O espiritismo não é nenhum
seguimento religioso nem tampouco uma referência em adesão à reforma moral. O
espiritismo é um grupo minoritário e por vezes receoso de galgar novos degraus,
mesmo amparado por consistentes embasamentos científico-espirituais. È um grupo
bastante cauteloso.
Quando Denizard Rivail começou sua codificação espírita, lá
pelos anos de em 1857, na França,
sua intenção era padronizar os fundamentos dessa doutrina dando-lhe bases comuns
e científicas em qualquer parte do mundo. A doutrina se espalhou por alguns
países da Europa.
Segundo Divaldo Pereira Franco, espiritismo no Brasil surgiu por
volta de 1845, no distrito de Mata de São João, Província da Bahia, bem antes
da codificação de Kardec, portanto, no Brasil já conhecíamos o espiritismo
bem antes do que se imagina. Basta mergulharmos na história para percebermos
que nosso espiritismo recebeu influências dos cultos afros, pincelado com as
tradições indígenas, além das fortes tradições católicas.
Anos depois, em janeiro de 1884, surgia na cidade do Rio de
Janeiro a FEB - Federação Espírita Brasileira com uma linha espiritual
bastante científica tal qual era o kardecismo na França. Cinco anos depois, em
1889, surgiu um “racha” na FEB entre os tradicionais espíritas e os que
tentavam implantar no espiritismo brasileiro, um cunho místico com fortes pinceladas
do catolicismo. Um nome que participou desse movimento para mistificar o
espiritismo (dar um caráter religioso) foi o Doutor Bezerra de Menezes pois
este vinha de uma família eminentemente católica. Esse “racha” quase levou a
FEB a extinção.
Nove anos mais tarde, Bezerra é convidado e eleito como o novo
presidente da Federação Espírita Brasileira e assim ele implantou o estudo
sistemático de "O Livro dos Espíritos".
Podemos dizer que Bezerra bebeu de
seu próprio veneno quando se deparou com sérias resistências fortíssimas, mas
não cambaleou. Alguns costumes, oriundos do catolicismo, foram implantados no
espiritismo e Bezerra foi, por duas vezes, presidente dessa federação.
O estudo do evangelho continua até
hoje e é uma inovação no espiritismo de Kardec, uma coisa tão avançada que, até
pouco tempo, só existia aqui no Brasil.
O jeitinho brasileiro não parou
por aí. No espiritismo de Kardec não havia o procedimento de “passes
terapêuticos” como é praticado hoje. Esse costume de transferência fluídica foi
herdado dos pajés e também dos escravos africanos que mantinham suas tradições
religiosas no território brasileiro.
No espiritismo de Kardec também
não havia seções de desobsessão como é praticada hoje. Kardec nem citava essa
prática em seus ensinamentos. Isso foi copiado, por força do acaso, dos rituais
indígenas, como a pajelança, e também das tradições Afro-umbandista que a
praticavam para espantar espíritos maus de algum lugar ou do corpo de alguém.
Enquanto o espiritismo brasileiro se
modernizava, o espiritismo da Europa enfrentava as mais severas resistências,
pois lá estavam as verdadeiras tradições do catolicismo.
Mais tarde o Brasil se levantaria para
ajudar o espiritismo no mundo, principalmente na França, Portugal e Espanha
mostrando-lhes um autêntico espiritismo kardecista, porém nas cores verde e
amarela.
Conrado Dantas
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