O WhatsApp anunciou que vai limitar o número de vezes em que mensagens trocadas por meio do aplicativo podem ser encaminhadas na Índia, como forma de coibir a disseminação de informações falsas em sua plataforma.
O
anúncio foi feito depois que uma série de linchamentos de pessoas foi
relacionada a mensagens que circularam em grupos do WhatsApp.
Na
quinta-feira, o governo reemitiu um alerta à companhia de que poderia
sofrer consequências jurídicas se continuasse sendo uma "espectadora
muda" do que estava acontecendo.
Com mais de 200 milhões de usuários, a Índia é o maior mercado do aplicativo.
O
WhatsApp disse que seus usuários indianos "encaminham mais mensagens,
fotos e vídeos do que os de qualquer outro país do mundo".
Grupos
podem ter no máximo 256 pessoas. Muitas das mensagens que acredita-se
terem sido o gatilho para os atos de violência foram encaminhadas para
vários grupos que tinham mais de 100 membros cada.
Restrição ao volume de mensagens
Em
seu site, a empresa anunciou que estava "lançando um teste para limitar
o encaminhamento de mensagens que será aplicado a todos que usam o
WhatsApp".
Para usuários indianos, no entanto, a opção de
encaminhamento será limitada ainda mais. Um porta-voz da companhia disse
à BBC News que cada pessoa seria autorizada a encaminhar uma mensagem
apenas cinco vezes.
No entanto, isso não impede que outros membros de um grupo encaminhem a mensagem para mais cinco conversas por conta própria.
O WhatsApp acrescentou que esperava que a medida diminuísse a freqüência do repasse das mensagens.
A empresa também disse que removeria o "botão de avançar rapidamente" próximo a mensagens contendo fotos ou vídeos.
Linchamento de inocentes
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Kaalu estava à procura de emprego quando também foi apontado como possível sequestrador após vídeo circular no WhasApp; ele acabou sendo morto |
As
mudanças no aplicativo ocorrem após uma série de linchamentos que
resultaram em pelo menos 18 mortes em toda a Índia desde abril. Dados
divulgados na mídia, entretanto, apontam um número de mortes ainda
maior.
A violência tem sido atribuída a rumores de sequestros de
crianças espalhados pelo WhatsApp, que levaram estranhos a serem
atacados nas ruas. Segundo a polícia, está sendo difícil convencer a
população de que as mensagens são falsas.
Em um dos casos que
ajudaram a espalhar o pânico e contribuíram para um final trágico, um
vídeo compartilhado por meio do aplicativo mostra, em plena luz do dia,
uma criança sozinha na rua ser agarrada por um motociclista e, de
repente, levada embora, para desespero dos vizinhos.
A cena na verdade, se tratava de mais um caso de notícia falsa - ou fake news, como o termo ficou popularmente conhecido.
O vídeo original tinha cunho informativo e havia sido
gravado por autoridades do Paquistão para alertar sobre a segurança de
crianças nas ruas de Karachi, a cidade paquistanesa mais populosa.
Na
segunda parte do vídeo, o "sequestrador" pode ser visto devolvendo a
criança e segurando um cartaz em que se lê: "Basta apenas um momento
para uma criança ser sequestrada nas ruas de Karachi".
Segundo as autoridades indianas, essa parte foi retirada do filme compartilhado.
TVs
locais também contribuíram para semear o pânico, ao alertar moradores
de que 5 mil sequestradores de crianças haviam entrado pelo sul da
Índia.
"Depois de assistir a esses vídeos e às notícias, ficamos
preocupados com a segurança de nossas crianças. Não queremos deixá-las
sozinhas nas ruas", diz uma moradora.
O resultado do vídeo falso não poderia ser mais trágico.
Vítimas foram caçadas nas ruas
Um
homem de 26 anos que estava em Bangalore procurando emprego foi
apontado por alguns moradores como um dos sequestradores. Ele teve as
mãos e pernas amarradas, foi agredido, arrastado pelas ruas e morreu a
caminho do hospital.
O caso foi registrado no final de junho. No
mesmo período, uma mulher identificada como Shantadevi Nath também foi
morta por uma multidão que acreditava que ela pretendia sequestrar
crianças, nos arredores de Ahmedabad, no estado de Gujarat.
Em um
outro linchamento recente, no estado de Tripura, no nordeste do país, a
vítima foi um homem empregado pelo governo local justamente para ir a
vilarejos dispersar rumores espalhados pelas redes sociais.
O governo da Índia já havia alertado ao WhatsApp -
empresa de propriedade do Facebook - de que a companhia não poderia se
esquivar de sua responsabilidade pelo conteúdo que seus usuários estavam
compartilhando.
O WhatsApp respondeu que estava "horrorizado com
esses atos de violência terríveis" e que a situação era um "desafio que
requer que o governo, a sociedade civil e as empresas de tecnologia
trabalhem juntas".
O aplicativo de mensagens é isoladamente o
maior serviço baseado na internet disponível para a população na Índia.
Ele tem um alcance enorme, permitindo que as mensagens se espalhem com
velocidade e que, a partir delas, multidões se reúnam rapidamente.
No
início deste mês, a empresa destacou os passos que estava tomando para
ajudar a resolver o problema, o que incluía permitir que os usuários
saíssem de grupos e bloqueassem as pessoas com mais facilidade. (BBCBrasil)
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