quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O controverso modelo 'linha dura' de educação que pôs um pequeno país asiático no topo de ranking mundial

Segunda-feira. O despertador de Jack, 12 anos, toca às 6h da manhã.
A agenda da semana está completamente lotada e seguirá assim por todo o mês. Às 7:30, Jack já está sentado resolvendo problemas de matemática.
Às terças-feiras, depois das aulas de mandarim, há tempo para um cochilo cronometrado, de 45 minutos. Um dos poucos momentos de tempo livre é na sexta-feira, entre 16:50 e 17:15.
Mesmo no sábado Jack tem aulas de ciências, matemática, mandarim, inglês e tarefas para revisar; mas mesmo assim, esse é o dia menos atribulado de todos, em que se pode velejar por cerca de duas horas, preparando-se para uma competição.
No domingo, a jornada recomeça e, como em todos os dias, se estende até as 21h, hora de ir para a cama. Apesar da rotina corrida, Jack se sente privilegiado: a maioria de seus colegas só poderá encostar a cabeça no travesseiro duas horas mais tarde. Entre a escola e aulas de reforço, a rotina de Jack e outros milhares de alunos de seu país tem um objetivo comum: preparar para o exame final do curso primário em Cingapura, cidade-Estado habitada por pouco mais de 5,8 milhões de pessoas.


"Não posso dizer que ele estava feliz com isso, mas no geral, ele não se queixou porque ele não era o único (nessa situação) e seu cronograma não era tão intenso quanto os dos outros. Deixei intervalos e brincadeiras", afirma a bancária Sheryl Iow, de 42 anos, mãe de Jack.
Como a maioria das famílias cingapurianas, Iow se vê imersa na competitividade da vida escolar de seu filho."Sempre que falo com uma família aqui, sinto que tenho que comprar ainda mais livros de testes para o meu filho", afirma.
Cingapura ostenta um dos sistemas de educação mais admirados do mundo e suas escolas são um modelo de disciplina, hierarquia e alta competitividade.
No influente ranking PISA organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 75 países, que avalia o desempenho de jovens de 15 anos em ciências, matemática e leitura, Cingapura aparece no topo da lista, seguida por seus vizinhos asiáticos Hong Kong, Coreia do Sul, Japão e Taiwan.
O Reino Unido ficou em 20º lugar, os EUA, em 28º e o Brasil, em 65º lugar, entre os lanternas.

Governo qualificado
O bom desempenho educacional do país é resultado da combinação de alguns fatores fundamentais, como uma burocracia governamental formada nas melhores universidades do mundo, com uma missão bem definida: transformar Cingapura, ex-colônia britânica, em um dos países mais ricos, desenvolvidos e educados do mundo.
"As mentes mais brilhantes em Cingapura são as que dirigem o governo, e isso faz uma grande diferença", afirma à BBC News Brasil o professor Clive Dimmock, da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, que foi convidado pelo Instituto National de Educação (NIE, na sigla em inglês) para orientar um programa sobre liderança e a relação entre ensinar e aprender.
Professores qualificados
Outra peça fundamental para o sucesso de Cingapura é a alta qualificação dos professores, de acordo com Dimmock.
Diferentemente do que acontece no Brasil, a educação cingapuriana atrai os melhores alunos recém-graduados nas universidades. Uma das razões é o salário. Um professor no país ganha o equivalente a um profissional da indústria ou do setor bancário. A remuneração varia de acordo com sua formação e o tempo de trabalho.
A média inicial varia entre 1,6 mil dólares de Cingapura (R$ 4,8 mil) a 3,5 mil (R$ 10,5 mil). Bônus por desempenho em sala de aula são parte dos incentivos que mantêm a elite pedagógica trabalhando 9 horas por dia, inclusive com horas extras nos finais de semana.
A Educação é parte fundamental do motor de desenvolvimento do país. Cerca de 20% do orçamento total do Estado é destinado à Educação. "Nenhum dinheiro é poupado nas instalações de treinamento, então eles têm tecnologia, laboratórios, ótimas instalações e um modelo instrucional com excelentes livros", afirma Dimmock.
Para unificar o metódo e a busca pela excelência, todos os professores passam por um mesmo centro de formação do NIE, o braço executor do Ministério de Educação.
Razões culturais e políticas facilitam a organização de um sistema hierarquizado. A formação permanente dos professores também é uma prioridade. Anualmente, cada professor deve participar de ao menos 100 horas de atividades extras que inclui formação, participação em seminários e em grupos de professores para compartilhar experiências e testar novos métodos.
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