sexta-feira, 22 de março de 2013

A carta de uma leitora


         Recebi uma carta de uma leitora, e como ela deve haver muitas, defendendo a Lei Seca e expondo os “excelentes resultados”  colhidos por ela e sua família. Antes de comentar sobre a carta, é necessário que eu diga que já bebi tudo o que podia e não podia, e nem por isso saí por aí atropelando pessoas, espancando minha mulher e filhos, ou tomando qualquer atitude condenável. Contudo, já entrando na terceira idade, a bebida começou a afetar a minha saúde e há cerca de um ano tomei a decisão de não beber mais. Ninguém me proibiu.
         E é aí que está a X da questão. Tudo que é proibido é desejado e resulta em corrupção, delito e castigo. Está na Bíblia. Deus deu a Adão e Eva o Paraíso, onde tudo era permitido. A única proibição era comer a maçã. Porque era proibido, o fruto foi desejado. A serpente tentou Eva (corrupção), que comeu a maçã e (delito) foi expulsa do Paraíso. E com ela foi Adão, que corrompido por ela também comeu do fruto proibido. Ela foi condenada a sofrer as dores do parto e ele a ganhar o sustento da família como o suor do rosto (castigo).
A leitora agradece às autoridades que criaram a Lei Seca, “que está ajudando a salvar vidas de motoristas e pedestres”. Mas as autoridades, principalmente as policiais, estão apenas evitando trabalho. Para eles seria ótimo se todos fossem de casa para o trabalho e vice versa, sem ir a bares, festas, viagens, nada que possa gerar ocorrências que lhes dê trabalho. É como se dissessem: Trabalhem e fiquem em casa, para não nos dar trabalho. Mas nós trabalhamos e pagamos seus salários para que eles nos atendam nas nossas necessidades, e não para que fiquem de pernas para o ar. Senão, para que polícia?
A leitora também fala do “resgate da célula mater da sociedade, que é a família”. Sejamos sinceros: É a bebida a causa principal do esfacelamento das famílias, ou é a falta de educação e de Deus no coração das pessoas? E ninguém diga que o álcool é coisa do demônio. Afinal, o primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho para que uma festa de casamento não acabasse em vergonha para os noivos.
A mulher agredida pelo marido bêbado deve lembrar que “in Vino Veritas - No vinho está a verdade” como afirmavam os antigos romanos. Com isso eles queriam dizer que a embriaguez soltava a língua e fazia a verdade vir à tona. Ou seja, naquele momento de embriaguez o marido está revelando o que ele realmente é e o que sente por ela. Ele pode até deixar de beber e o casamento sobreviver apenas de aparência, porque sóbrio o marido não se revela. Com certeza seriam mais felizes separados.
         Por fim, digo que o bem estar da família, propalado pela leitora, durará apenas até o tédio dominar suas mentes. Não há amor e harmonia que resista à solidão de uma cadeia, mesmo que ela seja o seu lar doce lar.
Felicidade rima com liberdade. E estas coisas não há dinheiro que compre.

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