Aos
16 anos eu trabalhava numa indústria depois de ter sido comerciário. Já no
comércio eu sentia a animosidade silenciosa entre patrões e empregados. Na
indústria foi pior. Eu era um aprendiz e me esforçava para desempenhar bem as
tarefas que me eram confiadas, mas não sentia o mesmo empenho nos veteranos.
Logo conquistei a confiança do chefe do meu setor e, como não era especialista
em nenhuma área, virei “pau pra toda obra”, um tipo de trabalhador que a gente
costumava chamar de “peão de trecho”. E sempre me saía bem.
Foi assim que quando a fábrica recebeu
modernas máquinas alemãs de fazer bobinas elétricas para reatores, eu e um
colega (alô Hélio Tapioca) fomos os primeiros escolhidos para operá-las.
Modéstia à parte, eu era habilidoso e sempre buscava um meio de fazer melhor o
que eu me propunha a fazer. Foi assim quando aprendi a fazer balões juninos. Aperfeiçoei
tanto que vendia para as barracas de fogos. Mas, voltando às bobinas, o começo
foi ruim, mas fui pegando o jeito e tanto eu quanto meu colega fazíamos cerca
de 15 bobinas/dia. Eu percebi que estava perdendo tempo na parte manual, que
era acamar as espiras com um pedaço de madeira e um martelo de borracha. E isso
era feito com a máquina parada a cada camada pronta. Aí minha boa e velha
coordenação motora me acudiu. Treinei e obtive sucesso acamando as espiras sem
parar a máquina, dobrando assim a minha produção. O colega viu como eu estava
fazendo e seguiu meus passos.
Na minha juventude e inexperiência, eu
acreditava que aquilo poderia se traduzir em algo mais substancial do que
elogios por parte dos chefes (um bônus, um aumento) mas, qual o que. E enquanto
eu dava o meu melhor, via os colegas tomando cafezinho, fumando cigarro no banheiro,
matando o tempo e jogando conversa fora. Não deu outra. Quando o reconhecimento
monetário não veio, depois de alguns meses, eu passei a agir como os colegas
porque, afinal, o salário deles era igual ao meu e alguns ganhavam até um pouco
mais, fazendo o mesmo que eu fazia.
Claro que foi um erro. Mas, graças a
Deus, eu que havia abandonado a escola por rebeldia, recebi do meu irmão a
chance de voltar a estudar ter uma mesada para minhas pequenas despesas
juvenis. Conclui o segundo grau fiz vestibular e num piscar de olhos estava na
Universidade. Mas, naquela fábrica eu aprendi algumas coisas e tive algumas
idéias que depois vi executadas por empresas mais modernas. Por exemplo, prêmio por produtividade. Claro.
Por que não? O melhor trabalhador tem que ganhar mais que o preguiçoso. Prêmio
por idéias. Na Pirelli eu vi funcionário que comprou carro novo só com prêmios
por idéias que geravam economia para a empresa ou aumentavam o desempenho das
máquinas e dos operários. E ali também eu entendi que não adiantava eu desejar
o insucesso da empresa porque os patrões eram ruins. Aquele trabalho era o que
eu tinha para sobreviver e se a empresa fechasse eu não teria patrão
algum. Melhor continuar, me aprimorar e
buscar um trabalho melhor ou uma empresa melhor.
Os americanos têm uma máxima que sempre
segui na minha vida cotidiana, e ela se aplica ao trabalho: “Faça o que fizer,
faça melhor”. Ensinei isso aos meus filhos. Senão para agradar aos chefes,
principalmente para minha própria satisfação, porque para mim não havia
recompensa e prazer maior do que um trabalho bem feito. Naquela época eu já
tinha conhecimento sobre as teorias marxistas e o comunismo. Mas, logo vi que aquilo
não daria certo. Não há trabalho sem capital e vice-versa. O empreendedor com
capital cria a empresa e paga a operários para trabalhar. A coisa só fica ruim
quando o empresário é um explorador que não reconhece o valor dos seus
funcionários e não lhes dá perspectivas de crescimento. Mas, isso é um problema
dele, e não do trabalhador. Tramar por sabotar e empresa até o seu fechamento,
é que se chama dar um tiro no próprio pé. Se está ruim, lutemos para mudar de
emprego.
O princípio marxista prevê todos na
comunidade trabalhando e distribuindo o ganho por todos. Mas isso é uma utopia.
E o que hoje se denomina comunismo, é um pequeno grupo capitalista, escravizando
uma massa de trabalhadores. A melhor definição que eu ouvi sobre o comunismo de
hoje em dia foi: “Comunista é um sujeito que não faz nada, não tem nada, e quer
dividir o que é dos outros”. Comigo não violão. Quer ter vida boa, vá
trabalhar. O que conquisto eu só divido se quiser e com quem eu quiser, nunca
com vagabundos.
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