Se você mora em São Paulo, já deve ter percebido que o momento que a
população tanto temia está chegando. Para algumas pessoas, aliás, já
chegou. Pelo menos 40 cidades no estado enfrentam racionamento de água, apesar de o governador Geraldo Alckmim já ter descartado essa possibilidade.
O problema, claro, não é só dos paulistas. A seca e o calor incomum
para esta época do ano atingem vários estados, como Minas Gerais, Mato
Grosso, Goiás e o Distrito Federal. Passou da hora de entendermos melhor
como usar a água. Afinal, ela não vai durar para sempre. Confira 8
curiosidades sobre este recurso natural:
1. O volume morto pode até matar
O Sistema Cantareira é o conjunto de represas responsável pelo
abastecimento de 8,1 milhões de pessoas da Grande SP. Nos fundos dos
reservatórios, abaixo da comportas que recolhem a água, há uma reserva
de 400 bilhões de litros conhecida como “volume morto”. Essa água nunca
tinha sido utilizada para o abastecimento da cidade. Mas este ano as
coisas mudaram: por conta da seca vivida pelo Estado, o reservatório
atingiu 8,4% de sua capacidade, uma baixa histórica. Isso fez com que a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tivesse
que acessar essa reserva. Foram instaladas bombas para retirar essa água
da represa e agora a cidade terá o abastecimento garantido até novembro
– pelo menos, é o que diz o governo. O problema com a solução
encontrada pela Sabesp, contudo, é a qualidade da água do volume morto.
Segundo promotores do Grupo de Atuação Especial para o Meio Ambiente
(Gaema) do Ministério Público de São Paulo, o risco dessa água para a
saúde pública é alto, já que ela pode estar contaminada por metais
pesados, como chumbo e cádmio. A contaminação pode causar problemas
renais e de tireoide, além de diarreias e doenças degenerativas, como
Parkinson e Alzheimer. Além disso, o tal volume morto não é tão morto
assim. No fundo dos reservatórios há seres vivos que ajudam a manter a
qualidade da água. “Estamos correndo o risco de literalmente matar todos
os habitantes do aquário”, diz o biólogo Fernando Reinach num artigo
publicado no jornal O Estado de S. Paulo.
2. Filtro de barro é bem eficiente para purificar água
As pesquisas compiladas no livro “The Drinking Water Book” (“O Livro
da Água Potável”, em livre tradução), de Colin Ingram, apontam que o
filtro de barro – aquele que sua avó provavelmente usa ou já usou – é o
mais eficiente do mundo. Ele é bom na retenção de cloro, pesticidas,
ferro e alumínio, além de também não deixar passar 95% de chumbo e 99%
de Criptosporidiose, parasita que causa diarreias e dor de barriga. O
trunfo do filtro de barro é o sistema de filtragem por gravidade: a água
passa devagar pela vela e pinga em um reservatório. Isso garante que os
microorganismos e os sedimentos filtrados não se misturem com a água
limpa. Mas lembre-se: nenhum filtro vai limpar a água completamente se
ela estiver contaminada.
3. Água mineral que vem em embalagem de vidro é melhor
As garrafas plásticas contêm uma substância chamada xenoestrógeno.
Essa substância, presente nos derivados de petróleo, tem o mesmo formato
do estrógeno e, por isso, se encaixa nos receptores desse hormônio em
nosso corpo. O excesso do xenoestrógeno pode engordar e até causar
celulite, segundo o médico Lair Ribeiro. “Se a pessoa só toma água
engarrafada em garrafas de plástico, pode estar consumindo o equivalente
a cinco pílulas anticoncepcionais por dia”, alerta. Já as garrafas de
vidro não apresentam esse mesmo problema e conservam a água pura.
