terça-feira, 14 de abril de 2009

Artigo da Semana


Não mudei, meu Jesus Cristo, quem mudou foi a cidade

A história da Paixão de Cristo é por demais conhecida. A vida, morte e ressurreição daquele que, para os cristãos, morreu crucificado para salvar a humanidade dos seus pecados. Pregava a paz e a fraternidade entre os homens, realizava milagres, curava doentes e matava fome dos famintos. Mas foi traído por Judas Iscariótes, um dos seus discípulos. Ele deixou um novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”.
Para relembrar aquele homem extraordinário, tido como filho de Deus, enviado à Terra como o Messias a propagar o Reino de Deus, é que uma vez por ano os cristãos fazem jejum, celebram missas e saem em procissão, revivendo a Paixão de Cristo. Nessa época é comum as famílias reunirem-se para celebrarem, unidas, a Glória do Senhor Jesus Cristo.
Quando eu era criança (e isso faz muito tempo), até a natureza parecia reverenciar a Sexta-Feira da Paixão, pois os céus cobriam-se plúmbeas nuvens cinzentas e uma chuva fina, qual água benta, aspergia as cabeças dos participantes das procissões. As emissoras de rádio tocavam músicas sacras, as pessoas recolhiam-se em jejuns e orações, e até para falar era com voz baixa. Ai de mim se ousasse falar mais alto dentro de casa. Gritar então, nem pensar.
Os bares não abriam suas portas. O cardápio do almoço era, geralmente, peixe com vatapá. Só se bebia água e um pouco de vinho (somente para os adultos). Em suma, era um dia para reflexão, oração, penitência (para os pecadores) e reverência a Jesus Cristo, o Salvador. A alegria festiva só explodia no Sábado de Aleluia, quando os adultos promoviam a “Malhação do Judas”, para alegria da garotada.
Os tempos mudaram. E para pior. Eu acho esquisito ver os bares abertos, cheios de gente, bebendo e comendo de tudo, na Sexta-feira Santa. Eu fico me perguntando: Será que eles não têm família? Não gostam de estar reunidos com os seus, nem que seja só para confraternizar? O que está acontecendo com as pessoas?
A Semana Santa não significa para aquelas pessoas nada mais que um “feriadão”, uma oportunidade para cair na farra. Se no passado não se admitia sequer uma discussão, hoje se rouba e mata sem qualquer constrangimento. Aliás, há poucos dias, um indivíduo matou o outro no adro de uma igreja.
Podem me chamar de antiquado, saudosista, carola, o que mais quiserem. Mas, eu não gosto destes novos tempos, onde não existe respeito entre as pessoas, não há reverência à divindade (seja lá de que religião for), e as pessoas saem às ruas, na Sexta-feira Santa para beber e comer de tudo, brigar, roubar, matar, ouvir músicas de péssimo gosto, a toda altura, incomodando quem quer orar e meditar, no aconchego dos seus lares ou nos templos.
As pessoas podem ter mudado. Eu continuo o mesmo, e estou muito feliz assim. Até mesmo porque sei que ainda existem muitas pessoas como eu. E isso é muito bom.

Um comentário:

Lia Sergia disse...

"Mas, eu não gosto destes novos tempos, onde não existe respeito entre as pessoas, não há reverência à divindade (seja lá de que religião for), e as pessoas saem às ruas, na Sexta-feira Santa para beber e comer de tudo, brigar, roubar, matar, ouvir músicas de péssimo gosto, a toda altura, incomodando quem quer orar e meditar, no aconchego dos seus lares ou nos templos."

Pai, a sua resposta está quase oculta bem aqui neste parágrafo.

A questão é que, cada vez mais, as pessoas estão perdendo a fé em Deus, o respeito ao credo alheio, etc. Os adeptos de religiões não-cristãs estão aumentando (junto com número de ateus), e assim vai.

Sim, falta Deus no coração das pessoas. Mas falta, acima de tudo amor ao próximo e a si mesmo (principalmente a si mesmo, porque quem não se ama, não é capaz de amar o outro).

Dificilmente, num mundo como o de hoje, você pode esperar uma homogeneidade de ações no que se refere aos credos. Contudo, acredito que em algumas décadas essa "diferença" se fará apenas à mesa e estará fora dos calendários. Bares e restaurantes continuarão abertos e servindo de tudo na Semana Santa, porque temos um número crescente de muçulmanos, judeus, messiânicos, budistas, gnósticos e outras tantas religiões que não reconhecem Cristo como o Messias. Mas, assim espero, a parte dos crimes e desrespeitos será infitamente menor.

Afinal, estamos entrando na Era do Dia. É a hora de todas as mazelas ficarem expostas para serem eliminadas. Em alguns anos, restará apenas a parte boa.

Beijos!