, numa série de vespeiros em que nosso sistema políco não está
pronto para mexer, mas é uma conversa urgente.
Leia a entrevista no BBCBrasil
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