terça-feira, 26 de março de 2013

O espiritismo verde e amarelo



O espiritismo não é nenhum seguimento religioso nem tampouco uma referência em adesão à reforma moral. O espiritismo é um grupo minoritário e por vezes receoso de galgar novos degraus, mesmo amparado por consistentes embasamentos científico-espirituais. È um grupo bastante cauteloso.

Quando Denizard Rivail começou sua codificação espírita, lá pelos anos de em 1857, na França, sua intenção era padronizar os fundamentos dessa doutrina dando-lhe bases comuns e científicas em qualquer parte do mundo. A doutrina se espalhou por alguns países da Europa.

Segundo Divaldo Pereira Franco, espiritismo no Brasil surgiu por volta de 1845, no distrito de Mata de São João, Província da Bahia, bem antes da codificação de Kardec, portanto, no Brasil já conhecíamos o espiritismo bem antes do que se imagina. Basta mergulharmos na história para percebermos que nosso espiritismo recebeu influências dos cultos afros, pincelado com as tradições indígenas, além das fortes tradições católicas.

Anos depois, em janeiro de 1884, surgia na cidade do Rio de Janeiro a FEB - Federação Espírita Brasileira com uma linha espiritual bastante científica tal qual era o kardecismo na França. Cinco anos depois, em 1889, surgiu um “racha” na FEB entre os tradicionais espíritas e os que tentavam implantar no espiritismo brasileiro, um cunho místico com fortes pinceladas do catolicismo. Um nome que participou desse movimento para mistificar o espiritismo (dar um caráter religioso) foi o Doutor Bezerra de Menezes pois este vinha de uma família eminentemente católica. Esse “racha” quase levou a FEB a extinção.

Nove anos mais tarde, Bezerra é convidado e eleito como o novo presidente da Federação Espírita Brasileira e assim ele implantou o estudo sistemático de "O Livro dos Espíritos".

Podemos dizer que Bezerra bebeu de seu próprio veneno quando se deparou com sérias resistências fortíssimas, mas não cambaleou. Alguns costumes, oriundos do catolicismo, foram implantados no espiritismo e Bezerra foi, por duas vezes, presidente dessa federação.

O estudo do evangelho continua até hoje e é uma inovação no espiritismo de Kardec, uma coisa tão avançada que, até pouco tempo, só existia aqui no Brasil.

O jeitinho brasileiro não parou por aí. No espiritismo de Kardec não havia o procedimento de “passes terapêuticos” como é praticado hoje. Esse costume de transferência fluídica foi herdado dos pajés e também dos escravos africanos que mantinham suas tradições religiosas no território brasileiro.

No espiritismo de Kardec também não havia seções de desobsessão como é praticada hoje. Kardec nem citava essa prática em seus ensinamentos. Isso foi copiado, por força do acaso, dos rituais indígenas, como a pajelança, e também das tradições Afro-umbandista que a praticavam para espantar espíritos maus de algum lugar ou do corpo de alguém.

Enquanto o espiritismo brasileiro se modernizava, o espiritismo da Europa enfrentava as mais severas resistências, pois lá estavam as verdadeiras tradições do catolicismo.

Mais tarde o Brasil se levantaria para ajudar o espiritismo no mundo, principalmente na França, Portugal e Espanha mostrando-lhes um autêntico espiritismo kardecista, porém nas cores verde e amarela.

  Conrado Dantas

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