Vitorioso nas urnas, o Partido dos
Trabalhadores (PT) se prepara para completar 16 anos na Presidência do
país com o novo mandato de Dilma Rousseff. A longevidade do ciclo
petista, porém, contrasta com uma rejeição aparentemente cada vez mais
intensa ao partido por parte expressiva do eleitorado.
Dilma
venceu em 15 Estados, incluindo todos os do Nordeste, além de Minas
Gerais e Rio de Janeiro. Por outro lado, Aécio triunfou em 12 – entre
eles todos os da região Sul e São Paulo, o maior colégio eleitoral do
país.
Em cinco Estados – São Paulo, Santa Catarina, Acre, Distrito
Federal e Paraná -, o tucano venceu com acima de 60% dos votos válidos.
Nos demais, o ex-governador mineiro venceu com mais de 53%.
O
antipetismo foi explorado na campanha do tucano Aécio Neves, que na reta
final da disputa disse que "libertaria o país" do partido. Em textos e
vídeos difundidos nos últimos dias, alguns eleitores ilustres – como o
escritor Pablo Villaça e o ator Gregório Duvivier - relataram ter
sofrido ameaças ou ofensas de desconhecidos por terem decidido votar no
PT.
Adesivos de autoria desconhecida difundidos pelo país
associavam Dilma ao ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992),
incitando-a a deixar o poder e a "levar o PT junto".
O que explica esses acontecimentos?
Cientistas
políticos entrevistados pela BBC Brasil concordam que o discurso contra
o PT se tornou mais agressivo nesta eleição, e apontam razões que vão
do "desgaste natural" sofrido pelo partido nos 12 anos em que permaneceu
na Presidência à piora da economia no governo Dilma.
As pesquisas
não permitem concluir, no entanto, se a rejeição ao PT cresceu entre os
brasileiros ou se apenas se tornou mais intensa entre os que já
reprovavam o partido.
Em levantamento do Datafolha da última
sexta, 37% disseram que não votariam em Dilma "de jeito nenhum". O
índice chegava a 55% entre os eleitores com renda familiar mensal maior
que dez salários mínimos e a 86% entre os eleitores que preferem o PSDB.
A
rejeição a Aécio, contudo, era ainda maior: 41% disseram que não
votariam no tucano em hipótese alguma, número que chegava a 81% entre os
eleitores que preferem o PT.
Lentidão econômica
Para
David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de
Brasília (UnB), o fortalecimento do discurso anti-PT se deve
principalmente ao desempenho econômico do governo Dilma.
"A
economia está muito devagar especialmente neste ano, com PIB baixo e
inflação alta. O setor industrial está descontente, e a classe média
também."
Segundo o professor, a rejeição ao partido também reflete
uma piora na aprovação da presidente. A quatro dias do segundo turno em
2010, os brasileiros davam nota média de 6,8 ao então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Na pesquisa da última sexta, Dilma recebeu a nota
6,4.
Para Carlos Melo, consultor e professor de ciência política
do Insper, em São Paulo, o PT sempre foi um partido controverso e desde
sua fundação desperta sentimentos antagônicos entre os brasileiros.
Ele
cita algumas decisões polêmicas do partido, como sua oposição ao Plano
Real, à eleição de Tancredo Neves e a sua recusa em chancelar a
Constituição de 1988.
Para ele, em seu início, o
partido polarizava a sociedade ao dizer-se defensor dos trabalhadores e
ao criticar as classes dirigentes. A sigla, segundo Melo, se anunciava
ainda como moralizadora da política. Estas posições, diz o professor,
provocaram reações de outros partidos, que passaram a se posicionar como
anti-PT.
Segundo Melo, o malufismo – corrente do ex-prefeito
paulistano Paulo Maluf (PP) – foi um dos primeiros grupos a ocupar esse
posto. "Quando o malufismo se enfraquece, o PSDB, que era um partido de
centro, acaba migrando para a centro-direita e se coloca nesse papel."
'Mordeu a língua'
Ao
chegar ao governo, porém, Melo afirma que o PT "mordeu a língua". "Ele
foi obrigado a fazer alianças, a ceder recursos, e logo surgiram os
casos de corrupção."
O maior deles, o mensalão, provocou grande
turbulência no primeiro mandato de Lula e voltou a afetar a imagem do
partido no ano passado, quando importantes dirigentes petistas foram
condenados e presos.
O resultado do julgamento reforçou as críticas que associam o PT à corrupção.
Para
Renato Monseff Perissinotto, filiado ao PT e professor de Ciência
Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o partido errou ao se
envolver nesses escândalos, mas foi tratado de maneira injusta pela
grande imprensa.
Antes do governo Lula, diz ele, os principais
veículos não davam grande destaque aos partidos envolvidos em denúncias
de corrupção, mas sim aos indivíduos implicados.
"Construiu-se a ideia de que o PT era a fonte de todos os males do Estado brasileiro."
Para
ele, "não se trata de dizer que não houve corrupção". "Certamente
houve, mas a forma como os casos foram apresentados transformou o PT
numa agremiação inescapavelmente vinculada a esse tipo de
comportamento."
Perissinotto
diz que outros governos brasileiros populares ou de esquerda também
sofreram o mesmo tratamento, entre os quais o segundo mandato de Getúlio
Vargas (1951-1954) e a gestão João Goulart (1961-1964).
'Monopólios'
O
professor diz ainda que há outro motivo por trás da rejeição ao
partido: as políticas de inclusão social, que ganharam grande impulso
nos anos Lula.
"O PT quebrou três monopólios importantes: o do carro, o do aeroporto e o do título universitário. Isso incomodou muita gente."
Ele afirma, contudo, que o partido também tem sua parcela de responsabilidade pelo crescimento do antipetismo.
"O
PT fez uma demonização infantil da classe média, tachando-a de
conservadora, e deixou de tentar conquistá-la por meio de políticas como
a reforma tributária, a desburocratização do Estado e a melhoria dos
serviços públicos."
"Isso colaborou para que o antipetismo crescesse a um nível jamais visto." (BBCBrasil)
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