terça-feira, 26 de maio de 2015

Rádio de FM vai acabar

Heródoto Barbeiro*
O rádio de FM, a frequência modulada, vai acabar. Não é um erro de digitação. A Noruega anunciou que vai desativar todas as emissoras de rádio em FM em janeiro de 2017. Até lá as rádios vão se transformar em digitais. Com novos transmissores, o sinal é comprimido, usa formatos como o MP2 e é distribuído em sinal digital. Segundo o governo norueguês a razão é econômica e tecnológica. A emissão em digital acrescenta outros serviços a emissora, hoje não disponíveis, e o rádio acompanha as outras mídias que também se digitalizam. Na Grã Bretanha o fim do FM está marcado para 2022. Hoje a frequência modulada standard vai de 87,5 a 108 megahertz. Ela já foi um avanço em relação as AM, ou amplitude modulada, que é medida em kilohertz e enfrenta sérios problemas técnicos de propagação e por isso é considerada uma tecnologia ultrapassada. Contudo essa migração para o FM está ameaçada com o avanço acelerado da tecnologia.
A internet multiplicou o número de emissoras. Elas podem ser ouvidas em qualquer plataforma que o público desejar e a propagação se dá por wi fi ou telefonia celular. Assim, o aparelho de rádio hoje é qualquer gadget que tem acesso a internet. O número de emissoras é infinito, haja vista que, qualquer site pode ter a sua rádio. Da Caramelo, comunitária de Taiaçupeba, a uma grande emissora comercial. A profusão de rádios via web provocou uma fragmentação da audiência das grandes emissoras e, graças a nova tecnologia, a competição é de igual para igual. Começa com o alcance que é global para todas. Sindicatos, igrejas, empresas, ONGs,associações de todo tipo, sites pessoais, todos podem ter a sua emissora. Basta clicar para ouvir. Muitas disponibilizam imagem, e a interatividade vai do e-mail ao what´s app e uma série de novos aplicativos que surgem a cada dia. Assim, nenhum veículo de comunicação pode escapar das mudanças. Uns são conscientes e e se adaptam, outros resistem agarrados ao saudosismo ou a falta de investimentos. Darwin já dizia que os que sobrevivem não são os mais fortes, mas os que se adaptam.
O Brasil tem aproximadamente 1 700 rádios AM. Segundo uma regulamentação do governo todas vão se transformar em FMs. Algumas até já iniciaram o processo de mudanças para novas faixas estendidas , inferiores ao 87,5 onde estão todas as rádios comunitárias regulares. Isto se deve a falta de espaço para a migração de todas as emissoras interessadas em cada município. Contudo a maior parte delas não vai instalar um processo de digitalização. Vai ficar com o sinal analógico. Ele foi uma boa ideia que começou na década de 1920 e pelo jeito vai durar cem anos. Mas a válvula também foi uma boa ideia... Com todas as emissoras no FM a competição vai aumentar e pode chegar ao canibalismo. Vale a pena investir em uma tecnologia que já está condenada em alguns países do mundo? Esta é uma reflexão que os radio difusores brasileiros têm que fazer diante da enxurrada de novas possibilidades de propagação do áudio. Eu mesmo só ouço rádio no meu smart phone.

(*) Apresentador e editor-chefe do 'Jornal da Record News'. Já foi professor de história, carreira que seguiu por quase 20 anos. Na imprensa, passou por CBN, Rádio Globo, Jovem Pan, TV Cultura, TV Gazeta e Diário de S. Paulo. Edita o Blog do Barbeiro – Barba, Bigode e Cabelo, hospedado pelo R7.


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