A
fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas para consumo foram banidos
nos Estados Unidos de 1920 a 1933. Num primeiro momento houve um grande apoio à
medida, mas depois o comércio e consumo ilegal de bebidas se tornaram
corriqueiros, com o governo fazendo vistas grossas.
Traficantes e comerciantes ilegais montaram então grandes esquemas que lucravam
com o consumo ilegal, como o fazem hoje os traficantes de drogas ilegais no
Brasil. Passam então a dominar os milionários negócios com bebidas, corrompendo
policiais, elegendo políticos e matando seus concorrentes.
A embriaguez
era condenada e punida, mas apenas como um abuso de uma bênção divina. A bebida
em si não era considerada culpada, da mesma maneira que não se culpa a comida
pelo pecado da gula.
Excesso fazia parte de uma indiscrição pessoal. Quando esses controles
informais falhavam, havia sempre as medidas legais.
Mas, diante do rigor da Lei
Seca, surgiram os speakeasies, bares clandestinos em que seus frequentadores
consumiam seus tragos de forma discreta. Outros consumidores faziam de tudo
para produzir bebidas caseiras de baixa qualidade e, em alguns casos,
extremamente tóxicas. Contudo, quem acabou ganhando espaço em meio à
ilegalidade foram os gângsteres, que contrabandeavam o produto do Canadá e da
Austrália para os vários centros urbanos dos EUA.
Com o estouro da crise
econômica, em 1929, a oposição à Lei Seca acabou ganhando mais força. Desta
vez, os partidários da revogação alegavam que a liberação das bebidas seria uma
boa alternativa para a geração de novos empregos no país. Em março de 1933, o
governo americano liberou a produção de cerveja. Nove meses mais tarde, a Lei Seca
foi derrubada por completo e, ainda hoje, é a única lei revogada na
Constituição dos Estados Unidos da América.
Do ponto de vista prático, o
fracasso da Lei Seca mostrou que a criação de leis que atingem a liberdade
individual é um assunto de grande delicadeza. Segundo alguns estudiosos, a
violência ligada ao contrabando acabou ocupando e alargando o espaço de todos
os crimes ligados ao consumo de álcool. Além disso, ficou claro que nenhuma
imposição jurídica tem autonomia para banir hábitos já instalados em uma
cultura.
Em vez de acabar com os
problemas sociais atribuídos à bebida, a Lei Seca fez o contrário. A medida
desmoralizou as autoridades e foi um estímulo à corrupção. Mas por que a nação
mais poderosa do mundo deu tanta importância para as bebidas a ponto de
proibi-las? Boa parte da resposta parece estar no protestantismo predominante
nos Estados Unidos, que inclui a idéia do “Destino Manifesto”: os americanos
seriam o povo eleito por Deus para guiar o mundo. Para manter a nação no
caminho certo, a sobriedade deveria ser estabelecida por decreto.
Aqui a Lei Seca é um pouco
diferente, mas os resultados serão os mesmos. Talvez piores.
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