Os médicos do Samu escolheram a pior
maneira para tratar um assunto com o prefeito José Ronaldo, que foi a
chantagem. Uma negociação que se desenrolava internamente, de repente explodiu
na imprensa com os médicos colocando o prefeito na parede, na base do “ou dar
ou desce”, exigindo a cabeça da coordenadora do Samu, afirmando que se isso não
ocorresse pediriam demissão coletiva. Juntaram-se a eles enfermeiros e outros
profissionais do setor, alegando que a coordenadora age com arrogância,
prepotência e maus tratos para com os seus subordinados.
Não é o feitio do prefeito ceder a
pressões. Por isso, creio que o movimento dos profissionais vai dar em nada. As
denúncias contra a coordenadora passam também por acumulo de cargos e ações
ilegais na regionalização do Samu. Todas elas foram entregues em documento à
Câmara Municipal e ao Ministério Público. O prefeito já disse que não há
irregularidades e que as acusações são infundadas. Por tanto, não creio que a
interferência da Câmara vá mudar a opinião do alcaide. Resta saber se o
Ministério Público acatará ou não as denúncias.
Em geral, os médicos, salvo raríssimas
e honrosas exceções, são péssimos gestores. Também são desarticulados, não
conseguindo mobilizar a categoria em torno de um objetivo comum. Todos acham-se
cheios de razão e seguem apenas seus próprios conceitos, valores e ideias e
estão sempre em confronto com as opiniões de seus colegas. A medicina é hoje um
mercado que movimenta bilhões, atraindo todo tipo de mercenário, transformando
a saúde numa “mercadoria” caríssima. No Brasil quem não tem dinheiro morre mais
rápido.
Antigamente as autoridades mais
respeitadas e respeitáveis de uma cidade eram o pároco local, o prefeito, o
juiz e o delegado. Mas, acima de todos eles estava o médico. Até entre os
círculos militares a “patente” de médico era a mais respeitada. Em caso de
saúde a palavra do médico prevalecia sobre todas as demais patentes. Mas, isso
foi há muito tempo. Com o mercantilismo imperando na saúde, o médico se tornou
apenas mais um trabalhador assalariado, um ser frio, que usa mais instrumentos
do que seus conhecimentos e humanidade para examinar e diagnosticar seus
pacientes, hoje chamados de clientes.
Quando eu disse aqui certa vez que o
Brasil estava trazendo médicos estrangeiros para trabalhar porque os médicos
brasileiros não se davam ao respeito, e até os recém formados não queriam
deixar os grandes centros para iniciar a carreira e o aprendizado pós
universidade em distantes e pequenas comunidades, alguém me escreveu dizendo
que eu estava muito confortável na minha sala com ar refrigerado e não conhecia
a realidade dos médicos. Mas, eu conheço. E muito bem. E a prova dessas coisas
que digo é que nem mesmo as suas entidades representativas como o CREMEB e a
ABM têm poder para defende-los. Ninguém os levam a sério.
Ao ler este artigo, meus caros médicos,
em vez de me xingar, tentem resgatar o respeito perdido.