segunda-feira, 31 de maio de 2021

Crônica de segunda

 

Jogo 

Quando a prática de um jogo se torna um vício, torna-se algo altamente nocivo para o ser humano. Aprendi esta lição ainda criança. Próximo à minha casa havia um bar que tinha uma mesa de sinuca. O dono do bar era um exímio jogador, e eu gostava de ficar olhando as disputas e até jogava algumas vezes. Um dia, apareceu um mulato de baixa estatura, cabelo cheio de brilhantina, bigodinho de tenente, bem vestido e bem-falante. Pediu uma bebida e desafiou um dos jogadores para uma partida.

Aos poucos ele foi vencendo os melhores jogadores do lugar. Mas ele não demonstrava muita habilidade. Perdia umas ganhava outras, deixando a impressão de que vencia mais por sorte que por técnica. Quando ele começou a jogar com o dono do bar, começaram as apostas entre os presentes. O jogo estava empatado em várias rodadas, quando ele chamou o adversário para uma partida decisiva. Foi quando um cidadão que tinha um comércio lá perto, disse que apostava o seu comércio no dono do bar. O “bigodinho” parou, olhou para ele e disse: “Moço. Eu não quero tomar o que é seu meio de vida. Vou lhe mostrar que eu ganho quando eu quero. Pegou as bolas, posicionou e, para espanto de todos, matou cada uma delas a cada uma tacada. E para provar que não era sorte, repetiu a façanha várias vezes. Naquele dia eu fui para casa pensando naquilo que vi. Não dormi direito e quando dormia sonhava com o fato ocorrido.

Naquele dia aprendi que por mais hábil que alguém seja, haverá sempre alguém mais hábil que ele. E decidi nunca jogar apostado. Foi uma das decisões mais acertadas que já tomei na minha vida, e durante todo o tempo vi e vejo exemplos de pessoas que se consideram muito inteligentes, hábeis, fortes e imbatíveis, perder fortunas em apostas e viver na miséria.

         O vício, em todas as suas formas, só prejudica o ser humano. Impede o seu desenvolvimento intelectual, físico e espiritual. O trabalho enobrece, mas ser viciado em trabalho é loucura. Há um tempo e um lugar para cada coisa. Hora de trabalhar, trabalhar, hora de descansar, descansar. Dizem que até Deus descansou tão logo acabou de criar o universo.

NE: Publicada no livro Soltando as Amarras - 2015

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