sábado, 18 de abril de 2015

Chega de teatro

Nas ruas, parte da população pede “impeachment” de Dilma e a massa de manifestantes em geral quer um basta na corrupção, na inflação, e protesta, claro, contra os aumentos absurdos de juros, contas de água e luz, contra o péssimo transporte etc. Ou seja, no bojo está um descontentamento generalizado com o governo e a classe política.
Nos palácios de governo, os recados, que vêm desde junho de 2013, ou não são entendidos (hum!) ou obtêm respostas ridículas, num teatro do absurdo que só faz irritar ainda mais a população consciente. Agora mesmo, num rasgo de “boa vontade”, o Planalto anuncia salário mínimo de R$ 854...Para janeiro de 2016! Ou seja, um aumento de RIDÍCULOS R$ 66,00 em relação ao mínimo ora vigente, que é de R$ 788 e alguns centavos.
Ora, com a inflação cada vez mais alta e já se aproximando dos dois dígitos, com as contas de água e luz subindo para a estratosfera; com a gasolina aumentando praticamente todo mês; com o diesel caríssimo, e, consequentemente, a comida a preços cada vez mais altos, R$ 66 a mais, para valer daqui a nove meses, não é nada, nadica de nada. Assim como é uma merreca o salário mínimo atual, que deveria ser pelo menos quatro vezes maior, conforme cálculos modestos de alguma entidades econômicas sérias.
Na próxima cena deste teatro do absurdo com o qual os governantes e seus comparsas de todos os partidos acham que vão engabelar a população, está a movimentação política no Planalto. Dilma praticamente não governa mais, o que seria uma bênção não fosse o fato de estar sendo substituída por gente como Renan Calheiros e Eduardo Cunha – respectivamente, presidentes do Senado e da Câmara) e capitaneada ainda por Michel Temer, que deve rezar todas as noites pelo “impeachment”.
Preste bem atenção nesse teatro político: figuras retrógadas, envolvidas em suspeita de corrupção grossa (Renan e Cunha, pelo menos) tomam a frente do governo com a intenção anunciada de fazer “mudanças”. Ora, deveriam convocar o Paulo Maluf para chefiar o grupo anticorrupção, já que, na própria CPI da Petrobras, existem inúmeros parlamentares acusados de terem recebido dinheiro do Petrolão que ele se arvoram a investigar.
Assim caminha este país. Políticos cada vez mais distanciados da realidade nacional, aumentando verbas e salários, como fez há alguns dias a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, precedida, há cerca de um mês ou pouco mais, pela Assembleia Legislativa da Bahia, que também reajustou verbas de deputados que ganham, somando tudo, mais de   $ 140 mil, o que está muito, muito distante dos R$ 854 de mínimo prometidos para janeiro de 2016.
Não será assim, como jogadas de marketing fajuto, espasmos mal conduzidos de “benevolência” e oferecendo merrecas financeiras e políticas à população que este governo e sua cambada de políticos sairão da lama.
Seria necessária muita seriedade, matéria prima que falta à grande maioria dos políticos brasileiros, unicamente preocupados em locupletar-se. Seria necessário, por exemplo, que a Secretaria de Educação de São Paulo(olha os tucanos aí, gente!!) tratasse com mais seriedade os professores em greve há quase dois meses, em vez de acusá-los de “todo ano fazer esse teatro”. Seria importante que o governo da Bahia se preocupasse de verdade com o policiamento no interior, renovando imediatamente frotas de viaturas, dotando as cidades de mais policiais, reformando as ridículas e frágeis delegacias. Aliás, por falar em sistema prisional, o do Brasil continua uma vergonha, medieval.
Este, aliás, é um dos argumentos dos que são contra a redução, necessária, da maioridade penal. O curioso é que não se fala uma só palavra sobre a tragédia que são as prisões brasileiras, as delegacias lotadas de presos sem julgamento, a corrupção entre carcereiros etc. Triste sina, a nossa.

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