O começo de
romance mais perfeito que conheço está em Anna Karenina, de Tolstoi. Ele diz:
todas as famílias felizes são iguais; as infelizes, cada uma é ao seu modo.
As avaliações
mostram que as doenças comportamentais crescem vertiginosamente. Os CAPS estão
com fila, a geração tarja-preta é o simbolo desta pós-modernidade. E, de
repente, vai tudo ficando frágil: os valores, as escolhas, a ética, as
amizades, o profissionalismo. A família, por sua vez, tornou-se uma vítima sem
trégua da militância dos costumes que pretende dizimar sua existência pela
salutar força conservadora que exercem e por muitos que a partir da
incapacidade de obtê-la tentam sonegá-la para todos.
Assim vamos
construindo uma descartabilidade e indiferença que são destrutivas, pois nada
mais somos que um atávico bando ancestral, com suas necessidades de
referencias, confiança, agregação.
Ao
fragilizarmos a interface com o outro tentamos construir em vícios, discursos
desconstrutivos, posses temporárias, aditivos, uma porta de saída e de
validação do processo. E este rompimento, esta desagregação continua,
cotidiana, sistemática, está cobrando um preço caro e impondo uma permanente
insatisfação.
Aliado a
isto, estamos presos, cada vez mais, a uma certificação da existência por
valores externos, universalmente socializados em rede, em uma busca insaciada,
ilimitada, exibicionista, precária, em nome da qual pratica-se tudo para sua
obtenção.
A verdade, é que a impermanência é violenta, a
desconfiança permanente erosiva e a incerteza total um risco além dos
suportável.
Não podemos
permanecer nesta escalada de aniquilamento individual e de valores sob o risco
de acabarmos em uma guerra real que resignifique o que deveriam ser nossas
escolhas. Se sobrar alguém, é claro.
A tolerância e a
tragédia da Sales Barbosa
A longevidade no poder, 16 anos no caso
de Feira, do DEM, tem vantagens e desvantagens. Fica-se com o lucro dos
acertos, mas não se tem culpados para terceirizar os erros. É assim na eterna
discussão sobre a ocupação do centro da cidade, de forma desordenada, por
barracas em que o governo municipal é o principal responsável pela situação a
que chegamos.
Agora, um outro incêndio nas
proximidades da Sales Barbosa trouxe novamente a discussão para o centro das
atenções. A tragédia, que poderia ter sido ainda maior, retrata o
potencial destrutivo que a tolerância impôs àquela região.
Eleição após eleição, mandato após
mandato, o governo municipal promete uma solução definitiva para o caos
comercial e lá se vão quatro mandatos. A última proposta era um Shopping
Popular, pago, que atravessou os quatro anos sem sair do papel e, entre
disputas jurídicas e adiamentos, segue sem sair do chão. Enquanto isto o
comércio informal vai se expandindo e as soluções se defasando.
Em entrevista, o Secretário Borges
Junior, disse a Glauco Wanderley, no seu programa na Jovem Pan, que a situação
precisa de decisão e enfrentamento. O problema da longevidade é que qualquer
comentário sobre algo que não aconteceu torna-se autocrítica, pois faltou ao
governo foi exatamente decisão e enfrentamento.
Há a resistência dos camelôs embora lhes
falte uma proposta atrativa, o populismo oportunista da Câmara, o “faz de conta
que não viu”, do Ministério Público (diante do risco terrível de vida que
representa um incêndio naquela rua e o desrespeito a vários Estatutos) e o
“empurra com a barriga”, do governo municipal, que preferiu apostar na falta de
cobrança incisiva. E para isso conta com certa passividade dos comerciantes e
da própria sociedade.
O exemplo de ACM Neto, em Salvador, que
melhorou substancialmente o caos que era a Avenida Sete de Setembro e o Largo
de São Pedro, é um exemplo de que é possível encontrar soluções com decisão e
negociação.
