Deus e eu, na praia ou no sertão
Quem
durante essa pandemia não sentiu solidão, tristeza, angústia, só pode ser
doente da cabeça. Ou então já conseguiu fazer da solidão uma aliada e não uma
inimiga. Certa vez um amigo me disse: “Quando estou na roça, mesmo estanho em
casa, ou acampando no mato, ou na praia, sozinho, eu me sinto bem. Mesmo
sabendo que ali existem animais selvagens como onças, eu olho à noite para o
céu, vejo a vastidão do universo, e sinto a presença de Deus”. Eu entendi imediatamente
o que ele quis dizer. Porque eu também sou assim. Na verdade a solidão se fez
presente em minha vida desde muito cedo. Apesar da casa cheia, eu não tinha
irmãos da minha idade, nem muitos amigos para brincar. Uma doença me colocou na cama por seis meses. Quando
ia pra roça, quase sempre brincava sozinho porque os garotos da minha idade
estavam ajudando as suas famílias trabalhando nos roçados e nas plantações. E
eu comecei a ficar arredio a pessoas estranhas. Só quando adolescente e fui
para o ginásio, passei a conviver uma parte do tempo com pessoas da minha
idade. Mas não fiz muitos amigos. Só mais tarde comecei a namorar, ir a festas,
viagens, e aí eu desasnei, como se costuma dizer. Mas mantive o gosto por ficar
sozinho, mesmo que fosse por alguns momentos.