quinta-feira, 23 de abril de 2015

Sacanearam a Kalilândia










      
Eu não sou favorável a que o poder público deva se envolver tão intensamente em festejos populares. O nome “popular” significa que do povo, próprio do povo, oriundo do povo. Cabe ao poder público apenas autorizar ou não a realização de eventos em via pública e, se solicitado, colaborar com alguma infraestrutura básica com segurança, iluminação (gambiarras e refletores), orientação do tráfego, fiscalização do cumprimento das diretrizes preconizadas para cada tipo de evento. No mais, quem tem que fazer e bancar a festa é o povo, através das lideranças comunitárias, empresários, comerciantes interessados no evento, e os moradores da localidade que participam do festejo do modo que bem lhe aprouver, observando-se aí as normas de civilidade. Mas já que o poder público toma a iniciativa de realizar determinados festejos, que o faça da melhor forma possível, observando o bom gerenciamento dos recursos financeiros do erário. 
O Espaço Charles Albert, mais conhecido como a Micareta da Kalilândia, foi criado há mais de uma década, ainda no primeiro mandato de José Ronaldo como prefeito municipal. Logo tornou-se no espaço preferido das famílias, das crianças, e dos idosos e saudosistas das antigas micaretas. Deixar de realizar a festa foi um golpe duro, ainda mais que foi sem aviso prévio, pegando de calça curta os comerciantes que já haviam comprado mercadorias preparando-se para a festa. Dizer que o cancelamento se deu por motivo de economia de recursos, soa com o que se costuma chamar de “economia de palito”. Se a gente procurar bem vai encontrar que os motivos são outros, e muito sórdidos. Abre o olho prefeito!

O palco da micareta
         O primeiro palco da micareta foi a rua Conselheiro Franco. Quando a rua ficou pequena para suportar a festa, ela enveredou pelas praças Da Bandeira e J. Pedreira, e parte das ruas Marechal Deodoro, Sales Barbosa e Avenidas Senhor dos Passos e Getúlio Vargas até o cruzamento com as ruas JJ Seabra e Visconde do Rio Branco. Quando se falou em transferir toda a festa para a avenida Getúlio Vargas, foi uma verdadeira comoção municipal. Os tradicionalistas berraram a todos os pulmões contra a idéia. Falou-se até que seria o fim da festa. A festa mudou e não acabou. Pelo contrário, cresceu e melhorou. Mas até mesmo a avenida Getúlio Vargas se tornou pequena para suportar o crescimento da festa. Surgiu então a idéia defendida pelo radialista Tanúrio Brito, de mudar a festa para a avenida Presidente Dutra. Foi outro Deus nos acuda. Teve até jornalista saudosista e avesso a mudanças, dizendo que seria a “Micareta da Estrada”. Mas a festa mudou e está lá até hoje. Todas estas mudanças atenderam ao apelo do bom senso, da coerência, em nome da ordem pública no centro da cidade e no conforto dos foliões. Agora a festa já causa novos transtornos e a avenida Presidente Dutra já não é o seu palco ideal. Construir algo como um Sambódromo seria uma iniciativa cara e inútil. Digo inútil porque já temos o espaço praticamente pronto. Há anos defendo a adequação do Parque de Exposições João Martins da Silva em um espaço multiuso, fazendo com que aquele elefante branco, que só abre duas ou três vezes ao ano, seja utilizado em toda sua capacidade. O único inconveniente que eu via era o acesso pela BR-324, mas agora já temos como fazê-lo utilizando a avenida Nóide Cerqueira. Como sempre, só não o fazem se não houver vontade política. E o pior é que a cidade sempre perde para a politicagem.

Blocos
         Eu estava entre os fundadores de pelo menos dois blocos micaretescos e realizei bailes, lavagens e festivais de chope. Em tudo isso contei com o mínimo apoio do poder público, na maioria das vezes nenhum, e todo mundo brincou e se divertiu sem gastar muito. Saí de um bloco quando ele virou um negócio, se profissionalizou, e do outro por falta de motivação. Entendo que estas coisas precisam mais de animação do que de dinheiro. Eu ouvi um sujeito dizer certa vez que havia passado mais de um mês se alimentando de ovo com farinha, economizando dinheiro para comprar a fantasia (mortalha, abadá, sei lá o que) de determinado bloco. Eu, hem? As pessoas veem hoje nos blocos um espaço exclusivista e de ostentação, onde só vai quem tem dinheiro, e em busca de questionável segurança oferecida pelas cordas e cães de guarda. Ledo engano. A imprensa não noticia como deveria, mas bandidos ficam à espreita para assaltar pessoas logo após pegarem suas fantasias e pulseiras de acesso a bloco. Vestem-nas e desfilam ao lado dos incautos foliões. Você acha que está em segurança, mas pode estar se envolvendo com um perigoso bandido e é vítima potencial de um sequestro ou estupro tão logo deixe o circuito da festa. Aliás, enquanto a polícia desfila no circuito, em meio aos trios e foliões, os bandidos aguardam nas cercanias para roubar quem deixa o circuito para ir embora. Como geralmente estão embriagados, são vítimas fáceis. Por isso as festas em pequenas comunidades como a Kalilandia, são mais seguras e tranquilas, porque em geral os participantes se conhecem e moram por perto.

Tracajá
            O Bloco Tracajá, desfila no domingo (26) de micareta e será puxado pela fanfarra de São Gonçalo dos Campos, a partir das 13 horas. As camisas estão disponíveis no Bar Resenharia, no Restaurante Casa do Sertão e no Boteco do Vital. Para adquirir basta levar um vasilhame de vidro para armazenamento de leite materno e um pacote de fralda geriátrica, que serão doados para o Banco de Leite do Hospital da Mulher e Lar do Irmão Velho, respectivamente. Idealizado pelo fotojornalista Reginaldo Tracajá, o bloco resgata a tradição das marchinhas que faziam a alegria dos antigos carnavais. Iniciado como uma brincadeira na redação do Jornal Folha do Norte, hoje o Bloco Tracajá tem um público fiel. Sem fins lucrativos, tem um único objetivo: promover a alegria lembrando o folclore e fortalecendo a cultura regional.

Samu
         Graças a Deus os funcionários do Samu desistiram da paralização e vão trabalhar durante a micareta.

Segurança
         Com os policias locais tudo vai bem, mas o bicho costuma pegar é com os que veem de fora. Parece que eles veem contrariados, cheios de mau humor porque estão trabalhando enquanto os outros se divertem, e tudo é motivo para espancarem pessoas. Nunca esqueço das imagens do tenente que espancou o folião bêbado por nada. E também deu em nada. O tenente parecia estar se vingando de alguma coisa, ou defendendo sua religião, espancando satanás, ou quem sabe lembrando seu pai torturador. Normal aquele sujeito não é.

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Por hoje é só que agora eu vou ali me divertir num baile micaretesco entre amigos

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