Esperemos
que mais este sinal de alerta acelere as ações municipais na busca de resolver
a ocupação desordenada, sem esvaziar o centro comercial - embora o período de
eleições sugira que nada será feito. E que o pudor impeça nova onda de
promessas no programa eleitoral.
Casarão dos
Olhos D’água
Esta Tribuna sempre foi permanente
defensora do patrimônio cultural e meio ambiente de Feira e a preservação do
Casarão foi pauta permanente no suplemento cultural - Tribuna Cultural - que
publicávamos.
Apesar das dúvidas históricas a seu
respeito, é, sem dúvida, a marca de um estilo e esteve ligado aos fundadores da
cidade. Assim, a notícia de que a prefeitura vai montar ali um Museu do
Vaqueiro, após acordo com a família Pedra, é extremamente positiva, pelo seu
potencial educativo e de manutenção de uma origem e história que não deve ser
renegada. Ponto para José Ronaldo.
Projeto de lei
para a Saúde
Por um projeto de lei que obrigue toda
Unidade de Emergência ou Hospital Público, municipal ou estadual, a ser
equipado com suporte mínimo de atendimento que inclua: ambu, laringoscópio,
aspirador, desfibrilador e respirador básico. Sim, acreditem, não há. Às vezes,
nem laringoscópio.
Justiça em maus
lençóis
O dilaceramento judicial é
evidente. Sentenças controversas, processos engavetados, comprometimento
de Aroldo Cedraz, presidente do Tribunal de Contas da União; de Francisco
Falcão, presidente do STJ, e, mesmo no STF, ligações e afinidades partidárias
que parecem maiores do que as adequadas a uma Corte Suprema.
Ao lado disto, advogados que passam a
ser investigados como réus, desembargadores produzindo sentenças que contrariam
tribunais, com velocidade surpreendente ao mesmo tempo em que é investigado por
peculato e formação de quadrilha.
No Paraná, de onde saem os maiores
avanços do Judiciário no combate à impunidade, com Moro e equipe, eis que um
grupo de juízes e procuradores processa de forma orquestrada um jornal que
revelou seus rendimentos, o que é garantido pela Lei da Transparência. O melhor
e o pior da Justiça se manifestam no mesmo estado.
Enfim,
no caldo geral, esperamos que o lado bom da lei, justo, e não persecutório,
domine o Judiciário brasileiro, pois ele tem uma missão gigantesca a
cumprir.
Temer, o rodapé
e a história
Assim como sabemos que escândalos como o
petrolão e o mensalão em sua extensão, duração e devassidão, jamais poderiam
ocorrer sem o conhecimento de Lula e Dilma, do mesmo modo, é evidente que a
corrupção do PMDB não poderia ocorrer em sua extensão, duração e devassidão -
que inclui Sarney, o honorável bandido e mais longevo suspeito de corrupção
nacional - sem o conhecimento de Temer. Se não sabia, mostra que é um
inepto e não pode ocupar a Presidência.
A verdade é que Temer é apenas o mal
necessário, a ponte, para o afastamento do PT e sua contabilidade destrutiva e
saque geral da nação. Entretanto, está longe do estadista que esperamos e que
ele imagina ser. Verdade que, pelo nível intelectual, tem melhor compreensão da
liturgia do cargo, mas sua tentativa de salvar o gângster Eduardo Cunha, a
nomeação de amigos-bandidos, alguns derrubados pela Lava-Jato, outros na lista
de espera, e sua irresponsabilidade ao aumentar as despesas públicas em um
momento de recessão e déficit do orçamento, estão se tornando um preço muito
caro a ser pago.
Ou Temer dá uma guinada, após o fim da
interinidade, aproveita o imenso potencial da equipe econômica, as boas ações
de Serra nas Relações Exteriores, a corretíssima aprovação da Lei de
Responsabilidade das Estatais, a liberação dos aviões da FAB para transporte de
órgãos, os lentos sinais de recuperação da economia, ou, entre a ambição de
entrar para a História e o confinamento ao rodapé da página, acabará neste.