segunda-feira, 17 de maio de 2021

Crônica de segunda

 Sexo

         Diz-se que o tema é polêmico, mas isso é por conta dos usos e costumes de cada povo. Entre a maioria dos povos indígenas, por exemplo, não há polêmica alguma. Para eles o acasalamento é tão natural quanto qualquer outra necessidade fisiológica como respirar, comer, beber, defecar, urinar. É próprio dos seres vivos. Atingida a maturidade sexual, os jovens buscam parceiros para se acasalar. Não há nada mais natural que isto. Porém, como não somos feras selvagens que se acasalam apenas com o objetivo de procriar, também acasalamos por prazer. E é aí que a coisa pega. 

        Lá nas ilhas Hawaii, antes da chegada do homem branco, os nativos, que eram descendestes de polinésios, praticavam sexo livre, sem laços ou regras morais entre jovens solteiros. Quando os europeus chegaram trouxeram consigo doenças venéreas que foram transmitidas às jovens havaianas. E é aí que mora o perigo. Praticar sexo livre é bom, é prazeroso e pode ser saudável para o corpo e para a mente, desde que sejam tomadas as devidas precauções. Deus nos deu inteligência para criarmos mecanismos de defesa contra doenças e gravidez indesejada. Há quem diga que é “pecado”, mas, creio que o “pecado” está em não os utilizar. E por várias razões.

         Mas, vamos voltar no tempo para melhor entender a coisa toda. Comecemos com a parábola bíblica de Adão e Eva. Adão teria sido o primeiro ser humano, criado por Deus, que depois criou a mulher. Colocou-os num lugar que chamou de Éden, ou Paraíso, e lhes deu total liberdade, apenas recomendando que não comessem do fruto da macieira. O resto da história todo mundo já sabe. O Demônio, representado aqui por uma serpente, tentou Eva que comeu a Maçã, e esta por sua vez também convenceu Adão a comer do fruto proibido. Por isso foram expulsos do Paraíso. Eva condenada à dor de parir filhos e Adão a trabalhar para ganhar o seu sustento e da sua família com o suor do rosto. Dizem que isso foi um castigo terrível. Pode até ser, para quem é preguiçoso e não gosta de trabalhar.

         De minha parte, estou muito feliz trabalhando para me sustentar sem ter que pedir nada a ninguém, nem esperar que o governo (na parábola representado por Deus), venha me dar alguma coisa. Deus já me deu muito. Me deu a vida e a oportunidade de através dela evoluir espiritualmente. Me deu a oportunidade de trabalhar para viver com dignidade. Me deu inteligência para entender o que se passa à minha volta, identificar o perigo e construir mecanismos de defesa. Colocou à minha disposição a paz e o amor, cabendo a mim apenas saber como cultivá-los. Me deu este planeta lindo e maravilhoso, cheio de animais, plantas, rios, lagos, oceanos, florestas e pradarias, onde meus olhos se enchem de cores e belezas naturais. Se algo não vai bem, está errado, a culpa é nossa, e não de Deus, porque ele nos libertou, nos deu livre arbítrio, para que façamos as nossas escolhas, vivamos do modo que decidirmos viver. Se erramos ou acertamos nestas escolhas, a responsabilidade é nossa, e não de Deus.

         Voltemos então à questão do sexo. Algumas sociedades e religiões se utilizaram da lenda de Adão e Eva para colocar o sexo como coisa própria do Demônio, e apelidaram o sexo de “Pecado Original”. E os líderes vivem a cobrar do povo penitências em nome de uma possível “Salvação”, para que não passemos a eternidade queimando no “fogo do inferno”. Ora, vamos parar por aí porque de mentiras e enganações o mundo já está cheio demais. Adão e Eva é só uma lenda, concebida para povos rudes, incapazes de entender os princípios do universo. Já se disse que a Terra era o centro do universo e mataram quem ousou dizer o contrário. Já se disse que a Terra era quadrada, que a ciência era bruxaria, e até mesmo que o sol era a carruagem do deus Apolo. Chega! Estamos no século XXI. A Terra é um cisco na imensidão do universo, o sol é uma estrela bem pequena, a lua é o nosso quintal, a vastidão do universo vai além da nossa imaginação e o Demônio é a Cuca que assusta crianças mal comportadas. Aliás, tenho um amigo que defende a seguinte teoria: “Se o Demônio é um anjo decaído, que foi expulso do Céu porque se voltou contra Deus, o seu pai criador, então ele é nosso irmão, pois somos filhos do mesmo pai. Assim sendo, como bons cristãos, devemos orar por ele, para que se arrependa, o pai o perdoe ele possa novamente habitar no céu”. Alguém pode discordar disso?

         Jovens humanos podem e devem se acasalar quando atingirem a maturidade sexual, cabendo aos pais orientá-los, de forma clara e simples, sobre os riscos das doenças e gravidez indesejada, ensinando-lhes os métodos contraceptivos e de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis. Acidentes acontecem, mas quando se está ciente da possibilidade e se conhece os meios de preveni-los, é mais difícil que aconteça. E caso aconteçam, também não é “o fim do mundo”. O melhor a fazer nestes casos, é buscar a solução para o problema sem ficar apontando culpados. Tudo isso não implica na escolha de cada um. Se a jovem quer casar virgem, que case, se alguém não deseja casar-se, que não case, se querem se relacionar com alguém do mesmo sexo, que o façam. Ninguém pode repreender a escolha de ninguém. “Não julgue para não ser julgado”. Respeite a opinião dos outros, as escolhas dos outros. Respeite as diferenças de raça, credo e político/sociais. Um último recado: Cabe aos pais orientar os filhos sexualmente. A educação, em todos os setores, começa em casa, a escola apenas a complementa. 

NE: Publicada no livro Soltando as Amarras - 2015.

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