quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump, a cegueira, o fio da navalha



A grande surpresa com a vitória de Trump é a surpresa com a vitória de Trump. Os sinais e os ingredientes já estavam lançados. Não se pode atribuir o resultado apenas a uma causa. Na base, existe um período de insegurança econômica, depois da crise que os EUA viveram e da qual ainda não se recuperou completamente; o desemprego, este ponto vital de uma Sociedade empreendedora como a americana; a ameaça permanente da violência gerada pelo terror-externamente- e pelos excessos policiais-internamente-; a tensão  social causada pela agenda democrática com o protagonismo dos direitos das minorias, multiculturalismo, feminismo, que gera uma reação mais conservadora.

Há, também, a imigração, que muitos julgam resultar em perda da identidade do povo, perda de vagas de trabalho, sobrecarga do sistema de saúde.  Tudo isto resulta na  sensação de perda de poder do império americano, nação que sempre ocupou o lugar de xerife do mundo. 


            Ao lado da desigualdade social que tem se acentuado, não se pode subestimar a capacidade de comunicação de Trump, que manipulou seu discurso percebendo que havia um público específico para isto, diante de uma adversária absolutamente indigna de confiança como revelam os e-mails vazados sobre ela e herdeira da política de Obama que gerou a situação atual.

A combinação de certa convulsão social, insegurança econômica, medo da violência, criam o ambiente estrutural preciso para que as pessoas busquem a mudança através de um líder forte, que parece autêntico, com defeitos iguais aos eleitores, corajoso, que diz o que pensa, parecendo  responder  aos anseios das pessoas,  e que apelou  ao nacionalismo  prometendo recuperar a grandeza do país. Não há surpresa no surgimento do cavaleiro solitário salvador da pátria.

Trump tem todos os defeitos que lhe são apontados, mas tem a habilidade -ou esperteza- comercial que o fez bilionário e sabe que a América é negócio.  A paz é negócio.  Não é a toa que já abandonou o discurso caricato, agressivo,  e fez um apelo a conciliação. Trump fará negócios - para o bem e para o mal- mas negócios e estes negócios, talvez, equilibrem mais o mundo do que esperamos.  No intervalo causará estragos na agenda,  digamos,  mais progressista, mas  sabe o que quer ganhar, ao contrário da Hillary, que incorpora o pior da dissimulação.  

A surpresa com a vitória deriva da escravidão e cegueira intelectual com a agenda dos Democratas, mais do que o olhar objetivo sobre os fatos. Trump não é o melhor do que podíamos ter, mas não será o apocalipse que estamos apostando, embora certos grupos não venham a ter vida fácil.

O mundo já está no fio da navalha. Não será Trump que o levará para lá.



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