Meu filho caçula já sofreu diversas
tentativas de assalto. Apesar dos nossos conselhos, reagiu a todas e ainda está
aqui conosco. Agora eu recebo a notícia de que a filha dos meus compadres,
Marcílio e Gel, padrinhos do meu caçula, perderam sua filha Jéssica Juliana
(complicações no parto), carinhosamente chamada por todos nós de July. Fico
pensando em como eu reagiria se tivesse perdido algum filho, porque, apesar de
tudo que sei e da minha espiritualidade, a partida de alguém jovem sempre me
deixa triste.
Sei que July cumpriu a sua missão aqui
e retornou à casa do Pai para receber outra missão, senão aqui mesmo, mas em
outro lugar, porque a casa do Pai tem muitas moradas. Mas ela partiu deixando
aqui o pequeno Enzo Gabriel, e sempre que olharmos para ele iremos lembrar de alguém
alegre, feliz, respeitoso, trabalhador, inteligente, humilde, enfim, cheio de
qualidades que compensem os seus defeitos, pois todos nós os temos. Enzo veio
para servir de missão para os que ficaram. Sei que não lhe faltarão amor,
amizade e cuidados.
A partida prematura de July me faz
pensar nos versos do poeta que disse: “Penso que cumprir a vida seja
simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Como um velho
boiadeiro vou tocando os dias pela longa estrada...”. E é assim que eu vejo a
humanidade. Sejamos nós boiadeiros, bois, ponteiros, batedores, tangedores,
cozinheiros, provedores, animais de carga, curandeiros ou cães de guarda, cada
um de nós vai cumprindo a missão que lhe foi confiada na jornada da vida.
Sei que alguns dão o melhor de si,
outros nem tanto. Alguns reclamam sempre e outros são gratos por encontrarem um
lugar na comitiva. Alguns trabalham bem outros não. Outros sequer trabalham e
vivem à custa do trabalho dos outros. Mas, no final da jornada, cada um
receberá o que bem mereceu. E desde o dia em que chegamos, assim que adquirimos
consciência da nossa existência, sabemos que a jornada vai terminar sem aviso
prévio. É a única constante na nossa vida. A única certeza, pois, como temos
livre arbítrio e inteligência, tudo mais dependerá das escolhas que fizermos.
São inúmeras as variáveis.
Já vivi mais da metade da minha vida e
já encarei dona Morte diversas vezes e não vivo pensando nela. Não há nada que
eu possa fazer em relação a ela. De sorte que, apesar do impacto que sofri com
a notícia, logo me recompus e fiz a seguinte oração por July: Senhor Jesus,
ilumina o caminho dessa nossa irmã; Maria, mãe de Jesus, proteja-a com seu
manto sagrado. Deus, nos dê força, coragem e sabedoria para melhor empreendermos
as jornadas e missões que nos confiar!
Cristóvam Aguiar