Exatamente às 20h22, horário de
Brasília, do dia 21, terá início o verão 2018/2019 no Hemisfério Sul,
que promete ser mais quente e chuvoso do que o anterior. De acordo com
prognósticos do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC-Inpe) e do Instituto
Nacional de Meteorologia, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Inmet-Mapa), a temperatura média em todo o Brasil no
trimestre dezembro, janeiro, fevereiro deverá superar os 31.5ºC
registrados no mesmo período de 2017/2018.
A explicação para isso, segundo a climatologista
Alice Macedo, do Grupo de Previsão Climática do CPTEC, está na
ocorrência do fenômeno El Niño, que também vai causar alterações no
regime pluviométrico em boa parte do país.
"Embora desta vez ele
esteja classificado como de intensidade de fraca a moderada, é
característico dele que eleve a temperatura do Brasil", explica. "O El
Niño também está envolvido no aumento de chuvas em algumas regiões e
diminuição em outras."
O El Niño - Oscilação Sul (ENOS), seu nome completo, é um
fenômeno natural, que ocorre a intervalos irregulares, que podem variar
de 2 a 7 anos, com duração de seis a 18 meses. Ele é causado pelo
aquecimento acima do normal das águas do Oceano Pacífico à altura da
linha do Equador, entre as costas oeste da América do Sul e leste da
Oceania.
O resultado disso é sentido em todo o mundo, com secas
mais intensas em algumas partes, como, por exemplo, Austrália,
Filipinas, Equador e regiões Norte e Nordeste do Brasil, e chuvas
torrenciais e inundações em outros, como no sul país e no México e
Estados Unidos.
Além
disso, os verões e primaveras podem ser mais quentes em regiões como o
Sudeste brasileiro e os invernos mais intensos em outras, como a Europa,
os furacões mais moderados no Atlântico e os ciclones mais fortes no
Pacífico. O último El Niño ocorreu entre o final de 2015 e início de
2016 e foi um dos mais intensos já registrado, desde que o fenômeno
começou a ser monitorado em 1950.
Sinais do El Niño
Hoje (19/12), o Inmet divulgou seu Prognóstico
Climático de Verão, com as previsões para a estação que começa na
sexta-feira. Segundo o Instituto, o aumento da temperatura da superfície
do mar no oceano Pacífico Equatorial começou no final de junho, exceto
na região mais próxima da América do Sul. Ou seja, a porção mais central
daquele oceano esteve mais quente nos últimos meses.
Durante as
primeiras semanas de novembro, no entanto, houve uma expansão de águas
com temperaturas mais altas em toda faixa equatorial do Pacífico, o que
indica o surgimento do El Niño.
Ainda de acordo com a nota técnica
do Inmet, a maioria dos modelos dinâmicos e estatísticos, gerados pelos
principais centros internacionais de meteorologia, indicam uma
probabilidade superior a 96% de ocorrência de um novo El Niño. Isso
significa que é praticamente certo que o verão que se inicia vai ser
influenciado pelo fenômeno.
Além do El Niño, outros fatores
também podem ter impacto no regime de chuvas no país, segundo o Inmet.
Entre eles estão a temperatura na superfície do oceano Atlântico
Sudoeste, na costa da Argentina e Uruguai - que está acima da média - e o
Atlântico Subtropical, próximo ao litoral do Nordeste.
O Oceano
Atlântico Norte, por sua vez, estará passando de uma fase quente para
uma fria, fenômeno chamado de Oscilação Multidecadal do Atlântico (OMA),
o que poderá aumentar as precipitações no norte do Nordeste nos
próximos meses e anos.
Particularidades regionais
As
previsões do Inmet apontam também que as temperaturas ficarão acima das
médias do verão anterior em todas as cinco regiões do país, com algumas
diferenças entre estados.
No Nordeste, por exemplo, serão mais
altas no Maranhão, centro e sul do Piauí, sul do Ceará e no oeste de
Pernambuco. Já no Centro-Oeste fará mais calor no Mato Grosso do Sul,
norte do Mato Grosso e sul de Goiás. No Sudeste, as temperaturas deverão
variar de normal a acima do normal em toda a região.
No caso da
Região Sul, elas devem ficar um pouco acima da média em praticamente
toda a região, com exceção apenas do sul do Rio Grande do Sul, onde
podem ficar dentro da normalidade.
Quanto às chuvas, as previsões
do Inmet indicam que a variação será maior que as temperaturas entre as
regiões. Uma das mais acentuadas ocorrerá na Região Norte, onde haverá
áreas com precipitações dentro, acima ou abaixo do normal. Elas devem
ser superiores à média em Tocantins, grande parte do Amapá e de Roraima,
além do oeste e sul do Pará e sul do Acre e Rondônia. No Amazonas, deve
chover um pouco menos do que de costume, com exceção apenas do leste do
estado.
As previsões para o Nordeste indicam que haverá
predomínio de áreas com maior probabilidade de chuvas acima da média na
Bahia, litoral de Alagoas até o Rio Grande do Norte e no sul do Piauí e
do Maranhão. Nas demais, as chuvas ficarão próximas ao normal ou
ligeiramente abaixo. No Centro-Oeste, por sua vez, as precipitações
deverão ficar dentro do de costume ou ligeiramente acima em toda a
região, exceto no sul do Mato Grosso do Sul, onde elas serão mais
próximas à média ou um pouco menos
No caso da região Sudeste, a previsão para os
próximos três meses é de chuvas variando de normal a ligeiramente acima
em grande parte de Minas Gerais, no centro-norte do Espírito Santo e no
centro de São Paulo. No Rio de Janeiro elas deverão ficar abaixo da
média. Tempestades, normais durante o verão na região, não estão
descartadas. Na Região Sul, deverá chover mais do que de costume no sul,
centro e oeste do Rio Grande do Sul, leste de Santa Catarina e no norte
do Paraná. Nas demais áreas, as chuvas ficarão na média ou um pouco
abaixo.
Para os meteorologistas não se pode ligar essas previsões de um verão mais quente e chuvoso com as mudanças climáticas
e o aquecimento global. "É muito complicado associarmos um verão
isolado com esses fenômenos", diz Priscila Pereira Coltri, diretora
associada do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
"Embora
um dos padrões descritos para as mudanças climáticas sejam eventos
extremos mais intensos, não podemos afirmar cientificamente que esse
verão será de um jeito ou de outro por causa das mudanças climáticas
globais. Elas são um assunto mais abrangente, que exige mais estudos."(BBCBrasil)
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