4. Água pode ser remédio
É muito raro conferirmos o rótulo da garrafinha de água mineral antes
de pegar qualquer uma no supermercado. Mas cada água é diferente e tem
propriedades diferentes, de acordo com os minerais presentes em sua
nascente. Segundo o site da Associação Brasileira da Indústria das Águas
Minerais (Abinam), os sais minerais presentes nas águas minerais podem
contribuir com a saúde do organismo. Água com flúor é boa para a
prevenção de cáries; com sódio, beneficia músculos e nervos. O magnésio
previne hipertensão, enquanto o cromo regula as taxas de açúcar no
sangue. Cobre absorve o ferro na forma de hemoglobina, o manganês
auxilia o sistema reprodutivo. O zinco, o imunológico, e o cálcio
previne a osteoporose. Já os bicarbonatos e o sulfato fazem bem para o
estômago e para a digestão.
5. E também pode ser veneno
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de
80% dos casos de doenças em todo o mundo vêm do consumo de água
contaminada. A água pode trazer mais de 25 tipos diferentes de doenças,
como cólera, diarreias agudas e esquistossomose. Entre as crianças, a
água mata mais do que qualquer forma de violência, inclusive as guerras.
Daí a importância do acesso a uma água de boa qualidade, livre de
contaminações.
6. Água pode te deixar velho mais rápido
Tomar água com pH (potencial de hidrogênio) menor que 7,4 pode
acelerar o processo de envelhecimento. Quem defende essa ideia é o
cardiologista e nutrólogo brasileiro Lair Ribeiro. Ele explica que o pH
do nosso sangue é aproximadamente 7,4. Quando você consome alguma coisa
de pH diferente disso, o corpo tem que trabalhar para equilibrar esse
líquido. “Para alcalinizar o sangue, o corpo tem que acidificar algum
lugar – o coração, o cérebro ou algum outro tecido”, ele diz. E explica:
“Os bebês são básicos. Conforme vamos envelhecendo, nos tornamos mais
ácidos”. A conclusão é que, tomando uma água de pH menor que o do
sangue, você acelera seu processo de envelhecimento. Para quem já
esqueceu a aula de química, vale lembrar: pH igual a 7 é neutro. Abaixo
disso (1, 2, 3, 5 etc) é considerado ácido. Já pH acima de 7 (7,5, 8, 9
etc) é básico ou alcalino. No Brasil, somente algumas águas engarrafadas
têm pH superior a 7,5, e a água da torneira gira em torno desse número.
Então, não custa conferir o rótulo antes de comprar, né?
7. A água que você toma é a mesma que os dinossauros bebiam
A quantidade de água no mundo permanece praticamente a mesma há
muitos milhares de anos. O motivo para isso é aquela velha (e põe velha
nisso!) história do ciclo da água: a água evapora de lagos, rios, mares e
também na transpiração de seres vivos. Esse vapor forma as nuvens que,
quando ficam sobrecarregadas, descarregam em forma de chuvas. A água,
então, volta para a superfície terrestre e vai abastecer novamente
mares, rios, lagos e também lençóis subterrâneos. Em Minas Gerais, há
aquíferos (bolsões de água subterrâneos) que já existiam nos tempos dos
dinossauros.
8. O Brasil gasta muito mais água do que deveria
Para calcular o total de água potável gasta por um país, leva-se em
conta todos os recursos hídricos usados na sua produção de bens e
serviços. Além de tudo o que você compra, veste ou come, a conta inclui a
água gasta em produtos que são exportados. Quando a gente pega essa
enorme quantidade e divide pelo número de habitantes do país, o
resultado é surpreendente. Segundo a organização Water Footprint, o
gasto médio de água de um brasileiro (a partir do cálculo da pegada
hídrica nacional) é de 2027 m³ de água por ano. São mais de 2 milhões de
litros. Isso é 46,3% mais do que a média mundial, que é de 1385 m³ per
capita por ano. De toda essa água gasta no Brasil, a organização estima
que 9,2% vá para fora do país na forma de água virtual.
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