quinta-feira, 9 de abril de 2015

Alex Ferraz

AÉREOS
É no mínimo curioso a presidente Dilma esgrimir como uma atitude audaciosa e moralizadora a proibição do uso de jatinhos da FAB por ministros para viagens pessoais, inclusive para implante de cabelo e ver jogo da Copa, como fizeram, respectivamente, Renan Calheiros (argh!) e Henrique Alves. Ora, este impedimento é óbvio, está na lei, e, mais do que isso, deveria acontecer por simples consciência ética dos que fazem uso da aviação oficial. Claro como água mineral...

Dêem-me mil moralistas e fundarei um bordel (Pitigrilli)

A verdadeira indecência é outra
Moção de repúdio da Câmara Municipal de Feira de Santana contra o singelo e belo beijo gay protagonizado pelas duas grandes damas do teatro, cinema e telenovela nacional, Nathalia Thimberg (85 anos) e Fernanda Montenegro (também 85 anos), respeitadíssimas aqui e no exterior.
 A cena incomodou a muita gente neste país, notadamente neonazistas, falsos moralistas e religiosos radicais. No entanto, senhores da Câmara Municipal de Feira, a verdadeira indecência, a amoralidade, o verdadeiro estupro aos conceitos morais neste país está em parlamentares, de todos os níveis, aumentarem seus salários estratosfericamente, enquanto a população vive de migalhas ridículas; está em assaltar os cofres públicos e posar de honesto; está em mentir copiosamente para o povo, em nome dele, e tergiversar quando questionados sobre os logros. Está, enfim, na absurda amoralidade da vida política neste país. Um beijo, meus caros, um beijo! Como pode ser algo condenável?

Ainda sobre o beijo (I)
É freudiana a preocupação desses falsos moralistas com o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, com a simbologia belíssima de um beijo de amor levado ao ar pela TV, enquanto se calam diante da realidade que as televisões, em todos os canais, exibem de manhã à noite, e não poderia ser diferente diante da profusão de desgraças que assolam o País. Crimes hediondos a cada minuto, gente morrendo em porta de hospital, fome, pobreza abjeta, desrespeito generalizado pelas leis e pela mínima ética, inclusive por parte de setores da própria população comum. Isto, sim, mereceria moções sucessivas de repúdio.

Ainda sobre o beijo (II)
Alexandre, o Grande, conquistou metade do mundo conhecido há três mil anos e morreu lutando, sempre à frente do seu exército (e não como os generais modernosos que comandam a quilômetros de distância da frente de batalha). Era homossexual, amante de um dos seus generais, e em cada reino que conquistava fazia questão de gerar filhos para deixar a marca da sua civilização. Um homem, e de muita coragem, enfim.

Ainda sobre o beijo (III)
Poderia ainda enumerar aqui – citando historicamente e não “deduzindo”, basta consultar as biografias deles -, entre muitíssimos outros, o imperador Adriano, que teve a sorte de viver numa civilização onde o que menos importava era o que se fazia na cama; Santos Dumont, nosso grande e merecidamente louvado inventor - sem o qual, aliás, os jatinhos da FAB não existiriam, e, para ficar apenas em um dos exemplos dos inúmeros que encontramos nas artes, Elton John, declaradamente gay. Sem citar o hors concours Leonardo da Vinci, um dos homens mais geniais que o mundo já conheceu.

Ainda sobre o beijo (IV)
Aliás, por falar em Elton John, há um episódio impagável: quando ele resolveu casar-se oficialmente com seu parceiro, sua mãe, uma senhora já idosa e que repudiava a opção sexual do filho, recusou-se a ir à cerimônia.
Questionado sobre o episódio numa entrevista à imprensa inglesa, Elton disse:
-Não faz mal. A rainha da Inglaterra foi.
Não só foi, como lhe concedeu o título de “sir”.
Portanto, os falsos moralistas ou aqueles que, atrás do seu pavor diante do comportamento sexual das pessoas, escondem o horror de, no fundo, quererem fazer o mesmo, que se lasquem!

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