Dona de uma "personalidade espevitada", Maria Bonita - que, em vida, era conhecida como Maria de Déa - era uma mulher empoderada,
transgressora, bem-humorada e "um tipo meio canalha". Mas apesar de
estar "à frente do seu tempo", não se incomodava com a opressão em que
viviam suas colegas de cangaço e apoiava que mulheres adúlteras fossem
assassinadas.
É assim que a jornalista Adriana Negreiros retrata a cangaceira, que acaba de biografar em Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço
(Objetiva). O livro conta a história do cangaço dando destaque às
mulheres e aos relatos que fizeram sobre como era a vida no bando de
Lampião. "Fui percebendo em conversas com pesquisadores do tema como as
histórias delas eram desqualificadas", diz Negreiros.
Maria Gomes
de Oliveira (1910 - 1938) era uma dona de casa casada quando começou a
namorar Lampião, em 1929, e decidiu juntar-se ao bando no ano seguinte,
tornando-se a primeira mulher do grupo. Seria uma das poucas a tornar-se
cangaceira por vontade própria - muitas foram raptadas.
Ela acabou morta junto com Lampião e outros membros do bando num
ataque das forças de segurança a um acampamento onde pernoitavam. Foi
decapitada e, assim como os demais, sua cabeça foi exposta diante da
Prefeitura de Piranhas (AL).
O livro também se esforça para
desfazer a imagem de Lampião como o "Robin Hood do sertão", disseminada
na mídia e por movimentos de esquerda da época. "Ele era aliado dos
grandes latifundiários do Nordeste e era amigo de um interventor. O fato
de ter passado impune tantos anos se deve à relação que tinha com o
poder. Os grandes prejudicados eram os mais pobres."
Nenhum comentário:
Postar um comentário