A decisão recente da Unesco, a agência da Organização das Nações Unidas para educação e cultura, de nomear Salvador como "cidade da música" só reforça algo que para mim ficou bem claro quando morei na Bahia.
O brasileiro, em geral, e o baiano,
em particular, tem uma relação especial e intensa com a música, que não existe
da mesma forma no meu país, a Inglaterra. Os ingleses gostam muito de música,
mas não podem ser comparados ao amor dos brasileiros pelos ritmos.
Invariavelmente a segunda pergunta
que me faziam ao me conhecerem em Salvador era: "Que tipo de música você
gosta?" Vinha logo depois do tradicional "Muito prazer. Você tem
Whatsapp?"
A capital baiana se divide em várias
tribos musicais, todas muito apaixonadas pelos seus gêneros favoritos. Uns
ODEIAM pagode ou arroxa, outros ADORAM MPB. Há alguns que só querem saber de
forró, outros de samba, e por aí vai.
Aprendi uma frase que para mim
resume a paixão do povo pela música: "O baiano não nasce, estreia."
Eu sei que generalizo e toda
generalização comete erros. Claro que nem todo baiano gosta tanto assim de
música ou "leva jeito para música" como se diz por lá. Peço desculpas
aos que se sentiram incluídos indevidamente.
Mas foi apenas através da música que
consegui ir além da imagem clichê que tinha do Brasil formada pelo que ouvia na
Inglaterra.
Só consegui me livrar dessa imagem
estereotipada quando comecei a aprender a música da Bahia.
Percussão
A música que ouvi na Bahia causou um
profundo impacto em mim, e é algo que vou carregar pelo resto da vida.
Confesso que antes de chegar a
Salvador conhecia pouco a música brasileira.
Garota de
Ipanema e Mais
que Nada era tudo que já tinha ouvido.
Aos poucos fui sendo atraída pela
batida que ouvia pela cidade, quando dei por mim já amava o ritmo e esse amor
já beirava a obsessão. Eu toquei bateria e percussão orquestral na Inglaterra,
mas tocava com partitura, reproduzia em som cada colcheia e semicolcheia
escrita, bem preto no branco.
Mas depois de ouvir o Olodum
ensaiando nas ruas do Pelourinho decidi aprender a tocar como eles. Me
matriculei num curso de percussão afro-brasileira, onde aprendi ritmos de
Candomblé.
*Malika Shah é Estudante da Universidade de Oxford e uma das blogueiras do 'Para Inglês Ver'
Nenhum comentário:
Postar um comentário