sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O carnaval da Bahia e seu ‘apartheid’ camarada

O carnaval da Bahia e seu ‘apartheid’ camarada
“Uma gente que ri, quando deve chorar
e que não vive, apenas agüenta” ( Milton Nascimento)

Comecei a pular carnaval no início dos anos oitenta. A gente ia para a Avenida Sete - não existia o carnaval da Barra - e então ficávamos vendo o movimento até o início da noite, quando voltávamos para casa para fazer um “pit stop” e aguardar a hora de irmos para os clubes. Bahiano de Tênis, Associação Atlética, Clube Espanhol, entre outros, rivalizavam quem fazia o melhor baile e quem atraía mais gente para o “corre-corre lambretinha” do salão. Nesta época, a Praça Castro Alves era do povo, como o céu é do avião, como cantava o poeta Caetano.
Hoje levaram o clube para as ruas, em uma espécie de baile a céu aberto. Privatizaram o carnaval e industrializaram a folia, que se sofisticou e, o que era uma alegre e despretensiosa brincadeira entre carnavalescos de outrora, um belo ócio, virou negócio, comandado por profissionais que não brincam em serviço. Vendem a “felicidade” com muita competência e atrações de décadas como se fossem novidades, numa mesmice animada.
Vivemos no carnaval, desde então, e agora em 2009 não foi diferente, uma espécie de ‘apartheid’ camarada, onde temos os dois lados do nosso Brasil desfilando na Avenida. De um lado, a glamourização dos camarotes, cada vez mais suntuosos, com um desfile de celebridades e candidatos à celebridade, aproveitando-se muito bem de uma das maiores vitrines eletrônicas do mundo, que é a transmissão pela TV para centenas de países. Muita comida e bebida numa espécie de “A burguesia vai ao paraíso”. O “Castelo de Caras” é aqui e agora!
Do outro lado, a nossa alegre gente, “quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão” (palhaços no sentido não pejorativo, mas aquele que ri quando deve chorar). Gente que de “dona da rua”, agora é convidada a tomar posse da parte que lhe cabe na festa, se divertir espremido na pipoca e faturar um troco, como cordeiro (diária de R$ 26, 00), catadores de latas, vendedores de isopor, guardadores de carros e afins. Muita porrada e empurrão para o povão. O Haiti é aqui e agora!
Engraçada é a equação da festa. A Prefeitura, já combalida em suas finanças, fica com o prejuízo. Socializam o custo da festa com a população, usam até dinheiro da merenda escolar e da saúde para o carnaval, como declarou o prefeito e privatizam o lucro, numa espécie de Hobby Hood às avessas. Tiram dos pobres para dar para os ricos.
Mas o mais incrível mesmo é o cenário onde é produzido e acontece esta notável festa. Salvador, vendida como a terra da alegria, é uma violenta capital, com índices sociais tão negativos e com uma brutal desigualdade social, onde hordas de excluídos perambulam por aí e a miséria aflora por todos os lados. Que mágica é essa? Não sei, só acho que é isso que faz da nossa Roma negra, um lugar plural, que fascina tanta diferente gente. Terra onde convivem brancos e negros (a grande maioria), o sagrado e o profano, o catolicismo e o candomblé, o canto erudito do Mosteiro de São Bento, o samba de roda e o axé. Um verdadeiro monumento à diversidade e à magia. Assim é a nossa pobre e alegre Bahia e seu ‘apartheid’ camarada.

Victoriano Garrido Filho. Professor do Núcleo de Pós-graduação da UNIFACS, Ruy Barbosa, UNEB e UFBa.
www.professorgarrido.com.br

Artigo

Se queres a paz, prepara a guerra”

A frase é de Nicolau Maquiavel, e foi proferida em seus conselhos ao
Príncipe. Na linguagem popular, dir-se-ia que “quem tem fio-o-fó, tem medo”. Contra a força não há argumento. Se alguém, ou alguma cidade, estado ou país, deseja ser respeitado, tem que mostrar-se forte. Se a memória não me falha, é de Esopo uma fábula sobre o lobo e o carneiro. Segundo ele, estava o carneiro a beber água no córrego, quando chegou o lobo e disse que ele estava sujando a água que ele, o lobo, estava bebendo. O carneiro argumentou que aquilo era impossível, pois ele estava bebendo rio abaixo e o lobo rio acima. De nada serviram os justos argumentos do carneiro, pois o lobo fez valer a sua força e matou o carneiro.
Quando o agressor decide agredir, argumentos não bastam. A vítima tem que se mostrar forte, se não quiser ser agredida. Mas isso é só um princípio básico para o respeito mútuo. A violência que grassa em todo o País, tem origem na impunidade, na injustiça social. E no Brasil toda a organização social e política está mergulhada no caos. Inocentes ou reles ladrões de galinha estão presos, enquanto perigosos bandidos estão soltos.
Juízes corruptos, vendedores de sentenças, policiais mal pagos, mal armados e desprovidos de qualquer técnica mínima ao desempenho das suas funções. Governantes que preferem investir em festas, em prejuízo da educação (vide, o prefeito de Salvador, tirando a merenda da boca dos estudantes para investir no Carnaval). Direitos humanos exigidos para os bandidos em prejuízo das suas vítimas.
É cometida toda sorte de crimes, além da agressão física direta entre indivíduos. Crimes contra a ética, a economia, às gestões públicas, ao meio ambiente, aos direitos dos cidadãos, entre outros. Está certo o arcebispo metropolitano, Dom Itamar Vian, quando diz que “Segurança Pública é dever do Estado, e que ela também é direito e responsabilidade de todos, e que deve ser exercida para a preservação da ordem pública e da integridade das pessoas e de seus bens”.
Quando o governo desarmou os cidadãos de bem, deu aos bandidos carta branca para agirem livremente, certos de que não haveria reação e, com o poder Judiciário corrompido, ineficaz e inoperante, só restou ao cidadão as lágrimas.
É também de Maquiavel a frase: “Os fins justificam os meios”. Quis dizer ele, entre outras coisas, que o uso da força é necessário quando falham os argumentos. Mas a bandidagem e os inocentes úteis fizeram o povo acreditar que Maquiavel era um monstro a serviço dos poderosos. Eu defendo o uso da força para combater a bandidagem. Se isso é ser “maquiavélico”, eu o sou desde criança.

Nicolau Maquiavel, em
italiano Niccolò Machiavelli, (Florença, 3 de Maio de 1469 — Florença, 21 de Junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pela simples manobra de escrever sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser.