sexta-feira, 29 de maio de 2015

Soluções para o setor leiteiro

         O governo do Estado busca soluções para o setor leiteiro que vive numa eterna crise pelos motivos mais diversos. Soluções existem, claro, mas qualquer medida terá que ser tomada ouvindo-se os produtores, e não os atravessadores e políticos, que não sabem a diferença ente um boi e um touro. Desde criança eu ouço falar na crise leiteira que tem nos períodos de longa estiagem (sêca) sua principal razão, o terror dos criadores de gado. Vez em quando aparece algum político querendo “ajudar” e apresentam velhas soluções que nunca deram certo e nunca darão. Cometem sempre os mesmos erros, porque só trazem em mente a demagogia, a politicagem, a enganação e a ganância. Aliam-se se a atravessadores, comerciantes, empresários, visando sempre o lado destes, nunca o dos produtores, que são a essência, a base do setor leiteiro.
         E estes, por sua vez, defendem-se como podem. Maltratados, espezinhados, explorados, abandonados à própria sorte, extorquidos e lesados das mais diversas formas, usam de artifícios (colocar água é o mais comum deles) para aumentar a produção, preservar o seu produto e baixar os custos. E nesta guerra surda, todos perdem, mas o mais prejudicado é o consumidor, que se vê forçado a adquirir um produto caro é de péssima qualidade, nocivo à saúde até.
         Eu, que passei boa parte da minha juventude numa fazenda de gado leiteiro e de corte, já vendi leite “in natura”, de porta em porta, aprendi a transformar o leite e fabricar, queijos, requeijão, manteiga e doces, sei muito bem onde está o gargalo. Qualquer produtor de leite, grande ou pequeno, letrado ou analfabeto, sabe que o leite é um produto altamente perecível. E é aí que a porca torce o rabo. Levar o leite para localidades distantes do centro produtor, é sempre arriscado. E se o leite chegar às unidades de beneficiamento e transformação já apresentando alguma acidez, o resultado pode ser desastroso.
         O ideal é resfriar o leite. Como a maioria dos produtores não possuem resfriadores, tome gelo dentro do leite, tome formol, água oxigenada e solda caustica. Vale tudo para preservar a integridade do leite, até mijo de vaca, para aumentar a densidade e o densímetro não acusar que o leite tem água em excesso. E ainda tem funcionários corruptor que recebem o leite na plataforma das usinas de beneficiamento e usam produtos para análise (alisarol é o mais comum) em maior ou menor grau, a fim de acusar, quando querem, que o leite está ácido e assim pagar menor por ele.
         Tudo seria mais simples, se, entendendo que o leite é altamente perecível, os produtores fossem incentivados pelo governo a adquirir resfriadores e veículos adequados para o transporte, através de programa que barateasse e facilitassem a aquisição destes equipamentos. As grandes empresas de beneficiamento poderiam ser incentivadas a ter suas próprias fazendas de gado leiteiro e nelas instalar suas fábricas, porque tudo passa também pela distância entre a coleta e o beneficiamento. As grandes empresas também deveriam concentrar-se no mercado do leite em pó e nos sub produtos do leite ou que dele se utilizam (manteiga, queijos, doces, etc.) e deixando aos pequenos produtores o mercado do leite in natura, tão apreciado pelos consumidores.
         Eu teria muito mais idéias, soluções e sugestões a apresentar sobre a produção e o mercado do leite e seus subprodutos. Mas, quem disse que nenhum governo está realmente interessado em solucionar estes problemas? Pior ainda. Quem iria querer me dar ouvidos?  Nos anos 60. Na fazenda à qual me referi, o proprietário já tinha um resfriador instalado ao lado do curral, fazia duas ordenhas por dia, uma à tarde e outra pela manhã. Como ele estava há apenas 30 KM da cidade, o leite chegava cedinho e gelado na porta dos consumidores. Chegou uma grande usina beneficiadora na cidade, acabou como negócio dele e mais tarde fechou as portas. Nem mel, nem cabaça. Foi assim há 40 anos, ainda é, e, pelo andar da carruagem, sempre será.


Nenhum comentário: