O pior que
pode nos acontecer é julgarmos com torcida. E não é fácil escaparmos desta
armadilha, pois, ela exige vigilância permanente. Então vamos lá, sem tentar
fazer a opinião combinar com a torcida:
1- Calero fez muito bem em denunciar Geddel, mas é
inadmissível gravar "conversas protocolares" da Presidência da
República. E justificar que amigos da Polícia Federal, um órgão do
Estado, o aconselhou a grampear de forma clandestina o Presidente é perder
completamente a noção do que está dizendo.
2- Tirando as aberrações – o inadmissível teste de
honestidade, limitação de habeas corpus, provas ilícitas colhidas de boa fé,
pois, sabe-se lá a relatividade da boa fé-, que tinha cara de fascismo
judiciário, as 10 Medidas são um grande avanço. Felizmente os excessos foram
contidos. A desfiguração posterior pelos deputados foi um golpe contra a
Sociedade e de preservação criminal, afinal, são quase todos culpados.
3- A equipe da Lava-Jato pode fazer campanha pela
aprovação das 10 Medidas, mas não pode encurralar o Poder Executivo dizendo: se
Temer não vetar, renunciamos. São 2 poderes da República e um não pode tentar
impor pela ameaça ou chantagem uma decisão do outro.
4- É preciso sim, uma Lei de Abuso de Autoridade. O
que não falta no país é abuso de autoridade e todos sabemos as mazelas do
Judiciário. O juiz Moro, aliás, fez só um reparo a lei no debate do Congresso.
Ela precisa ser mais discutida, revisada, feito consultas técnicas, e,
enfim, aprovada, embora não possa, evidentemente, seguir, apenas, o texto
de Renan Calheiros.
5- Moro e Deltan dizerem que não é hora de votar a
Lei de Abuso não tem nada a ver. Porque seria hora de votar as 10 Medidas que
aperta o Legislativo, mas não seria hora de votar a Lei de Abuso, que aperta o
Judiciário? A Lava-Jato pode usar o momento de indignação nacional para aprovar
as 10 Medidas, mas o Legislativo não pode usar o momento para aprovar a Lei de
Abuso? Ou pode-se fazer as duas, ou não pode-se fazer nada. Cabe, apenas, fazer
bem feito. O resto é corporativismo.
6- Concordo, no entanto, que deveriam ser projetos
SEPARADOS e não no mesmo pacote porque aí fica parecendo retaliação, não
se debate a lei corretamente e ambas acabam desfiguradas.
Às vezes faz-se o certo pelos motivos errados. E
vice-versa.
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