Toda mulher é uma língua.
Própria. Um dialeto individual, composto de códigos e símbolos a ser
percorrido, para ser plenamente vivido, em lentidão torturante. Toda
mulher é um confessionário de teus desejos, pois, mais que ver, ela
precisa ouvir para crer, afinal, ela não ama o que está ao relento,
exposto, mas o que se revela na bateia, na lavoura de decifrar o que
você lhe diz. Ou sonega.
É tua homilia e discurso que a possui e domina, que
a cerca e doma, e te inscreve sem alforria na memória. Tua fala é teu
aboio e serão teus murmúrios ou gritos que irão tanger os receios, as
reservas e os pudores. É tua fala que, roçando como ventania as sendas
intocadas de seus ouvidos, delimitará a extensão do prazer a que ela
converterá tua posse e as léguas do território de seu corpo e alma que
tu, somente tú, terá acesso e jurisdição. É do teu dicionário de
significados que será demarcado o tempo de tua permanência e trato.